domingo, 20 de fevereiro de 2011

(2011/095) Mas se segurar mesmo em quê?


1. Não é (nada) fácil ser protestante e tentar levar o Protestantismo a suas implicações finais. Na maioria das vezes, contenta-se em fazer-se de conta que se é protestante - o que, convenhamos, torna a vida bastante fácil.

2. Por exemplo: finge-se que se é protestante, quando, por interesse, quebra-se a autoridade pastoral de uma comunidade - é mero homem! -, fundando-se outra comunidade. Ah, sim, a quebra da autoridade é a marca fundamental do "ser" protestante. Todavia, o que se constrói, depois da quebra da autoridade, é uma réplica caricata da catedral anterior - tal qual o princípio da homeopatia, de dividir-se a fórmula original em ininterruptas fases, de tal modo que resulta, de um lado, que a coisa nascida da divisão é uma réplica da coisa dividida e, de outro, que é necessariamente muito mais fraca que a matriz...

3. Quando Lutero tirou a autoridade do clero (no que ele estava certo - se pensamos em termos filosóficos), ele tornou imprestável o jogo eclesiástico (o que, em termos políticos, é um desastre). Na prática, a quem se vai "obedecer" - se não ao clero? À Bíblia? Faz-me rir! E quem a interpreta? Só não vou aqui esborrachar-me de tanto rir, porque se trata de coisa séria e perigosa. Mas que é extremamente cômico, é: tira-se, com u'a mão, a autoridade do clero, e põe-se-lhe a autoridade de novo, com a outra... Eis o modus protestante de ser...

4. Tá. Aí, você não "tem mais" o clero. E nem a Bíblia!, porque, se você ensinar a coisa direito, se não fizer o faz-de-conta protestante, chegará à conclusão de que o único modo de a Bíblia ter uma doutrina unívoca é por força de uma comissão normativa e autorizada, à moda dos juízes togados do Direito. Fora isso, esquece. De modo que lá vai o pobre desgraçado do protestante sem eira nem beira.

5. Bem, pode-se sustentar-se na consciência! É verdade, eis aí um valor filosófico inglês - mas, cá entre nós: que garantia segura a consciência dá a alguém? Estamos aqui tentando discutir alguma coisa séria e com seriedade. Não dá para pôr a consciência como fundamento - se não de ações morais. Mas não se trata de ações morais, e sim da questão da verdade...

6. E o que falar da experiência? Não pode a experiência constituir-se em critério? Não posso eu me segurar em minha própria experiência? Bem, isso até seria possível, não fosse toda experiência o resultado de uma interpretação contextualizada, situada. Tudo quanto eu "experimento" não é a coisa em si, mas o que eu interpretei da coisa, conforme eu fui capaz de reproduzi-la em minha consciência.

7. Por esses caminhos, constrói-se tolerância e pluralidade - mas não critérios... E talvez seja para ser assim: cada um na sua... A era Free... Durante o dia a coisa até vai bem, eu acho. Mas quando, de noite, você põe a cabeça no travesseiro, e se pergunta por suas justificativas, seus fundamentos, descobre que primeiro tem que tirar a cabeça do buraco, para, depois, começar a pensar sobre isso...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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