sábado, 13 de março de 2010

(2010/206) Igrejas de todos os pecados


1. A Igreja é, necessariamente, uma comunidade de reabilitação, uma comunidade terapêutica. Engana-se quem cuida encontrar, aí, a hígida plêiade dos santos... Não, residem nela, são-na, a turba dos enfermos, cuja cura inexiste, porque o mal de que padecemos é crônico. Aprendemos, lazarentos, a conviver com nossas chagas, depurando-as com as águas da consciência - o perdão são doses cotidianas, porque não há perdão que chegue. É lavar-se, lavar-se, lavar-se. Mas, às vezes, também as águas contaminam-se...

2. Nenhuma Igreja é ou está pura. Nenhuma. Há mazelas para todos os credos, para todas as ordens. Algumas são, naturalmente, emblemáticas, porque, aí, o mal é sistêmico, amparado ainda por uma rede de silêncio, como acusa a Ministra da Justiça Alemanhã, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, a respeito dos crimes de pedofilia praticados pelo clero. Naturalmente que esse crime em particular é hediondo e grave, mas, não se deve esquecer, suas dimensões planetárias respondem pela organização episcopal de sua matriz romana - para uma Igreja de dimensões mundial, pecados de repercussões mundiais.

3. Todavia, nas pequenas e autônomas Igrejas - que na Alemanha luterana seriam chamadas "livres" -, posto não serem universais, os pecados, aí, são também assim: tópicos. Mas avolumam-se, igualmente. Estão, contudo, impedidos de tornarem-se macro-sistêmicos, porque seu ecossistema é pequeno demais, local demais, desarticulado demais, para permitir que se transformem numa máfia de pecados. O que, contudo, é mais fácil para Associações de toda sorte, cuja articulação política corre o risco de funcionar como lâminas de cultura bacterianas - o fungo alastra-se, o bolor toma conta, as bactérias comem tudo, o pecado torna-se, então, sistêmico, macro-sistêmico, super-sistêmico - ecossistêmico.

4. Ah, cada Igreja, cada Associação, cuidado! Não se vá esconder os pecados domésticos com pedras atiradas às telhas de Roma. Afinal, o que lá é universal, cosntitui-se da soma inimaginável dos milhões de pecados de cada um de seus padres, por exemplo, pedófilos. E, na condição da unidade de cada pecado, a analogia está perfeitamente revelada: é na unidade de cada consciência, de cada cristão, que o pecado se instala. No nível individual, há tanto pecado cá quanto acolá. O que torna o Catolicismo mais vuilnerável às denúncias é a estrutura sistêmica de seu corpo. Sim, a rocha católica torna mais visível o pecado dela, ainda que a areia evangélico-protestante só consiga pulverizar, na aparência das coisas pequenas, o que, no todo, é igualmente ultrajante.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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