1. Sem cantar, que cantar não canto, mas tocando em frente. Dia após dia, tocando em frente. Dor aós dor, alegria após alegria, tocando em frente. E não é que seja assim natural tocar em frente, porque, as mais das vezes, nosso corpo quer recolher-se, ao modo fetal, enrolar-se, como o verme, e recolher-se ao útero do medo. Mas a vida empurra a gente, o ponteiro do relógio rompe a ferrugem do cansaço, e a gente toca em frente. Não é mérito nosso. Nunca. É que é assim que é a vida, que começa como o despejo e termina no fundo de uma cova rasa. Entre as duas covas, entre os dois buracos, entre as duas escuridões, o açoite dos dias, a jungir a manada humana, tocando em frente, sempre... E lá vou eu, também eu, tocando em frente...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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