1. Honestamente, é mais fácil ouvir bravatas em torno de posições teológicas, presenciar defesas entusiasmadas de posições confessionais, do que encontrar quem leve a Teologia às suas próprias últimas conseqüências. Do post anterior, extraio a seguinte observação pesada.
2. Há, na oração que tem por alvo pessoas, orações do tipo: "Deus, move o coração de fulado" - seja para qualquer situação e direção - um absurdo teológico gritante, que faz, seja da Teologia, seja de Deus, uma caricatura bizarra.
3. Bem, se Deus tem o poder de mover o coração de pessoas, porque não o move quando esse sujeito vai estuprar uma menina de cinco anos? Por que não o move quando ele vai lançar um ataque de armas químicas sobre uma vila? Por que não o move quando ele vai surrar a mulher, bêbado? Por que não o faz quando ele vai desviar recursos públicos? Das duas uma: ou Deus pode, e não faz, ou não pode.
4. Bem, se não pode, a oração é um absurdo, e não tocamos no assunto porque não tocamos em assunto nenhum que nos ponha em cheque - é a regra teológica da confissão. Se pode, e eu posso orar, por exemplo, para que Deus mova o coração dos avaliadores da comissão do concurso da Rural, por exemplo, isso faz de Deus um deus bem perverso, preocupado com as questões pequenas de uns, e alheio à dor infinita de outros: uns corações, ele move, em uns, ele entra, em outros, não, outros, ele deixa à sua maldade... Mistério, dirá o excêntrico entusiasta, mistério! Pois, a meu ver, não há mistério algum aí - há leviandade teológica, nuns casos, superficialidade crítica, em outros. Em todos eles, inadequação em face da realidade, motor das religiosidades de superfície.
5. Ah, levar a Teologia a sério... Brincar de Igreja é mais fácil, e, quando constragidos, arrostarmos a pecha de heresia em quem nos desnuda. Assim também se livraram daquele que, depois, foi usado também para fazer o mesmo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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