1. No Rio é assim, também. A Zona Sul é a área nobre da cidade. Lá, tudo é mil-maravilhas. Lá, a Prefeitura e o Estado estão presentes. Há de tudo - educação, saúde, lazer, cultura, arborização, asfalto, saneamento. Primeiro mundo, digamos assim.
2. Sai daí. Vai para o Centro, Zona Oeste, vai para a fronteira entre a Cidade do Rio de Janeiro e a Baixada, mas, ainda, Cidade do Rio de Janeiro, isto é, Pavuna, por exemplo - Deus do céu! Pavuna é o fim do mundo, terra largada do poder público: lixo, sujeira, desasfalto, um lugar feio de dar dó, e, todavia, é a mesma cidade...
3. No Rio, essas coisas estão um pouco mais distantes. Você pode ficar na Zona Sul, um turista, por exemplo, e nunca dar de cara com o abandono público dos bairros fora da zona nobre. É que o Rio é uma capital um pouquinho grande - dá pra esconder o abandono...
4. Em Vitória, não. Quando você entra na cidade, vindo do Sul, dá de cara com o abandono: trata-se da periferia. Não é um cartão postal agradável. Lembra São João de Meriti, na Baixada - uma cidade pobre, sem recursos, com uma ambientação muito ruim, feia, mesmo, muitas léguas distante da cosmética Zona Sul.
5. Aí, você passa pela Rodoviária, cruza o centro - parece que tem 100 metros! - e começa a entrar na área "nobre", assim, coisa de cinco minutos. Aí, você, que conhece a Zona Sul do Rio de Janeiro, começa a se lembrar da diferença entre Barra, de um lado, e Pavuna - só que, da Barra à Pavuna, você vai levar uns 40 minutos - se não pegar engarrafamento. Aqui, da periferia à zona nobre, é sete minutos. É aviltante a diferença...
6. Resido num bom bairro - Jardim da Penha. Estou a meio caminho do UFES e da orla - toda iluminada, calçadão, ciclovia, árvores, policiamento, gente bonita... Mas não posso sentir-me feliz. Não, não posso. Há dez minutos de distância, os benefícios ecossistêmicos de que disponho, porque estou na região de classe média, são negados a cidadãos com os mesmos direitos que eu.
7. É triste isso. E o mais triste é o mecanismo que mantém esse estado de coisas: quanto mais nobre a região, quanto mais influentes seus moradores, mais recursos e atenção são capitaneados para aí - e tanto mais abandonada vai ficando a periferia. Um país não pode crescer com esse câncer.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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