sábado, 27 de fevereiro de 2010

(2010/155) De uma planta que morre


1. Há sofrimento na planta que esturrica e seca, que o sol a queima e mata, e sofre, e padece, e lancinantemente definha. Verde que era, troca a roupa de um marrom de dor, de fumo, de coisa velha que se desfaz... Aberta à luz, e orgulhosa, ela agora recolhe-se, enrolando-se, humilhada e fraca. E sofre, e chora, e morre...

2. O sol, ontem, lhe dava a vida, mas, agora, cobra caro o preço. O toque dos raios, suaves, faz-se, agora, queimadura em grau profundo, e, de beijo que se fazia, faz-se, agora, em talho de fogo a cortar a carne verde que morrer já sabe que vai. E sofre, e chora, e morre...

3. Não há salvação, coitada, para ela, que, de esperança e destino, subia pelo fio, beirava o telhado, espraiva-se à luz. Mas o destino não guarda nomes, e despeja seus caprichos sobre qualquer um. Chegou a sua vez, plantinha de quintal. Logo, sofre, chora e morre - que esse é o último ato disso que se chama a tua vida... e a minha, e a de todos nós...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Debbie Seravat disse...

É isso aí, professor...

No país do rural
quis Deus plantar-me:
sou folha solta
sumindo sumindo
em soturno vale

Gostei da ``sua folha!``

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