sábado, 20 de fevereiro de 2010

(2010/142) Do medos das novas gerências


1. De volta ao campo das batalhas gerenciais. Não é de todo agradável. Todavia, é mais fácil do que parece, à primeira vista. Porque, a rigor, as cenas são sempre as mesmas, as pessoas, muito parecidas, os problemas, quase cópias uns dos outros. A gerência é uma roda - fazê-la rodar perfeitamente, a isso reduz-se a tarefa. O desafio é o eixo, a roda em si, as pedras, a estrada, e, afinal, até, o rumo...

2. Em qualquer situação, gerenciar é lidar com o medo. Há dois modos de medo, incontornáveis, numa mudança de gerência. Cada um responde por um ambiente. Ambiente um, marcadamente político: o medo é o de não fazer parte da "panela". Onde quer que estejamos, seja numa empresa, numa ONG, numa repartição pública, se o ambiente, se a regra do jogo, são as relações políticas, o medo se instala entre aqueles que não fazem parte da panela. Ambiente dois, marcadamente de resultado - o medo se instala entre aqueles que, a rigor, ou possuem reais deficiências de performance, ou têm de si uma perspectiva, digamos, de baixa estima. Só os melhores sobrevivem nesse ambiente, é a regra, e o medo se instala então entre os não melhores e/ou entre aqueles que se acham menos eficientes.

3. Mas não há como fugir desse medo, senão por meio de terapias de ordem budista... O medo há de revelar-se fundado ou não. Mas sempre lá está ele, nos olhos, no comportamento mal disfarçado de uns, na agitação solícita de outros. Medo.

4. Medo, porque, a rigor, todos estão ali pelo pão. O que, sob a perspectiva da gerência, é um equilíbrio de eficiência no corpo institucional, para o sujeito humano, isso representa, se ele é descartado, um colapso a médio prazo - de onde virá o pão? Mesmo entre religiosos, que sabemos que o maná é bem um mito narrativo... Na prática, o maná virá na forma de outro emprego, na ajuda familiar, essas coisas, porque, cair do céu, literalmente, isso todos sabemos que não acontece.

5. Como fugir desse estresse? Não tem como. Se você é bom, mas não é da panela, e se o ambiente é político, você corre sério risco de dançar. Se você não é bom, mas é da panela, mas o ambiente é de resultado, você corre o risco de dançar. E, de mais a mais, se mesmo você sendo bom, não havendo panelas, mas o cobertor parece curto demais, como você relaxa? Não relaxa. Religiosamente, você ora para que a teologia esteja errada, as pessoas não sejam livres, e Deus possa fazer o gestor fazer o que você e Deus querem que ele faça - manter você. Por que um cristão pensa que Deus pode fazer um gestor fazer o que ele, Deus, quer, sem que isso seja o que ele, gestor, queira, e não pense que Deus não leve pro céu todo mundo simplesmente porque não quer é o mistério - ou o intocável - da teologia não calvinista...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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