(2011/298) A "língua comprida demais" na Internet - ou "quer dizer que no privado pode?"

1. Peroratio não é um quiosque de quermesse, onde se trocam beijos por donativos. Peroratio é blog de análise. Eventualmente, análises erradas, burras, mequetrefes, mas não está aqui para afagar o ego de ninguém. Todavia, Peroratio procura seguir algumas regras do discurso público: "sem ofensas a quem quer que seja". Criticam-se idéias, e não pessoas.

2. A Internet é fogo! E o pior é quando a gente se acostuma, e passa a fazer nela o que faz fora dela - passa a fazer publicamente o que, eventualmente, faz no mundo menor de nossa realidade próxima.

3. Dois casos emblemáticos de como é perigoso ter língua de trapo no mundo público. De um lado, Ed Motta, que andou escrevendo no facebook e no twitter que é o cara, que Paulo Toller é uma porcaria, mas bonita, que Caetano e meia dúzia são ruins de dar dó, mas que ele é o cara, que o sul é civilizado, São Paulo, também, mas o resto é fim de mundo, e que ele é o cara, e que quem não quer ouvir o que ele tem pra dizer nem entre na sua rede, porque ele é um ser superior... Acreditem: melhor, vão atrás da informação: ele disse isso tudo. Aí, veio à tona que ele estava falando para milhares de pessoas... aí ficou nervoso, pediu desculpas: "se eu soubesse que estava falando para tanta gente... achei que era só para meus amigos". Quer dizer: no privado, pode?

4. O mesmo caso do cineasta dinamarquês em Cannes, dessa vez, numa entrevista. Lars von Trier fez brincadeira com Hitler, dizendo-se simpático e coisa e tal, e, quando soube disso, Cannes proibiu-o de participar do evento, e ainda o tomou como persona non grata. Como era de se esperar, o cineasta mostra-se arrependido, e pede desculpas por ter ofendido a quem quer que seja...

5. Moral da história: talvez seja o caso de a gente se policiar ao falar publicamente, quem sabe, não dizendo coisas que pensamos de fato. Mas talvez fosse menos arriscado desenvolvermos pensamentos menos agressivos, elitistas, preconceituosos. Assim, poderíamos ser sempre nós mesmos, sem medos das janelas...

OSVALDO LUIZ RIBEIRO