quinta-feira, 20 de outubro de 2011

(2011/501) Da linguagem, quando reduzido o "homem" a isso


1. Sim, a linguagem é um elemento fundamental do "homem", seja esse o homem enquanto conceito antropológico-filosófico, seja esse o homem da rua, o homem comum, de carne e osso. Quem o negará? Mas, cá entre nós, o "homem" está reduzido a isso?

2. Se eu acreditar que o homem está reduzido à linguagem, e que o que há fora dela, fora está da mão humana, ou, dito de outro modo, que para o homem há o que há na linguagem, o que entra nela, e enquanto e como entra nela, então terei de admitir que:

a) o homem não é mais um animal, não é mais biológico, não é mais natural, mas arrancou-se da bios, da natureza - os animais, sim, vivem no mundo natural, lidam com o real, com a matéria, com a coisa hilética que se come e defeca, mas o homem, não, ele é espectro linguístico, que, todavia, ai, ai, come e defeca...

b) o homem surdo, mudo, cego, não é mais homem - o deficiente visual, auditivo, o que não fala, a quem falta a linguagem, não é mais homem, no sentido de que lhe falta, então, a porta do mundo humano: mas, eis um problema, ele volta à natureza, é biológico de novo, de tal sorte que quem defende a idéia, a meu ver absurda, de que a linguagem rouba o homem de sua natural inserção na matéria, diz, ao mesmo tempo, que o homem não é mais dado ao concreto dos átomos?...

3. Há algo de muito errado nessa tendência hiper-logicizante... Mas o que será? Talvez um "encosto" teológico, a levar a sério demais as teologias de criação, e a considerar, demiurgo, que o homem criou, literalmente, na linguagem, o mundo, antes que, mundo feito, daí veio essa senhora também humana, mas, acima de tudo, filha desse mundo que ela mesma, agora, encara...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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