segunda-feira, 20 de junho de 2011

(2011/374) Educação e senso comum


1. Um livrinho muito interessante, com o qual eu tenho alguns problemas, é Filosofia da Ciência, de Rubem Alves. Meu olhar está acostumado a ver os problemas com mais acuidade do que as virtudes, e isso me custa, algumas vezes, que me acusem de ver coisas que não existem. Quem sabe? Todavia, me parece que o livrinho de Rubem Alves deixa revelar uma certa rusga entre o filósofo e as ciências duras, que, em cada página, são reduzidas à quase a mesma coisa que o senso comum.

2. Não, não é que Rubem Alves diga que ciência e senso comum são a mesma coisa. Ele até o diz de outro modo, afirmando que a ciência não difere tanto do senso comum, e que um rapazinho de uma tribo africana tem seus palpites sobre a vida e o mundo, da mesma forma como os cientistas têm os seus. Acho um pouquinho demais tratar hipóteses e pesquisas científicas como "palpites", mas, é meu modo de ver a questão, acho que se trata de tentar diminuir um pouco a "arrogância" dos cientistas duros, que olhariam, imagino, para os filósofos, como palpiteiros de tudo...

3. Dermeval Saviani também trata de senso comum, mas, agora, em Pedagogia, e considera que a função - pelo menos uma delas - da Educação é superar, levar o aluno a superar - o senso comum. Com isso concordo em todos os sentidos: o senso comum precisa ser superado, ou não se pratica ciência, filosofia, crítica, o que for.

4. Todavia, não há que se deixar de reconhecer que o senso comum é, também, Educação: não há um senso comum "natural". O que há é essa cultura aqui e agora, e esse processo de ela se infiltrar na cabeça de crianças por meios de imprintings, operados, aí, por pais, familiares, vizinhos, o pessoal da vizinhança, da vila, da cidade, do país até e, em certo sentido, hoje, até do mundo.

5. Quero dizer que o senso comum não é congênito - é adquirido. É ensinado. É transferido para as pessoas por meio de um lento processo que levará mais de uma década. Sim, é verdade - a Educação, considerada, agora, de modo formal, crítico, tem de superar o senso comum. Mas não se trata, jamais, da cultura contra a natureza - talvez até seja o caso do contrário! Trata-se de uma cultura pensada, refletida, controlada, (com)provada, testada, substituir aquela cultura, sim, cultura também, do dia a dia, das tradições, dos modos e jeitos, das cosmovisões, do senso comum, sob o regime do qual o Sol gira sobre nossas cabeças...

6. No fundo, trata-se de deseducar para o senso comum, educando para um nível, um patamar novo de reflexão e cultura. A libertação crítica do senso comum.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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