domingo, 4 de abril de 2010

(2010/295) Ao som de Vincent


1. Don McLean compôs uma das músicas mais bonitas e tristes do século XX, e eu a estou ouvindo a tarde inteira. A minha alma se alimenta da melancolia e da tristeza, e é apenas o amor de Bel que me mantém na superfície. No fundo, a vida é como a travessia de um campo de coroas-de-cristo, de roseiras, de touceiras de capim-limão. Só há ferida e dor na travessia desse longo campo chamado vida. Há, com efeito, poucas coisas de realmente boas nela. O restante, é canseira, é enfado, é tristeza sobre tristeza, é lanhado de espinho na carne da gente.

2. Eu não almejo grandes coisas na vida. Basta-me envelhecer ao lado de Bel, e mais nada. Mas a vida cobra o preço do presente da velhice pacífica. Algumas pessoas não aa tiveram, como Vincent van Gogh. As tarefas são tão difíceis, o futuro, tão incerto, é tão insana a realidade. A única coisa que eu espero da vida, e, particularmente desses dias, é que eles passem, e que chegue o dia de sentar-me à beira da varanda, e de olhar para o horizonte, esperando aquele dia que marca as pulsações do coração desde a primeira vez que ele pulsou, há muito, muito tempo. Talvez naquele dia haja descanso para nossa alma. Talvez, então, acabem todos os espinhos.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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