1. Abaixo, reproduzo a carta aberta de Ricardo Gondim: foi "convidado" a deixar a Revista Ultimato, depois de 20 anos. Por quê? Porque assume um comportamento republicano - ativamente republicano! - diante da questão legal/cultural homoafetiva. Não pode, pastor! Mesmo se concordar, tem que jogar o jogo, fazer de conta que não, entende?, tem de fingir, homem de Deus! Se houvesse um detector de cinismo e hipocrisia, ninguém ouviria um sermão mais, de tanto barulho a sirene faria na hora dos cultos... Mas não tem... O pecado, pastor, não é ter sua posição - é declará-la! Põe a nu o mundo todo...
2. Escrevam aí: a) há 2,5 mil anos, Deus era ao mesmo tempo bom e mau, ora fazia o que era bom (depois, chamamos isso de bem) e ora fazia o que era mau (depois, chamamos isso de mal) (Is 45,7). Por causa dos persas, eu diria, os judeus deram umas aulas de moral para Yahweh, e, desde então, ele passou a fazer só o que era bom, e os judeus arrumaram um, depois, bilhões, de diabos para explicar o mau. Até Jesus aprendeu que Deus era bom... Marcião, inclusive, não conseguia mais reconhecer o Deus do Antigo Testamento, Yahweh, no Deus de Jesus - aquele, "mau", este, "bom"...
2. B) Desde essa época, mais ou menos, Deus não gostava muito de mulher - ser inferior, "maldito", por maldição divina subordinada ao seu "homem"... Mas Yahweh tinha inventado a procriação pelo famoso "crescei e multiplicai-vos", não dava pra voltar atrás, de modo que acabou resolvendo a questão tornando a mulher mercadoria de machos. Ontem, todavia, depois das Repúblicas, Deus passou a gostar delas, porque ganharam cidadania, e, hoje, até as trata com alguma decência. Estuda-se a suspensão da maldição, ouvi dizer...
3. C) Até há pouco tempo, Deus detestava tanto os pretos que lhes faltava com a alma. Aí, inventaram os homens de libertar os pretos, e Deus lhes deu almas cristianíssimas - um deles teve até um sonho!... Outro, agora, ocupa o Olimpo dos evangélicos, assentado na cabeça da água real!
4. D) Pois, agora, não duvidem, dentro de 20, 50 anos, não acho que demore mais do que isso, Deus vai passar a gostar e muito de homossexuais, tanto quanto gosta de héteros. Quem hoje segue o "gosto" de Deus, agora, lá no céu, então, vai sentir asco de Deus, e passar a eternidade a pensar como Deus pode gostar de "gente assim", da mesma forma como lá estão judeus/cristãos horrorizados que Deus fale com mulher e ordene pretos ao ministério: ou vocês acham que, para todo mundo, há necessariamente cura? Há nada - alguns morrerão empedernidos. Todavia, Deus, não: Deus a gente molda rapidinho... Para desgosto da Ultimato e de seus leitores... Se bem que, no dia em que Deus passar a gostar de homos e de héteros, indistintamente, a Ultimato recontrata Gondim... Duvidam?
Despeço-me da Revista Ultimato
Ricardo Gondim
Após quase vinte anos, fui convidado a “des-continuar” minha coluna na revista Ultimato. Nesta semana, recebi a visita de Elben Lenz Cesar, Marcos Bomtempo e Klênia Fassoni em meu escritório, que me deram a notícia de que não mais escreverei para a Ultimato. Nessa tarde, encerrou-se um relacionamento que, ao longo de todos esses anos, me estimulou a dividir o coração com os leitores desta boa revista. Cada texto que redigi nasceu de minhas entranhas apaixonadas.
Fui devidamente alertado pelo rev. Elben de que meus posicionamentos expostos para a revista Carta Capital trariam ainda maior tensão para a Ultimato. Respeito o corpo editorial da Ultimato por não se sentir confortável com a minha posição sobre os direitos civis dos homossexuais. Todavia, reafirmo minhas palavras: em um estado laico, a lei não pode marginalizar, excluir ou distinguir como devassos, promíscuos ou pecadores, homens e mulheres que se declaram homoafetivos e buscam constituir relacionamentos estáveis. Minhas convicções teológicas ou pessoais não podem intervir no ordenamento das leis.
O reverendo Elben Lenz Cesar, por quem tenho a maior estima, profundo respeito e eterna gratidão, acrescentou que discordava também sobre minha afirmação ao jornalista de que “Deus não está no controle”. Ressalto, jamais escondi minha fé no Deus que é amor e nos corolários que faço: amor e controle se contradizem. De fato, nunca aceitei a doutrina da providência como explicitada pelo calvinismo e não consigo encaixar no decreto divino: Auschwitz, Ruanda ou Realengo. Não há espaço em minhas reflexões para uma “vontade permissiva” de Deus que torne necessário o orgasmo do pedófilo ou a crueldade genocida.
Por último, a Klênia Fassoni advertiu-me de que meus Tweets, somados a outros textos que postei em meu site, deixam a ideia de que sou tempestivo e inconsequente no que comunico. Falou que a minha resposta à Carta Capital sobre a condição das igrejas na Europa passa a sensação de que sou “humanista”. Sobre meu “humanismo”, sequer desejo reagir. Acolho, porém, a recomendação da Klênia sobre minha inconsequência. Peço perdão a todos os que me leram ao longo dos anos. Quaisquer desvarios e irresponsabilidades que tenham brotado de minha pena não foram intencionais. Meu único desejo ao escrever, repito, foi enriquecer, exortar e desafiar possíveis leitores.
Resta-me agradecer à revista Ultimato por todos os anos em que caminhamos juntos. Um pedaço de minha história está amputada. Mas a própria Bíblia avisa que há tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Meu amor e meu respeito pela família do rev. Elben, que compõe o corpo editorial da Ultimato, não diminuíram em nada.
Continuarei a escrever em outros veículos e a pastorear minha igreja com a mesma paixão que me motivou há 34 anos.
Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria
20-05-11
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. editado às 17:30 de 23/05.
2 comentários:
Pelo que entendi, a Ultimato é obrigada a ter em b corpo editorial, articulistas com os quais ela não concorda... Ah, sim, faz muito sentido...
O "óbvio" você já entendeu. Agora é dar tempo ao tempo a ver se entende o restante. Ah, e não entendi o "b" em negrito.
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