1. O modo metafórico de nos referirmos aos líderes evangélicos e seus seguidores, pastores e ovelhas, nessa ordem, tem história. Pastor era a metáfora com que se fazia receber a figura do rei em face de sua população. Hamurabe, já há quase dois mil anos antes de Cristo já se dizia grande pastor dos povos. Os reis de Israel são os pastores dos israelitas, os de Judá, dos judaítas. O rei-pastor tem no súdito a sua contraparte de ovelha - a nação é o pasto sob seu cajado...
2. Decerto que a metáfora tende para o lado bom do pastor - aquele que cuida das ovelhas: ainda que para tosquiá-las, é verdade. Mas as ovelhas não opinam, é certo, e ficamos, então, com a metáfora apositivada, como dela se utiliza ao limite o Sl 23. Todavia, os reis, que pastores são, têm presas de leão, já o sabe o Sl 58 - o que é uma perfeita e sarcástica contra-metáfora, porque o salmista apropria-se criticamente da metáfora real e a converte em sua própria crítica: pastores?, mas eles têm presas de leão!, são devoradores de ovelhas!... E disso o sabe melhor ainda o Sl 53...
3. Nas duas últimas semanas, meus olhos contemplaram o poder que tem essa metáfora. As ovelhas portaram-se como se espera delas. Seu vagido, seu balido, seus sininhos de pescoço fizeram-se ouvir, sob a tensão dos cajados pastorais. As eleições de 2010, as presidenciais, serão decididas por eles, pelos cajados e pelas ovelhas, nessa corrida desenfreada de redil e cabresto, de medo e obscurantismo, de mentira e alienação. Não entendo nada de Cristo, mas, do pouco que creio entender, está tomado de náuseas agora.
4. É realmente revelador como a cegueira grassa - e como ela é conveniente aos portadores de cajado. Ainda há de perdurar por muito tempo. Não, certamente, para sempre. Uma vez, ali do outro lado do mar, o cajado foi quebrado a golpes de faca. Não sei se aqui se dará assim tão sangrentemente essa libertação, é mais provável que a coisa se dê de modo mais "natural". Mas ela não durará para sempre. A Idade Média há de passar, um dia, e nunca mais a política de mentira e medo, o encantamento religioso, a chantagem da alienação, a manipulação indecente da simploriedade da fé popular, há de decidir algo neste país. Nesse dia, os pastores morrerão de fome. Aguardo ansiosamente por esse dia. Um dia arrembertar-se-ão os redis nos quais amarraram o pescoço de seu próprio Cristo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Decerto que a metáfora tende para o lado bom do pastor - aquele que cuida das ovelhas: ainda que para tosquiá-las, é verdade. Mas as ovelhas não opinam, é certo, e ficamos, então, com a metáfora apositivada, como dela se utiliza ao limite o Sl 23. Todavia, os reis, que pastores são, têm presas de leão, já o sabe o Sl 58 - o que é uma perfeita e sarcástica contra-metáfora, porque o salmista apropria-se criticamente da metáfora real e a converte em sua própria crítica: pastores?, mas eles têm presas de leão!, são devoradores de ovelhas!... E disso o sabe melhor ainda o Sl 53...
3. Nas duas últimas semanas, meus olhos contemplaram o poder que tem essa metáfora. As ovelhas portaram-se como se espera delas. Seu vagido, seu balido, seus sininhos de pescoço fizeram-se ouvir, sob a tensão dos cajados pastorais. As eleições de 2010, as presidenciais, serão decididas por eles, pelos cajados e pelas ovelhas, nessa corrida desenfreada de redil e cabresto, de medo e obscurantismo, de mentira e alienação. Não entendo nada de Cristo, mas, do pouco que creio entender, está tomado de náuseas agora.
4. É realmente revelador como a cegueira grassa - e como ela é conveniente aos portadores de cajado. Ainda há de perdurar por muito tempo. Não, certamente, para sempre. Uma vez, ali do outro lado do mar, o cajado foi quebrado a golpes de faca. Não sei se aqui se dará assim tão sangrentemente essa libertação, é mais provável que a coisa se dê de modo mais "natural". Mas ela não durará para sempre. A Idade Média há de passar, um dia, e nunca mais a política de mentira e medo, o encantamento religioso, a chantagem da alienação, a manipulação indecente da simploriedade da fé popular, há de decidir algo neste país. Nesse dia, os pastores morrerão de fome. Aguardo ansiosamente por esse dia. Um dia arrembertar-se-ão os redis nos quais amarraram o pescoço de seu próprio Cristo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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