domingo, 15 de abril de 2012

(2012/389) De viver simplesmente


1. Vive-se, aprendendo como se vive. Copia-se a vida que se viveu antes - pai, mãe, avós, tios, primos, vizinhos, colegas, gente da TV. Imita-se, repete-se, mimetiza-se, plagia-se, falsifica-se, duplica-se. Antigamente, mimeógrafos. Hoje, CTRL C.

2. Às vezes, um dia, você aprende a fazer por conta própria - do seu jeito. Terá, claro, sempre um quê daquilo que copiou e apreendeu. Mas, agora, é como se, de alguma forma, mais do que o timão, o próprio mar fosse você mesmo.

3. Às vezes você inventa uma extravagância qualquer, um modo tão diferente de ver e viver que chega às TV e faz fama por algum tempo. Mas, outras vezes, é apenas um jeito seu, diferente, nada extravagante, um jeito que você inventa, sem lantejoulas nem holofotes.

4. Eu acho que inventei um jeito assim. Não é igual ao mundo de onde venho, porque, de um lado, rompi com a teologia que ali se ensina, com o modo que ali se ensina essa teologia, com os passos que ali se dão, com as coisas que ali se dizem. Não leio a cartilha, não faço a taboada, não bebo do vinho.

5. Era natural que se esperasse, então, que se fizesse um caminho comum aos que não fazem assim...

6. Mas, não. Tampouco me interessa a alternativa padrão para esse mundo de améns e benzeções. 

7. Isso deixa algumas pessoas confusas, porque, para muita gente, é a repetição interminável da ladainha que robotiza a mente para a vida pacata e simples.

8. Mas isso é falso - tão falso quanto o ouro dos tolos.

9. É tão comum haver perdição na vida dos santos quanto haver santidade na lama das ruas.

10. É uma grande inverdade pretender que as catedrais santifiquem.

11. Besteira.

12. A minha invenção é recusar o mito de que é o redil que faz as ovelhas.

13. Não, não é. O redil apenas facilita a engorda, a tosquia, a ordenha - o rebanho está próximo das máquinas e das tesouras...

14. Mas não tem nenhuma outra função mais profunda.

15. E minha invenção é essa: romper com o redil e as cercas, mas não para me perder nas pradarias, sem rumo, mas para achar minha grama, minha sombra, meu recanto de tranqüilidade e sossego da alma.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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