terça-feira, 24 de agosto de 2010

(2010/459) Dos objetos e de sua apreensão pelo homem


1. Eu gosto mesmo é do modo como Charles S. Peirce descreveu os "objetos", o que fez num obra de cem anos - Semiótica. Para Peirce, o modo "humano" de pensar os objetos precisa levar em conta: a) os objetos tais quais eles são em si mesmos (primeiridade), b) os objetos tais quais eles se apresentam à consciência humana (secundidade) e c) a própria consciência humana, apropriante (terceiridade). Estamos já aí diante de ensaios de um pensamento complexo.

2. Agora podemos dar mais um passo. Os objetos se apresentam à consciência humana por meio de três "entradas" pragmáticas: estética, política, heurística. Assim, dependendo do "jogo" com que a consciência apreende determinado objeto, ela, a consciência, o reconfigura nos termos apropriados da pragmática em questão.

3. Por exemplo - uma árvore. Se a contemplo, se a admiro, se me transporto para ela, subjetivamente, e me experimento nesse encontro sublime, místico, essa árvore foi por mim aproriada como objeto estético. Se eu me aproximo, agora, de modo crítico, investigativo, se a estudo, se a pesquiso, se quero saber de sua constituição "dura", botânica, essa mesma árvore - sim, ainda é aquela velha árvore de antes - reconfigura-se, diante de meus olhos, na forma de um novo objeto, agora, objeto heurístico. Agora, se eu me aproximo dessa árvore como fonte econômica de celulose, inserida numa cadeia de produção de papel para fabricação de Bíblias, a mesma velha árvore deixou de ser, para mim, objeto estético, deixou de ser, para mim, objeto heurístico, e comporta-se, agora, em objeto político. O que a árvore seja "em si" nunca está em jogo - o que vem à tona, em todos esses casos, é a forma como ela se configura na minha consci~encia, dependendo do jogo com que a apreendo.

4. Por meio desse raciocínio, percebe-se que não é a árvore em si que muda, mas a minha intencionalidade, meu jogo. É a minha aproximação teleológica, intencional, que faz da árvore, em vista dessa intenção, uma coisa nova - limitada a três estados pragmáticos - a cada vez que me aproximo dela. E isso valerá a árvore, tanto quanto para qualquer coisa, qualquer objeto, inclusive as idéias!, com que lido.

5. Se não nos damos conta disso, abre-se diante de nós uma estrada de equívocos epistemológicos, porque, cuidando falar da mesma coisa, produzimos uma balbúrdia de sons ininteligíveis, porque referentes a coisas absolutamente diferentes. A condição fundamental para a inteligência é a consciência do jogo pragmático em que estamos inseridos.


OSVADO LUIZ RIBEIRO

3 comentários:

Prisca disse...

Olá,
Bom, a aula de ontem né?!
Dormi e acordei pensando na interpretação da vida, de textos, na hermenêuica, e no diálogo escrito e oral.
Quem mais traz esta "perspectiva em três dimensões"? Refiro-me a esta classificação: estética, heurísitica ou política?
Até agora, só vi no seu blog, no seu artigo e o uso das palavras separadamente em alguns textos. Busquei a definição em Abbagnano, no dicionário! Ou seja, pesquisei estas palavras separadamente, mas como classificação de Teopoética somente o senhor... Ok. Este tema é muito novo, você foi o primeiro a pensá-lo (classificá-lo) assim, mas... E nas outras áreas? Estes são termos filosóficos, certo? Então, quem mais disse algo desta maneira?
Charles S. Peirce? Neste texto você apenas deu "nome aos bois" ou acrescentou às palavras dele estes conceitos?

A origem é a Semiótica? :)

Vou ver o que descubro...
Não quero tudo pronto não rsrsrs
Só não me contive.

Até mais

Merci Beaucoup..... Au Revoir

Prisca disse...

Olá,
Bom, a aula de ontem né?!
Dormi e acordei pensando na interpretação da vida, de textos, na hermenêuica, e no diálogo escrito e oral.
Quem mais traz esta "perspectiva em três dimensões"? Refiro-me a esta classificação: estética, heurísitica ou política?
Até agora, só vi no seu blog, no seu artigo e o uso das palavras separadamente em alguns textos. Busquei a definição em Abbagnano, no dicionário! Ou seja, pesquisei estas palavras separadamente, mas como classificação de Teopoética somente o senhor... Ok. Este tema é muito novo, você foi o primeiro a pensá-lo (classificá-lo) assim, mas... E nas outras áreas? Estes são termos filosóficos, certo? Então, quem mais disse algo desta maneira?
Charles S. Peirce? Neste texto você apenas deu "nome aos bois" ou acrescentou às palavras dele estes conceitos?

A origem é a Semiótica? :)

Vou ver o que descubro...
Não quero tudo pronto não rsrsrs
Só não me contive.

Até mais

Merci Beaucoup..... Au Revoir

Peroratio disse...

Priscila, ha uma "evolução" dos teros, desde A´ristóteles, já juntos, passando por Kant, Peirce, Morin. Trata-se, correntemente, da pragmática - propriamente de Peirce, eu diria. Escrevi um artigo, qwue saiu na Caminhos da PUC de Goiás. Eis um link:

http://www.ouviroevento.pro.br/teologicofilosoficos/Viver_hermeneuticamente.pdf

Boa leitura,

Osvaldo

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