1. Ele está aí - é quando ele para que tudo acaba: ao menos se com tudo queremos dizer as coisas das quais temos certeza. Depois, eventualmente, é o que (muitos) dizem, vem as coisas do além-do-corpo, as coisas chamadas "do espírito", as coisas "espirituais". São transformadas em coisas tão reais e relevantes que, mesmo no corpo, é das coisas "espirituais" que nos ocupamos...
2. É, todavia, no corpo que vivemos: nascemos dele e com ele. Comemos. Bebemos. Crescemos. Copulamos. Parimos. Trabalhamos. Brincamos. Amamos. Lutamos. Tudo isso é coisa do corpo: mesmo os sonhos dessas coisas - são tudo coisas que o corpo quer fazer. Pense em alguma dessas coisas que se queira fazer... sem o corpo...
3. E, todavia, nunca é o corpo o centro das atenções: é, sempre, a "alma". "Espiritualidade".
4. Mesmo quando queremos falar da terra, enveredamos para as "espiritualidades da terra". É sempre o "espírito", essa hipótese, a se enfiar no meio, a tirar o lugar do concreto, dos sentidos, da carne. É sempre a verborragia espiritualista a afastar os nossos olhos daqui, a lançá-los num além que tudo justifica... Olhai para cima! Para cima! Para muito acima!
5. Viramos o mundo de cabeça para baixo: o real tornou-se prescindível, e o irreal, verdadeiro. A isso se tem chamado "espiritualidade", uma cereja aqui, um glacê ali, algumas jujubas acolá, para enfeitar o bolo, que, todavia, é, sempre, ele, esse bolo espiritual sem dia seguinte...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Olá, Prof.°,
Inspirada pela leitura de seu texto escrevi isso, a que não tenho a pretensão de chamr de poema. Meras elucubrações!
Não é preciso publicar se não estiver coerente. Mas ao menos faça um comentário. Vindo de uma pessoa como você, vale a pena ouvir, seja lá o que for.
Abraços.
Do Espírito
Pronuncio o seu nome,
mas não posso tocá-lo.
Faz-se presença:
comigo contende, diz o crente.
Tanta essência me anima,
sem corpo, já me imagino.
Para que serve o soma,
se subtrair é meu destino?
Entrementes,
não me persuade
o que depois vem.
Em vão me encuco,
me descuido,
me encabulo,
me faço cativa
de uma falsa realeza.
Todavia,
o corpo quer vida
não beleza.
Uma coisa ali,
outra acolá.
Todas as coisas
do lado de lá
importa buscá-las.
Abstrai! Abstrai!
Use a imaginação.
Isto é ser cristão.
O corpo conexo
me adverte.
Que lugar habita?
Em que lugar cogita?
Não é o corpo
única verdade
onde se realiza?
Sem ele, tudo se dissipa.
No corpo de carne,
não no espírito,
o gozo é possível.
Despir-se do corpo
nos torna espírito,
é o que diz a tora.
Lá, meu espectro fita
o corpo apodrecido,
iludido mundo chora.
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