quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

(2011/550) Um menino, um casal homossexual, um papo pedagógico, reflexões


1. Estava entediado, não fui ao culto de formatura da Unida, medo da chuva que caía em Jardim da Penha e do lugar desconhecido onde ele ocorreria, meu jogo travou, algo com o servidor, e, então, fui passear pelo facebook. Num post da Claudia Prata, da UFRJ, deparei-me com esse diálogo: um menino, diante, pela primeira vez de um casal homossexual - dois "maridos". Adorável, o vídeo. No final, a naturalidade desconcertante das crianças.


2. Bem, espera-se que a ciência "prove" que a homossexualidade seja determinada, mormente, por fatores biológico-genéticos. Eu penso que sim. Penso que a homossexualidade pode até ser influenciada culturalmente, mas não acredito - não mesmo - que se vá gostar dela, depois de praticá-la, se a causa for apenas cultural. Ao menos não por toda a vida. Gay, mas gay mesmo, para mim, arrisco, vem do útero.

3. Alguns ativistas acham que, quando isso for provado, isto é, quando se souber, definitivamente, a causa genética da homossexualidade, então os religiosos vão, finalmente, parar de usar Deus para maldizer os homossexuais. Duvido!

4. Quando a ciência finalmente provar - e provará - que há uma causa biológica determinante, a religião (cristã, fundamentalmente) dirá que se trata de uma degeneração da criação decorrente do pecado original, e continuará a sua pregação bíblica anti-homossexual. E os crentes continuarão a pensar como pensam hoje. Nenhum argumento muda o coração.

5. Sim, admitamos, é bíblica a proibição de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Isso e, também, que mulheres falem na igreja, que se paguem juros... Você verá mulheres falando em igrejas e todos pagando juros - você é crente, me lê, e a chance de seu cartão de crédito não estar estourado e de você não estar pagando juros astronômicos é muito pequena! E, se você for mulher, essa semana falou trezentas mil palavras na igreja... Mas Deus, isso ele tolera, era "cultura". Homossexualismo, não.

6. Esse será sempre o argumento dos intolerantes - teólogos do próprio umbigo. Não os levo a sério (mas representam perigo potencial). Não sei se levo, hoje, algum teólogo a sério. Melhor dizer que, primeiro, deixem-me ouvi-lo - depois, direi se o levarei a sério. De modo geral, não, não os levo a sério. Nem a eles nem a elas, quando são elas. Se teólogos ou teólogas, primeiro devem provar que não arrastam as correntes de três mil anos, as que lhes interessam...

7. Não é natural, eles dizem. Mas beijam. E, cá entre nós, não me consta que seja "natural" o beijo - ainda que bíblico, mesmo o de língua. O que há de natural em duas línguas se enroscarem uma dentro de outra boca? E, todavia, Cântico dos Cânticos excita-nos com os dois - de boca e de língua. Uma boca feita para comer, talvez, nem falar seja projeto original, inventa de beijar (que delícia!) - invenção cultural.

8. Desde que os primatas humanos deixaram as savanas que sexo não é mais "natural". Natural é a procriação, mas até isso podemos fazer em frasquinhos de vidro. Tanto quanto sexo se pode fazer com bonecas infláveis. No Japão há bonecas sofisticadíssimas - e o futuro as fará praticamente idênticas às humanas. O que quero dizer é que sexo é, para nós, humanos, jogo e diversão. Compreendo a dificuldade de religiosos de o admitirem... Alguns, não podem. Outros, fingem.

9. Todavia, parece que as crianças foram modelo para certa atitude fundamental da fé. Não será que, nesse vídeo, nos deparamos justamente com esse flagrante? Aprender com as crianças a naturalidade das crianças, a inclusão das crianças?

10. Seja como for, estamos, no Brasil, às voltas com o direito de falarmos mal dos homossexuais em nossas igrejas. Direito nosso, alegamos. É, vai ver é. Todavia, há uma corrente ética no Novo Testamento que diz que qualquer um que chama o irmão de louco é réu do inferno, e estamos nós a lutar pelo direito de condenarmos a prática de milhões de pessoas, e isso em nome de culturas de três mil anos. Direito nosso, alegamos. E quantos votos isso não dá?!

11. Dois mil anos de Cristianismo não nos ajudou grande coisa. Estamos há duzentos anos da Revolução Francesa e o Estado Laico. Com 100 anos, as mulheres se libertaram. Talvez mais 100 e seja vez dos gays. Por ora, ainda vale a lógica intolerante da Bíblia - que sempre pode esconder-se sob a capa interesseira de "verdade". Mas verdade bíblica é o que interessa à essa ou àquela igreja - quando desinteressa, vira cultura, como a circuncisão e o véu, ou, para irmos a um extremo, entregar filha ou esposa ao estupro, em lugar do visitante...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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