1. Nascemos em cidades gigantes. E não morremos por isso. Temos tratamento de esgoto (onde o temos!), de água. Temos luz. Temos gás. Recebemos um mundo feito por outros, para nós, e nem nos damos conta disso. Nem somos gratos por isso. Não ensinamos isso. Não aprendemos isso. A cidadania vai de mal a pior, e o conhecimento histórico de como criamos esses mundos fantásticos, pior ainda. É como se fosse obrigação da vida nos dar isso - mas, é certo, não fora a multidão dos antepassados, rastejaríamos, ao nascer, na merda do mundo...
2. O caso das epidemias de cólera na Londres de 1854 é sintomático. Uma cidade em que 2,5 milhões de pessoas - a maior cidade do mundo, então -, tinha fossas nos porões, e vacas. Lá se despejavam as fezes cotidianas, duras e moles. O fedor insuportável morava ali, e subia. Uma cidade-fossa, uma cidade-fedor. E, no entanto, devido aos esforços e à ciência de um engenheiro multidisciplinar - John Snow -, inventou-se um modo de viver em megacidades.
3. Achava-se que cólera se pegava pelo cheiro fétido do ar. Pudera! Achou-se por bem, então, jogar as fezes novas e velhas no rio. Ah, a estupidez humana! Mais mortes, enquanto Snow gritava que a causa era a água. Não lhe deram atenção.
4. Até que, num surto particularmente violento, ele fez um mapa, com a bomba assassina no meio, e retângulos negros de morte à roda - mais de 10 mil mortos. Em 1866, começou-se a construir os esgotos londrinos. Um novo mundo nascia, vinha à luz, cavado na terra, no chão, pelas mãos de nossos antepassados. E o que sabemos disso? E que valor damos a isso?
5. Eu amo pesquisa. Amo ciência. Rio (de aborrecimento!) dos filósofos pós-modernos contra-científicos, fantasmáticos, lingüísticos, gostam de se chamam, pragmáticos, se dizem, entre uma baforada e outra, e três doses de destilado, que dormem em camas acolchoadas, em ambientes refrigerados ou aquecidos, com eletricidade, que andam de automóveis modernos e aviões de 10.000 metros, que fazem conferências à distância por meio de transmissão via-satélite e pedem pizza por celulares de mil dólares, enquanto apreciam imagens lúdicas em tablets da moda. Cínicos! Lutem por um mundo melhor, pois sim, mas não cuspam no prato em que comem, rapazes!
6. Com vocês, acima, o famoso mapa de Londres, de John Snow. E, abaixo, Steven Johnson, para contar essa história. Nossa história.
2. O caso das epidemias de cólera na Londres de 1854 é sintomático. Uma cidade em que 2,5 milhões de pessoas - a maior cidade do mundo, então -, tinha fossas nos porões, e vacas. Lá se despejavam as fezes cotidianas, duras e moles. O fedor insuportável morava ali, e subia. Uma cidade-fossa, uma cidade-fedor. E, no entanto, devido aos esforços e à ciência de um engenheiro multidisciplinar - John Snow -, inventou-se um modo de viver em megacidades.
3. Achava-se que cólera se pegava pelo cheiro fétido do ar. Pudera! Achou-se por bem, então, jogar as fezes novas e velhas no rio. Ah, a estupidez humana! Mais mortes, enquanto Snow gritava que a causa era a água. Não lhe deram atenção.
4. Até que, num surto particularmente violento, ele fez um mapa, com a bomba assassina no meio, e retângulos negros de morte à roda - mais de 10 mil mortos. Em 1866, começou-se a construir os esgotos londrinos. Um novo mundo nascia, vinha à luz, cavado na terra, no chão, pelas mãos de nossos antepassados. E o que sabemos disso? E que valor damos a isso?
5. Eu amo pesquisa. Amo ciência. Rio (de aborrecimento!) dos filósofos pós-modernos contra-científicos, fantasmáticos, lingüísticos, gostam de se chamam, pragmáticos, se dizem, entre uma baforada e outra, e três doses de destilado, que dormem em camas acolchoadas, em ambientes refrigerados ou aquecidos, com eletricidade, que andam de automóveis modernos e aviões de 10.000 metros, que fazem conferências à distância por meio de transmissão via-satélite e pedem pizza por celulares de mil dólares, enquanto apreciam imagens lúdicas em tablets da moda. Cínicos! Lutem por um mundo melhor, pois sim, mas não cuspam no prato em que comem, rapazes!
6. Com vocês, acima, o famoso mapa de Londres, de John Snow. E, abaixo, Steven Johnson, para contar essa história. Nossa história.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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