sábado, 14 de maio de 2011

(2011/283) "Com negros, pode" - ou do poder de reação das minorias sob preconceito e discriminação e da estratégia de quem quer impunidade


por Erick Magalhães

Em 2009, em seu twitter, Gentili escreveu: King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?
A crítica aos relacionamentos dos jogadores de futebol talvez até tenha alguma relevância, mas o modo de fazê-la foi extremamente inadequado, na medida em que ficou nas entrelinhas a associação entre negros e macacos.

Assim, como não poderia ser diferente, as reações da comunidade negra vieram. O resultado? Um pedido de desculpas como fez agora no lamentável episódio envolvendo a comunidade judaica? Muito longe disso! A resposta, no mesmo twitter, foi: Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco.
Isto é, Gentili, no alto de sua insensibilidade com as minorias, não vê motivo para uma raça sentir-se incomodada com a alcunha de macaco. E não teria mesmo, pois não nada há de intrinsecamente mal nos macacos, não fosse a carga discriminatória que há por trás da expressão que tenta caracterizar os negros como uma raça menos evoluída como seriam os nossos ancestrais macacos, ancestralidade que só existe numa leitura apressada da evolução darwiniana.

Aliás, a tese de que os negros eram uma raça inferior esteve em moda no final do século XIX e início do século XX. Some-se a isso o quadro de opressão pelo qual passou os descendentes dos escravos que vieram da África ao Brasil, que, ainda hoje, é responsável por uma estrutura de desigualdade vergonhosa, de modo que os negros são vítimas de forte discriminação em muitas ocasiões do cotidiano. Nesse contexto, não querer ser chamado de macaco certamente não é pedir demais.

Mas, e depois, quais os resultados da pressão popular e atuação dos órgãos de controle, como o Ministério Público? Simplesmente nenhuma, nem um daqueles pedidos de desculpa “pró forma”, como o prestado por Bóris Casoy em outro caso igualmente lamentável. O caso simplesmente foi esquecido.

Desse modo, sentindo-se livre para continuar a destilar, senão seu preconceito, no mínimo, sua incontinência de humor discriminatório, Danilo parte para a comunidade judaica, ao criticar – com aparente razão – a pressão dos moradores de Higienopólis contra a instalação de uma estação de metrô no bairro que atrairia “gente diferenciada”. Novamente pecou no modo como fez a crítica, ao responder preconceito com mais preconceito.

Mas cometeu um grande erro o inteligente e competente Danilo – e o elogio é feito sem nenhuma ironia – ao achar que a comunidade judaica no Brasil seria tão desamparada quanto a comunidade negra.
A reação foi fortíssima, Danilo retirou o post e, pela primeira vez que já vi, fez um pedido de desculpas sem nenhuma gracinha. Até mesmo a Tv Band se manifestou repudiando a declaração do comediante e solidarizando-se com a comunidade judaica.

Sem dúvidas, uma pequena lição de reação a comentários de mal gosto. O triste é que as demais minorias estão muito distantes de ter a mesma capacidade de pressão da comunidade judaica e, mesmo, o seu poder econômico.

Assim, pensando numa perspectiva estratégica, o erro de Gentili não foi a piada ou o preconceito, mas ter escolhido o grupo errado. Fica a dica: antes de agredir, verifique o poder de pressão do grupo. Se for daqueles que não granjeiam a simpatia dos donos de emissora, da imprensa e dos órgãos de controle, vá em frente.

*Erick Magalhães, estudante de Direito, Salvador – BA




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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