1. Tenho acesso ao artigo de Marcelo Gleiser, na Folha, pelo site do Nassif: Ciência e fé, segundo Marcelo Gleiser. Teólogo e "cientista das religiões" - já que leciono em curso de Mestrado em Ciências das Religiões e tenho formação integral em Teologia, o tema me interessa. Leio o artigo. Não é grande - o que é sempre arriscado, dada a complexidade do tema e a banalização rasteira com que ele é tratado em muitas ocasiões. Não é o caso, ali.
2. Não vou comentar o artigo inteiro. Vou pinçar algumas declarações dele, e comentá-las.
3. "UMA EXCELENTE ILUSTRAÇÃO da intersecção entre a ciência e a religião ocorre quando refletimos sobre o que chamo de "as três origens": a do Universo, a da vida e a da mente (...).
Precisamos conhecer nossas origens. E, desde os primórdios, olhamos para os céus em busca de respostas. Hoje, sabemos que somos aglomerados de poeira estelar dotados de consciência. Para desvendar nossa misteriosa origem, precisamos saber de onde vieram as estrelas, como a matéria não viva se transformou em matéria viva e como essa virou matéria pensante".
3a. Meus amigos - não é por outra razão que eu recomendo ensutisasticamente e não é outro o assunto de O Método, de Edgar Morin. O Método reúne os conhecimento de ponta de um sem número de disciplinas, para organizar um acesso pertinente a essas três questões - origem do Universo, da vida, da mente. Nunca li nada parecido, tanta lucidez... O v. 1 trata da natureza, o 2, da vida, o 3 e o 4, da mente e das idéias, o 5, da humanidade, sob os três enfoques anteriores, e o 6, da Ética. Prioritariamente recomendados, todos.
4. "Será que as três origens podem ser explicadas pela ciência, sem a interferência de entidades sobrenaturais? Em caso afirmativo, religiões baseadas em entidades que existem além das leis naturais teriam que sofrer revisões profundas.
Isso não significa que, caso a ciência venha a entender as três origens, não teremos mais uma conexão espiritual com a natureza. Pelo contrário, a compreensão dos fenômenos naturais, dos mais simples aos mais profundos, deveria apenas fortalecer nossa espiritualidade. A racionalidade e a espiritualidade são aspectos complementares".
4a. Naturalmente que essa declaração depende do que se chamará de espiritualidade. Geisler não conhece - conhece? - os dogmas e a sua força... Não há condições possíveis de a ciência e os dogmas, as crenças religiosas tornadas verdades absolutas, encontrarem conciliação no mesmo sistema epistemológico. A melhor saída inventada foi a República - cada macaco no seu galho. Os dogmas cegam, e a ciência precisa de olhos e de luz... Todavia, se com espiritualidade falamos da dimensão do sentido da vida, aí, sim, não há, desde nunca, qualquer incompatibilidade entre ciência e espiritualidade.
5. Agora, um possível ponto de desentendimento: "Religiosos ou não, poucos resistem ao fascínio da criação. As perguntas que fazemos hoje foram já feitas há milênios de anos na savana africana, nas pirâmides do Egito, nas colinas do monte Olimpo e na selva amazônica. O que mudou foi a natureza da explicação".
5a. Perguntas - sobre criação - nas savanas africanas? Não sei... A declaração de Geisler tende a nos fazer julgar que as perguntas com que trabalha - origem do Universo, da vida, da mente - sejam "inatas", patrimônio natural da espécie, o que tenderia a apresentá-las como aquela velha máxima do "espaço vazio" no coração do homem, que só Deus preencheria... Não acredito que as coisas sejam assim.
6. Criação não é nem um conceito inato, nem se trata da mesma pergunta que hoje fazemos. A pergunta pela criação só pode ter surgido depois que o homem tornou-se Homo faber, ou seja, depois que ele mesmo, tendo-se tornado "criador", projetou nas dimensões do imaginário - do Mistério, se preferirem - as suas próprias características. Antes disso, a questão não estava sequer disponível, para ser levantada.
7. Esse me parece um ponto de muita relevância, um ponto delicado, fino, talvez o mais importante para a questão filosófica que envolve a criação - não se trata, com criação, de um tema "inato", natural, ontológica e essencialmente "dado" - trata-se de um tema construído, implicado, conseqüência exclusiva do fato de que os homens criam coisas, e, tendo encontrado, no mundo, depois de se tornarem eles mesmos criadores, não tendo sido elas criadas por eles, esses mesmos homens criadores perguntem-se, automaticamente, que, se não fomos nós que criamos, "Quem" foi?
8. Não é apenas o conteúdo da pergunta que é "humano" - até a sua origem, a sua razão, o seu motor. O que não significa que ela faça qualquer sentido para além da pergunta em que se materializa - não é pelo fato de que o homem cria coisas que o Universo tem de ter sido criado. Ele pode estar aí, infinitamente, passando por infinitas transformações - uma última de cujas teria sido o que conheceços por Big Bang...
2. Não vou comentar o artigo inteiro. Vou pinçar algumas declarações dele, e comentá-las.
3. "UMA EXCELENTE ILUSTRAÇÃO da intersecção entre a ciência e a religião ocorre quando refletimos sobre o que chamo de "as três origens": a do Universo, a da vida e a da mente (...).
Precisamos conhecer nossas origens. E, desde os primórdios, olhamos para os céus em busca de respostas. Hoje, sabemos que somos aglomerados de poeira estelar dotados de consciência. Para desvendar nossa misteriosa origem, precisamos saber de onde vieram as estrelas, como a matéria não viva se transformou em matéria viva e como essa virou matéria pensante".
3a. Meus amigos - não é por outra razão que eu recomendo ensutisasticamente e não é outro o assunto de O Método, de Edgar Morin. O Método reúne os conhecimento de ponta de um sem número de disciplinas, para organizar um acesso pertinente a essas três questões - origem do Universo, da vida, da mente. Nunca li nada parecido, tanta lucidez... O v. 1 trata da natureza, o 2, da vida, o 3 e o 4, da mente e das idéias, o 5, da humanidade, sob os três enfoques anteriores, e o 6, da Ética. Prioritariamente recomendados, todos.
4. "Será que as três origens podem ser explicadas pela ciência, sem a interferência de entidades sobrenaturais? Em caso afirmativo, religiões baseadas em entidades que existem além das leis naturais teriam que sofrer revisões profundas.
Isso não significa que, caso a ciência venha a entender as três origens, não teremos mais uma conexão espiritual com a natureza. Pelo contrário, a compreensão dos fenômenos naturais, dos mais simples aos mais profundos, deveria apenas fortalecer nossa espiritualidade. A racionalidade e a espiritualidade são aspectos complementares".
4a. Naturalmente que essa declaração depende do que se chamará de espiritualidade. Geisler não conhece - conhece? - os dogmas e a sua força... Não há condições possíveis de a ciência e os dogmas, as crenças religiosas tornadas verdades absolutas, encontrarem conciliação no mesmo sistema epistemológico. A melhor saída inventada foi a República - cada macaco no seu galho. Os dogmas cegam, e a ciência precisa de olhos e de luz... Todavia, se com espiritualidade falamos da dimensão do sentido da vida, aí, sim, não há, desde nunca, qualquer incompatibilidade entre ciência e espiritualidade.
5. Agora, um possível ponto de desentendimento: "Religiosos ou não, poucos resistem ao fascínio da criação. As perguntas que fazemos hoje foram já feitas há milênios de anos na savana africana, nas pirâmides do Egito, nas colinas do monte Olimpo e na selva amazônica. O que mudou foi a natureza da explicação".
5a. Perguntas - sobre criação - nas savanas africanas? Não sei... A declaração de Geisler tende a nos fazer julgar que as perguntas com que trabalha - origem do Universo, da vida, da mente - sejam "inatas", patrimônio natural da espécie, o que tenderia a apresentá-las como aquela velha máxima do "espaço vazio" no coração do homem, que só Deus preencheria... Não acredito que as coisas sejam assim.
6. Criação não é nem um conceito inato, nem se trata da mesma pergunta que hoje fazemos. A pergunta pela criação só pode ter surgido depois que o homem tornou-se Homo faber, ou seja, depois que ele mesmo, tendo-se tornado "criador", projetou nas dimensões do imaginário - do Mistério, se preferirem - as suas próprias características. Antes disso, a questão não estava sequer disponível, para ser levantada.
7. Esse me parece um ponto de muita relevância, um ponto delicado, fino, talvez o mais importante para a questão filosófica que envolve a criação - não se trata, com criação, de um tema "inato", natural, ontológica e essencialmente "dado" - trata-se de um tema construído, implicado, conseqüência exclusiva do fato de que os homens criam coisas, e, tendo encontrado, no mundo, depois de se tornarem eles mesmos criadores, não tendo sido elas criadas por eles, esses mesmos homens criadores perguntem-se, automaticamente, que, se não fomos nós que criamos, "Quem" foi?
8. Não é apenas o conteúdo da pergunta que é "humano" - até a sua origem, a sua razão, o seu motor. O que não significa que ela faça qualquer sentido para além da pergunta em que se materializa - não é pelo fato de que o homem cria coisas que o Universo tem de ter sido criado. Ele pode estar aí, infinitamente, passando por infinitas transformações - uma última de cujas teria sido o que conheceços por Big Bang...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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