sábado, 4 de dezembro de 2010

(2010/610) Fatos - e não é que Nietzsche acreditava neles?



1. Essa será breve. Corre entre renomados filósofos a afirmação de que Nieztsche ensinara-nos, há cem anos, que não há fatos, só interpretação de fatos. É verdade, que, todavia, essa será a única citação que se lerá no filósofo - o restante das divagações será a interminável ladainha do retorno a esse suposto "fato" (porque, para eles, é "fato" que Nietzsche disse que não há... fatos)... Foi assim que se deu início ao contorno estratégico do "real" nos convesquotes da Filosofia (ou será da Política?).

2. Entretanto - permitam-me uma gargalhada: quiá! qiá! quiá... Bem no final de sua vida consciente, bem antes de mergulhar na loucura, Nietzsche escrevia à sua mãe: "as notícias de Sanremo não têm nada de tranquilizador. Esse sistema de mentiras e de deformação arbitrária dos fatos" (Losurdo, Nietzsche, o rebelde aristocrata, p. 531). "Deformação arbitrária dos fatos" - ora, ora, ora, não se trata apenas de "deformação" dos fatos, mas de "deformação arbitrária"... dos fatos. Os fatos têm, então, sua própria conformação, sua própria essência, sua própria condição, e à ação de tomá-los fora dessa condição Nietzsche dá o nome de "deformação arbitrária". Ou seja - há fatos, que muitos deformam arbitrariamente...

3. Ah, a Filosofia não-fundacional... Ela tem o direito de expressar-se... mas, terá o direito de falsificar a história? Seu afã de desmaterializar o real não será justamente o seu desejo de moldar a história a seu bel prazer? Para mim, essa Filosofia não-fundacional está mais para torcida, assim, como quem torce pelo Flamengo, e, ainda que seu time esteja à beira do rebaixamento, o defende retoricamente como a melhor coisa do planeta... É pura torcida, é puro flagrante do princípio do prazer. E nada mais do que isso.

4. Mas é melhor que o diga um dos seus maiores representantes: “O único sinal de reconhecimento que se pode testemunhar de um pensamento como o de Nietzsche é exatamente usá-lo, deformá-lo, fazê-lo berrar, gritar. Se depois os analistas dizem se somos fiéis ou não, não tem importância alguma. Quem o disse, senhores, foi Foucault, na Microfísica do Poder, p. 135 da versão italiana. (cf. Losurdo, p. 1001). Agora, sim, se entende porque se pode "usar" Nietzsche sem se preocupar sem ser fiel a ele: não tem importância nenhuma.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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