1. Um tribunal iraniano concedeu o direito a Ameneh Bahrami ser vingada pelo regime de "olho por olho". Porque - e com razão, pelo visto! - ela se recusou a casar com ele, uma besta-humana, um crápula desgraçado, um demônio, um miserável de um infeliz de um canalha, jogou ácido no rosto dela - desfigurou-a e a cegou. Ela entrou na justiça, e pediu vingança - direito de vê-lo cego. Ganhou.
2. O tribunal vai cegar o sujeito... Mas vejam vocês quanta humanidade: ele será posto para dormir, e pingarão gotas de ácido em seu olho. Quando acordar, estará cego... De um olho...
3. E os ativistas de direitos humanos alegam que a pena é desumana... Meus sais! Que tal cestas básicas para ele, ah?
4. Não vou discutir aqui. Estou tomado de indignação demais para ser lúcido - chego a pensar nessa turma dos DH (do texto!, por favor) como um bando de alienados filosóficos...
5. Mas a coisa é mais séria. De cara, não considero que o sujeito-monstro vá receber olho por olho. Para o ser, ela devia ter o direito de jogar ácido na cara dele, e ele ter a obrigação de ser desfigurado e sofrer tudo o que ela sofreu. Não: racionalizaram a lei do talião, e ele vai dormir no inferno... Estará cego, quando acordar, mas não é lá tão mal assim: terá o outro olho: e a cara que tinha...
6. Não vejo como cegá-lo mudará a situação da pobre e desgraçada mulher: está desfigurada. O castigo não lhe traz nada, senão uma sensação de vingança. E o perdão, o que traria? Poderia ela olhar no espelho, ver-se tal qual está, e fazer de conta que está tudo bem - oh, que pessoa boa eu sou, perdoei um desgraçado!... Não, nem perdão, nem castigo, nada mudará aquele acontecimento, e sua tragédia embutida...
7. A evolução, a sofisticação do direito não muda as coisas: apenas as sentenças se adaptam aos tempos, às culturas. Questão difícil... Mas eu acho que o tribunal foi até muito humano - ao contrário do que os ativistas dos DH gralham na porta da justiça. Muito humano. Vão pôr o cabra pra dormir... Ela, gritou e gritará até à morte aquele dia infeliz. E, se o corpo não tem jeito, a alma finge que está bem, assim. Vingada!, vai ela fingindo pela vida;;;
8. Ela vai acordar amanhã, ele cego, e vai ver que nada mudou para ela... Nem para a sua alma.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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