1. Choro o povo latino, da latina América, do sul, desde sempre pisado e dolorido das botas, dos cascos, das rodas. Choro o povo tingido da cor da terra, povo marrom, povo de chocolate e dor. Choro teus cabelos negros, tua cara redonda, teus olhos de além mar, olhos do gelo, que o gelo trouxe do além, no degelo, choro primitivo da mãe Sibéria. Choro teus pés de calo e pó, teus pés de anchos caminhos e apartadas penedias. Choro.
2. Majestoso, ele voa. Impávido. Mas, no fundo da alma, chora seu povo. Cadê?, ele diz, batendo as asas. Onde?, ele procura. Nas alturas, espirala o vento e sobe, e sobe, e não acha nunca seu povo morto, matado, passado, finado. Nas colunas quentes do ar, ele espera, lentamente, contando os dias...
3. Mas ele é forte. Ele é bravo. Ele sobe às rochas mais altas. E sobrevive. Lá, onde rapina e unhas não agarram a carne, ele sobrevive. Espera silente o seu dia, a sua coluna de vento, a sua redenção, o dia em que hás de dar-te ao mundo, também teu, de pôr teus pés nas terras que te lavaram de lágrima, de sal, de dor...
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