1. Volto a Barth e ao seu Introdução à Teologia Evangélica, que é o chão onde pisa a grande parte da "teologia que pensa", isto é, aquela que pretende estar no MEC, mas isto sem abandonar um centímetro da "terra conquistada", do hino nacional, das armas... Eis uma declaração que, se acerto ainda o "tipo" de consciência evangélica, soará normalíssima aos ouvidos "crentes" dos teólogos (e das teólogas) que me lêem [cada dia vou descobrindo que tem muito teólogo bom lendo Peroratio e ouviroevento, mas calados, caladas - e eu, como eu gostaria de saber o que pensam, enquanto lêem... e depois]. Eis Bart:
2. "A própria Palavra é que clama para ser crida, isto é, clama para que a ouçamos, conhecendo, confiando, obedecendo" (p. 24).
3. Há, aí, uma falácia - e uma "verdade". A falácia, no nível do discurso de Barth, é fazer da "Palavra" algo que existe antes e independente dos "palavradores". Ora, em termos históricos, em termos fenomenológico-religiosos, não há "Palavra" - há as palavras que os palavradores - profetas, sacerdotes, sábios - "palavraram/palavravam". São palavras que homens - e mulheres - pregaram, ordenaram, propuseram, essas palavras que, agora, de novo, são propostas, pregadas, ordenadas. Pelo mesmo "tipo" sócio-político, é verdade... Profetas, sacerdotes e sábios têm comichões de dar ordens... E aprenderam, rápido, a fazer divinas as suas ordens (sacerdotes) e conta-ordens (profetas e sábios). Mas já descobrimos que era - e é - um artifício, um engodo, um visgo, para pegar passarinhos... e ovelhas...
4. Barth quer-me fazer olhar para a "Palavra" sem a consciência política de que são palavras de ordem, inspiradas por gênio político-religioso, por liderança tomada de pathos, a doença de achar-se tomado pelo divino, a loucura de crer-se "boca" e "profeta", a neurose de crer-se "escolhido" - sim, mas pela própria loucura...
5. Barth quer-me desviar a atenção para o fato incontornável de que não há "Palavra" - nem nada nela - que não tenha sido pensada e proferida por pessoas situadas, interessadas, jogando, seja o jogo de tomar, seja o jogo de agarrar-se, seja o jogo de conquistar, seja o jogo de defender-se, jogo humano, jogo social, jogo político. Não há anjos falando ali, e, quando há, são homens passando-se por anjos. Quando é Deus, é, antes, aquele homem, sacerdote?, profeta?, sábio?, tanto faz, são, todos, humanamente humanos, demasiadamente humanos.
6. Está bem - quer-se, ainda assim, "ouvir Deus" nessas e por meio dessas "palavras"? Não há problema - desde que se as reduza, primeiro, ao que com efeito foram. Apliquem-se a elas as ferramentas históricas, críticas, da análise dos discursos, das ciências humanas, e, depois, então, vamos brincar de achar o divino nelas. Uma coisa nada tem a ver com a outra, é claro, mas penso ser mais digno, mais honesto, primeiro fazer aquilo, e, se for o caso, brincar disso. O Barth antigo e os modernos arrepiam-se, todavia, da crítica... E os que não, mas permanecem "teólogos", ou mentem para si, ou para os outros.
7. Mas não - quer-se, primeiro, afirmar que os homens políticos, todos, que escreveram a "Palavra", são epifenômenos, não contam, de fato - salvo, politicamente, para os diferenciar de outros, iguais a eles, que, igualmente, escreveram, à mesma época, até! -, porque só conta a "Própria Palavra", ela que os "escolheu" para dizer o que ela, a Palavra, queria... Deus, alvorecia o século XX europeu!...
8. Depois, como se a Palavra ainda tomasse a boca dos homens, quer-se usá-la, a Palavra, por meio de rotinas de leitura absolutamente falaciosas, enganosas, alegorizantes e alegorizadas, presas a compromissos doutrinários. E, auge do cinismo, o resultado dessa leitura estapafúrdia de textos antigos, chama-se... "Palavra". Deus, é preciso estar muito mal da cabeça para se entregar a um jogo assim, retórico, político, falacioso, um jogo de cartas marcadas, um jogo onde a crítica não é, certamente, bem-vinda, nem pode, porque ela, a crítica, desmonsta falácias. Ou mal da cabeça... ou mal do bolso...
9. Ah, Barth, cuidavas estar a serviço de Deus. Temo que, para manter-me na metáfora, fazias o trabalho do diabo...
10. Ah, falei de uma "verdade". Bem, trata-se, a rigor, de uma verdade não-barthiana, mas uma verdade moriniana: a "Palavra", com efeito, fez-se "Idéia", uma Entidade nutrida pela vida de milhões de "escravos" de carbono e sangue, que ela come e bebe, delirantemente. Essa Idéia possui os teólogos e os controla, fazendo-os perder a visão de si, a visão do outro, a visão terrível em que se encontram. É uma senhora amostra humana do ovo de vespa... Um pequen ovo ingênuo que se pôs no coração e, que, em alguns séculos, virou um dragão devorador de almas... e de cérebros, pois não?
2. "A própria Palavra é que clama para ser crida, isto é, clama para que a ouçamos, conhecendo, confiando, obedecendo" (p. 24).
3. Há, aí, uma falácia - e uma "verdade". A falácia, no nível do discurso de Barth, é fazer da "Palavra" algo que existe antes e independente dos "palavradores". Ora, em termos históricos, em termos fenomenológico-religiosos, não há "Palavra" - há as palavras que os palavradores - profetas, sacerdotes, sábios - "palavraram/palavravam". São palavras que homens - e mulheres - pregaram, ordenaram, propuseram, essas palavras que, agora, de novo, são propostas, pregadas, ordenadas. Pelo mesmo "tipo" sócio-político, é verdade... Profetas, sacerdotes e sábios têm comichões de dar ordens... E aprenderam, rápido, a fazer divinas as suas ordens (sacerdotes) e conta-ordens (profetas e sábios). Mas já descobrimos que era - e é - um artifício, um engodo, um visgo, para pegar passarinhos... e ovelhas...
4. Barth quer-me fazer olhar para a "Palavra" sem a consciência política de que são palavras de ordem, inspiradas por gênio político-religioso, por liderança tomada de pathos, a doença de achar-se tomado pelo divino, a loucura de crer-se "boca" e "profeta", a neurose de crer-se "escolhido" - sim, mas pela própria loucura...
5. Barth quer-me desviar a atenção para o fato incontornável de que não há "Palavra" - nem nada nela - que não tenha sido pensada e proferida por pessoas situadas, interessadas, jogando, seja o jogo de tomar, seja o jogo de agarrar-se, seja o jogo de conquistar, seja o jogo de defender-se, jogo humano, jogo social, jogo político. Não há anjos falando ali, e, quando há, são homens passando-se por anjos. Quando é Deus, é, antes, aquele homem, sacerdote?, profeta?, sábio?, tanto faz, são, todos, humanamente humanos, demasiadamente humanos.
6. Está bem - quer-se, ainda assim, "ouvir Deus" nessas e por meio dessas "palavras"? Não há problema - desde que se as reduza, primeiro, ao que com efeito foram. Apliquem-se a elas as ferramentas históricas, críticas, da análise dos discursos, das ciências humanas, e, depois, então, vamos brincar de achar o divino nelas. Uma coisa nada tem a ver com a outra, é claro, mas penso ser mais digno, mais honesto, primeiro fazer aquilo, e, se for o caso, brincar disso. O Barth antigo e os modernos arrepiam-se, todavia, da crítica... E os que não, mas permanecem "teólogos", ou mentem para si, ou para os outros.
7. Mas não - quer-se, primeiro, afirmar que os homens políticos, todos, que escreveram a "Palavra", são epifenômenos, não contam, de fato - salvo, politicamente, para os diferenciar de outros, iguais a eles, que, igualmente, escreveram, à mesma época, até! -, porque só conta a "Própria Palavra", ela que os "escolheu" para dizer o que ela, a Palavra, queria... Deus, alvorecia o século XX europeu!...
8. Depois, como se a Palavra ainda tomasse a boca dos homens, quer-se usá-la, a Palavra, por meio de rotinas de leitura absolutamente falaciosas, enganosas, alegorizantes e alegorizadas, presas a compromissos doutrinários. E, auge do cinismo, o resultado dessa leitura estapafúrdia de textos antigos, chama-se... "Palavra". Deus, é preciso estar muito mal da cabeça para se entregar a um jogo assim, retórico, político, falacioso, um jogo de cartas marcadas, um jogo onde a crítica não é, certamente, bem-vinda, nem pode, porque ela, a crítica, desmonsta falácias. Ou mal da cabeça... ou mal do bolso...
9. Ah, Barth, cuidavas estar a serviço de Deus. Temo que, para manter-me na metáfora, fazias o trabalho do diabo...
10. Ah, falei de uma "verdade". Bem, trata-se, a rigor, de uma verdade não-barthiana, mas uma verdade moriniana: a "Palavra", com efeito, fez-se "Idéia", uma Entidade nutrida pela vida de milhões de "escravos" de carbono e sangue, que ela come e bebe, delirantemente. Essa Idéia possui os teólogos e os controla, fazendo-os perder a visão de si, a visão do outro, a visão terrível em que se encontram. É uma senhora amostra humana do ovo de vespa... Um pequen ovo ingênuo que se pôs no coração e, que, em alguns séculos, virou um dragão devorador de almas... e de cérebros, pois não?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
3 comentários:
Prof Osvaldo,
Disseste um dia na sala de aula sobre a posição de Karl Barth sobre o nazismos, e se não me engano, disseste que para tal teólogo Jesus poderia ser uma cadeira, uma porta ou um cachorro, mas nunca judeu! Poderia me esclarecer essas dúvidas, e me passar fontes?
Obrigado
Não era a respeito de Karl Barth. Era sobre Bultmann. A teologia de Bultmann prescinde de um Jesus histórico, judeu. Basta a fé na pregação. Isso é bastante conveniente para uma teologia em contexto nazista, em que o Cristianismo, isolado de sua origem judaica, poderia ter "serventia". A exegese neotestamentária da Alemanha, nas décadas de 30 a 50 está contaminada inexoravelmente de simpatias nazistas, seja por convicção político-cultural dos próprios exegetas, seja por conta de uma subserviência por medo. Assim se entende o esforço de Joaquim Jeremias em restaurar a judaicidade de Jesus - é quase como se, em Jeremias, a alma da Alemanha tentasse ser purgada de sua traição histórica.
Obrigado por esclarecer minhas dúvidas mestre.
Grande abraço
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