domingo, 9 de janeiro de 2011

(2011/014) De uma "vantagem" do Catolicismo - as "Ave, Marias!"


1. O Cristianismo clássico (após a Reforma, Catolicismo) "negociou" com toda a bacia do Mediterrâneo - Ísis, Atenas, Ishtar... Maria. Conta-se que a catedral de Éfeso fervia de gente, antes da decisão do Concílio que tomou Maria por "Mãe de Deus". Ter-se-ia tomado a imagem tradicional de Atenas, coberto com um véu, e venerado - Ave, Maria! Não duvido - o mundo inteiro adorava deusas, e, cá entre nós, muito provavelmente eram elas mais chegadas aos homens e às mulheres, no seu dia a dia, do que os grandes deuses. O que a Igreja fez foi providenciar uma "saída" negociada - Maria, por todas elas... Foi um "bom acordo" civilizatório, quem sabe?

2. Mas o Protestantismo recusou-se a "saída". Assim como Asherah fora expulsa, dois mil anos antes, outra vez, agora, Maria, a "deusa" será jogada fora do panteão... E lá se vai o Protestantismo sem deusa alguma, pelo menos, aparentemente, porque a forma idolátrica com que a Bíblia é tratada revela bem que o feminino manteve-se de alguma forma. Todavia, disfarçado, incógnito, patológico, redunda num fundamentalismo idólatra extremamente perigoso. Compreendo por que alguns pesquisadores mais engajados tentam recuperar o feminino na figura do Espírito Santo, "forçando uma barra" danada, eu diria, por meio do recurso ao gênero hebraico de "ruah". É divertido esse esforço, porque revela o constrangedor de uma Teologia que não pode dizer o que deve dizer...

3. Seja como for, o Protestantismo ficará sem as belíssimas Ave, Marias! Eu confesso que me emociono, mas também confesso que é muito mais pela melodia, para isso programada, do que pela teologia que as letras encerram. Passei do tempo de sentir-me tentado pela figura da deusa-Mãe-de-Jesus. Minha crítica teológica vai muito mais profundo do que simplesmente ter escrúpulos pela deusa de metade dos cristãos... Bem mais fundo... Mas a arte, bem, a arte é a arte... E é bastante maduro saber fazer a distinção - mesmo lá, onde distinção, talvez, não haja...

Franz Schubert
Ave Maria Gratia plena Maria Gratia plena Maria Gratia plena Ave, ave dominus Dominus tecum Benedicta tu in mulieribus Et benedictus Et benedictus fructus ventris Ventris tui Jesus Ave Maria Ave Maria Mater dei Ora pro nobis pecatoribus Ora, ora pro nobis Ora ora pro nobis pecatoribus Nunc et in hora mortis In hora mortis nostrae In hora mortis, mortis nostrae In hora mortis nostrae Ave Maria.
Charles Gounod
Ave Maria, gratia plena Dominus tecum Benedicta tu in mulieribus Et benedictus fructus ventri tui Jesus. Sancta Maria Ora pro nobis peccatoribus Nunc et in hora mortis nostrae. Amen.

Charlotte Church
(Charles Gounod)

Mirusia Louwerse
(Franz Schubert)

Andrea Bocelli
(Franz Schubert)


Karen Carpenter - The Carpenters
(Charles Gounod)

Hayley Westenra
(Giulio Caccini - século XVI/XVII)


4. El Greco "converteu-se" da Igreja Ortodoxa para a Católica, porque desejavas pintar - e como pintou! Quanto a mim, não sei cantar, de modo que a razão para deixar o Protestantismo e bater às portas vaticanas dificilmente me encantará um dia. Mas, ah se eu cantasse... Teria nas Ave, Marias! minha mais cara razão... E quando por não mais, ao menos pela memória de minha vó e suas sacrossantíssimas dezoito horas... Chega um dia que depositamos aos pés da memória toda a nossa ortodoxia, porque a saudade é a mãe das heresias...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio