terça-feira, 22 de junho de 2010

(2010/419) Sobre essa tal teopoética...


1. Não é nada de mais que a Teopoética vez ou outra esbarre em mim. Afinal, estou numa Faculdade, há gente pesquisando o assunto aqui mesmo, de modo que, quer eu queira, quer não, ela bate à minha porta. Ou eu, na dela. Foi o caso. Uma amiga, doutoranda em letras pela UFRJ, perguntou-me hoje sobre Teopoética. Batemos um papo. Ela já foi.

2. Mas a Teopoética ficou na minha cabeça. Google, vamos conversar... E achei essas duas referências, que nunca lera: "Os primeiros teólogos da história foram os poetas gregos, com sua teologia mítica (7:09 AM Feb 12th via web) Essa teologia mítica fazia um contraponto com a teologia política dos deuses estatais. A teopoética se opõe aos burocratas (7:17 AM Feb 12th via web)". Quanta coisa com que eu devo, educadamente, discordar...

3. Primeiro, que não se sabe exatamente o que venha a ser, hoje, Teopoética. Há pelo menos três coisas sendo feitas, e, todas, chamando-se a si mesmas de "teopoética", ainda que sejam coisas incompatíveis umas com as outras, dado que uma é estética - falar de "deus (?) poeticamente -, outra, heurística - verificar o que o autor xis fala sobre "deus" -, e, outra ainda, política - "encontrar" em determinado autor o dogma cristão. Marcelo parece chamar de teopoética a primeira opção - mas vai-se saber... No fundo, não deve ser.

4. Por quê? Porque há uma referência em seu citado sobre os teopoetas gregos, e outra, dando conta - do que não posso dar fiança - de que agiam em reação aos teólogos de Estado... Não saberia dizer se a declaração tem fundamento, ao menos não para o "início" da "teopoesia" grega. Platão, nA República, manda que sejam chutados os traseiros dos poetas - é disso que se trata? Mas, nesse caso, estamos aí já pelo avançadíssimo século V. Mas se você faz teopoética para fazer frente aos "burocratas", não sei mais se é estética isso - apostaria que se trata de engajamento... poético. Política. Mas a poesia, alguma vez, não foi, igualmente, isso? Não sei...

5. Além disso, não é verdade que a teologia nasce ali, nos poetas gregos. A palavra "teologia", vá lá. Mas a teologia, não. Definitivamente. Ela nasce muito, muito antes, em muitos lugares. Arrisquemos 100.000 anos, ao menos. Arrisquemos, ainda, África. É o que os paleontólogos dão para as primeiras impressões mais ou menos confiáveis da imagética pré-histórica, caracterizada por sinais que indicam a percepção de alguma arte funerárea de caráter "teológico". Os gregos são apenas uma etapa, ocidentalmente privilegiada, é óbvio, dessa história milenar...

6. Acho que precisamos decidir o que é teopoética. Também acho que precisamos decidir o que é teologia. Ou corremos o risco de dizer coisas que, das duas uma, ou só fazem sentido na cabeça da gente, ou não fazem sentido em lugar nenhum. Ou seja, volto a meu texto sobre o tema.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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