sábado, 9 de outubro de 2010

(2010/492) O judaísmo, logo o cristianismo, conforme os conhecemos, são majoriatariamente... persas


1. Que Grécia coisa nenhuma! O Ocidente cristão tem uma relação tanto quanto patológica - freudiana - com a Grécia, é verdade. Também é verdade que tomamos de lá a prática da racionalização - a racionalidade, bem, a tivemos de inventar mais recentemente, todavia... Uma certa ojeriza ao feminino, o que também não era nada rara, pelo contrário, no judaísmo, marcou-nos religiosamente, desde a Grécia filosófica - ponha-se tainda na conta grega. Acresça-se uma apropriação espúria de um platonismo teológico aplicado ao corpo, resultando no nojo agostiniano do corpo, e eis o conjunto formidável da contribuição grega ao cristianismo e ao Ocidente... Ah, sim, o mais importante, o fantasma dentro do corpo, quero dizer, o que consideramos a alma, grandeza máxima do dualismo corpo x alma que de lá importamos, para desespero de Paulo...

2. Agora, vamos enumerar as contribuições persas. Primeiro as quase indiscutíveis: o caráter "moral" da divindade, o juízo final, a escatologia, a ressurreição do corpo, a saída "demonológica" onipresente no Novo Testamento. Depois, as consideravelmente prováveis - o monoteísmo "ético", o aniconismo (culto sem imagens). Ora, a "história da salvação", na prática, um platonismo recheado das dutrinas judaico-persas, não "funciona" sem esses elementos.

3. Certo que a essa estrutura mais corporal - daí a ressurreição, a Grécia emprestará o conceito de alma, de modo que a escatologia corporal/ressurreicional judaico-persa transforma-se na festa dos fatasmas, mas, de qualquer forma, é da Pérsia que vêm os elementos fundamentais da fé judaico-cristã.

4. Não, a criação não é persa. A criação é uma tradição universal, não absolutamente de todos os povos, é verdade, mas, para efeito de estatística, na prática, universal. Israel apreendeu a doutrina, que, na origem, é bom dizê-lo, não tem nada a ver com o modo como pensamos "criação hoje" (para eles, criação era a construção de seu país e mais nada), a criação é uma tradição, digamos, próximo-oriental. Quando foram conquistados/"salvos" pelos persas, os judeus já tinham sua doutrina de criação - de resto, muito pouco diferente da dos babilônicos, assírios e, agora, persas.

5. O que poderia ser considerada uma novidade judaica é, todavia, a doutrina do sacrifício substitutivo, doutrina importante, porque é sobre ela que a doutrina da salvação em Cristo será elaborada, porque, sem o sacrifício judaico, o substitutivo, isto é, aquele em que os pecados humanos são pagos pela morte do animal, João não poderia ter apresentado Jesus como "o cordeiro de Deus". Todavia, não havia sacrifício substitutivo em Israel, senão após a conquista persa. É no período persa que o templo de Jerusaém "inventará" a prática, por razões que precisam ser ainda adequadamente investigadas.

6. Por essa via de raciocínio, o cristianismo é fundamentalmente judaico - mais do que grego, e o judaísmo é fundamentalmente persa, mais do que qualquer outra coisa. De modo que não se pode deixar de considerar a profunda relação - dívida! - do cristianismo com a Pérsia.

7. De tudo isso, considere-se o seginte: a) ou essas doutrinas todas, originalmente gregas e persas, são, todas, como todas sempre são, puro mito, como qualquer outra coisa, ou b) alternativamente, Deus primeiro as teria revelado aos "pagãos", que, como bons professores, ensinaram-nas aos "eleitos"... Num ou noutro caso, cai por terra toda a empáfia cristã... Haveríamos de ser mais humildes, não?, melhores alunos, ao menos...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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