1. Não sei se o futuro revelará sucesso para a classificação que postulo para a Teologia pós-MEC - teologia ontológica, teologia metafórica e teologia fenomenológica. Deixemos que o futuro tome conta de si. Todavia, essa semana tornei a enfrentar uma questão nervosa em torno da teologia como metáfora, questão que eu já enfrentara, no mesmo contexto, ao passado. Quando apresentados à teologia como metáfora, a primeira coisa que os alunos comentam é: ora, como o teólogo metafórico pode tratar as palavras da fé como metáfora, se as "ovelhas" as tratam como representações fidedignas do mundo de "Deus"? Ou seja, como pode o teólogo ser metafórico, se a comunidade é ontológica?
2. A questão é muito bem levantada, mas, convenhamos, ela decorre de um problema tectônico: a teologia como metáfora é resultado do enfrentamento das Luzes e do Romantismo europeus, e é, em todo sentido, o resultado de um enfrentamento dessa questão européia. A teologia metafórica é uma saída pastoral - ao estilo europeu. Logo, se estamos em solo não-europeu, se estamos diante de comunidades ontológicas - e estamos: as comunidades cristãs brasileiras são, sem exceção?, medievais, logo, metafísicas e ontológicas -, resulta natural que a teologia metafórica encontre-se, aí, aqui, absolutamente deslocada. A teologia metafórica só logrará encontrar aceso natural em comunidades "esclarecidas" iluminista-romanticamente, em comunidades que compreendem que a metáfora é a forma escolhida por essa parcela da pastoral para, ao mesmo tempo que manter as "palavras que curam", desviar-se da metafísica doutrinária da Idade Média. Fora desse ambiente, não há lugar para ela - salvo na experiência subjetiva do teólogo tectonicamente deslocado. Arrisco dizer que esse é o caso da totalidade dos teólogos metafóricos atuais. Considerando-se os que conheço, sem dúvida. Já o disse pessoalmente a um representante "forte" dessa modalidade de teologia...
3. O mesmo se deve dizer da teologia fenomenológica - somente onde se desejar verdadeiramente, sem tergiversações, sem dissimulações, sem prestidigitações, uma teologia verdadeiramente científico-humanista, só aí, em nenhum lugar mais, emergirá a teologia fenomenológica - que ainda precisa emergir enquanto "fato" para além dos imites de sua simples formulação teórica. Também a teologia fenomenológica é uma reação ao Iluminismo e ao Romantismo europeus, conquanto não seja uma saída pastoral - pelo cntrário. Ela é uma saída heurística, científica - ao menos é o que postula. Mas, nesse sentido, é tão deslocada quanto sa "irmã" de berço, a teologia metafórica.
4. Já a teologia ontológica, não. Ela sequer é necessária e exclusivamente "cristã". Quando nasceu a teologia cristã, já havia pelo meos 100.000 anos que a teologia ontológica adensava seus domínios planetários. Seja o Brasil cristão, seja a África animista, seja o Oriente politeísta, impera aí, inconteste, a teologia ontológica - e, não se enganem, também os cristianismos europeus, todos, o são. Todo o planeta é sua casa. Todo país é sua morada. Ela está em casa em qualquer templo. Ela só não resiste àquele evento secular que, começando com as invasões árabes na Europa (século X), redundou na invenção tectônica das repúblicas modernas (século XIX/XX). Quer dizer, resistir, resiste, mas ao preço ou da sonegação de informação, ou ao preço de sua demonização. Na prática, encontrou um modo de sobreviver nas repúblicas - e, qem sabe?, à República...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. A questão é muito bem levantada, mas, convenhamos, ela decorre de um problema tectônico: a teologia como metáfora é resultado do enfrentamento das Luzes e do Romantismo europeus, e é, em todo sentido, o resultado de um enfrentamento dessa questão européia. A teologia metafórica é uma saída pastoral - ao estilo europeu. Logo, se estamos em solo não-europeu, se estamos diante de comunidades ontológicas - e estamos: as comunidades cristãs brasileiras são, sem exceção?, medievais, logo, metafísicas e ontológicas -, resulta natural que a teologia metafórica encontre-se, aí, aqui, absolutamente deslocada. A teologia metafórica só logrará encontrar aceso natural em comunidades "esclarecidas" iluminista-romanticamente, em comunidades que compreendem que a metáfora é a forma escolhida por essa parcela da pastoral para, ao mesmo tempo que manter as "palavras que curam", desviar-se da metafísica doutrinária da Idade Média. Fora desse ambiente, não há lugar para ela - salvo na experiência subjetiva do teólogo tectonicamente deslocado. Arrisco dizer que esse é o caso da totalidade dos teólogos metafóricos atuais. Considerando-se os que conheço, sem dúvida. Já o disse pessoalmente a um representante "forte" dessa modalidade de teologia...
3. O mesmo se deve dizer da teologia fenomenológica - somente onde se desejar verdadeiramente, sem tergiversações, sem dissimulações, sem prestidigitações, uma teologia verdadeiramente científico-humanista, só aí, em nenhum lugar mais, emergirá a teologia fenomenológica - que ainda precisa emergir enquanto "fato" para além dos imites de sua simples formulação teórica. Também a teologia fenomenológica é uma reação ao Iluminismo e ao Romantismo europeus, conquanto não seja uma saída pastoral - pelo cntrário. Ela é uma saída heurística, científica - ao menos é o que postula. Mas, nesse sentido, é tão deslocada quanto sa "irmã" de berço, a teologia metafórica.
4. Já a teologia ontológica, não. Ela sequer é necessária e exclusivamente "cristã". Quando nasceu a teologia cristã, já havia pelo meos 100.000 anos que a teologia ontológica adensava seus domínios planetários. Seja o Brasil cristão, seja a África animista, seja o Oriente politeísta, impera aí, inconteste, a teologia ontológica - e, não se enganem, também os cristianismos europeus, todos, o são. Todo o planeta é sua casa. Todo país é sua morada. Ela está em casa em qualquer templo. Ela só não resiste àquele evento secular que, começando com as invasões árabes na Europa (século X), redundou na invenção tectônica das repúblicas modernas (século XIX/XX). Quer dizer, resistir, resiste, mas ao preço ou da sonegação de informação, ou ao preço de sua demonização. Na prática, encontrou um modo de sobreviver nas repúblicas - e, qem sabe?, à República...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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