sábado, 27 de fevereiro de 2010

(2010/156) Também eu vou tocando em frente


1. Sem cantar, que cantar não canto, mas tocando em frente. Dia após dia, tocando em frente. Dor aós dor, alegria após alegria, tocando em frente. E não é que seja assim natural tocar em frente, porque, as mais das vezes, nosso corpo quer recolher-se, ao modo fetal, enrolar-se, como o verme, e recolher-se ao útero do medo. Mas a vida empurra a gente, o ponteiro do relógio rompe a ferrugem do cansaço, e a gente toca em frente. Não é mérito nosso. Nunca. É que é assim que é a vida, que começa como o despejo e termina no fundo de uma cova rasa. Entre as duas covas, entre os dois buracos, entre as duas escuridões, o açoite dos dias, a jungir a manada humana, tocando em frente, sempre... E lá vou eu, também eu, tocando em frente...







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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