terça-feira, 8 de março de 2011

(2011/146) De uma "geografia" do desenvolvimento: porque não temos massa crítica


1. Talvez haja alguma relação entre as fronterias do Império Romano e aquela que hoje separa os países de tradição católica dos países de tradição protestante. O norte europeu é protestante - o sul, católico. Pois não?

2. Weber defendeu a tese de que a riqueza dos países protestantes derive de sua ética do trabalho - cá entre nós: ética?, Marx que o diga! Mas entendemos o que o sociólogo queria dizer: a presença topográfica, regional, de um discurso, o qual reverbera nas camadas mais profundas do estamento social e produz aí seus efeitos. O fato de que os donos do trabalho haveriam de enriquecer à custa dos operários, explorando-os quase como a escravos, isso fica para outro dia (a Universal talvez chegue a promover entre nós um bolsão de prosperidade, dada sua plataforma teológica programática - e, todavia, isso ainda terá sido um efeito eventualmente bom de uma prática fundamentalmente condenável).

3. Foi preciso muito tempo até que o protestantismo redundasse em Revolução Francesa: 300 anos. Aquele caldo de discursos flutuando sobre a sociedade, reações e contra-reações para todos os lados, um dia, bum!, explode a sua inspiração democrática... ou burguesa: um sistema onde o novo capital dê as cartas, pois não?

4. Termos um problema no Brasil. Nós não temos massa crítica. Não tenho certeza se passaremos um dia pelas transformações próprias da Europa. Quando digo que não temos massa crítica, é que a pesquisa, a ciência, a autonomia, os valores "protestantes" não estão encarnados na sociedade - são outros valores que lá estão: e não se trata de um juízo de valor - apenas de uma constatação - se ela se revelar correta. Saltamos de um catolicismo místico para um evangelicalismo pior ainda - não formaremos, desse jeito, massa crítica...

5. Cheguei a essa reflexão pensando em meu próprio deslocamento geográfico. Meu pensamento teológico não faz parte desse chão, nem mesmo o da Europa atual - onde a Teologia que há é a de Moltmann e Pannenberg, de resto, barthianas. Sou um desterrado da Teologia, fora de seu chão, fora de sua terra. Dificilmente encontrarei concidadãos. Já não sei mais se isso é ruim ou bom...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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