3. Deixamos, lentamente, para trás, a primavera, que, nas cidades, nã tem mais flores. Mas devia haver muitas delas, antigamente, quando o campo era a nossa casa... A libido da primavera, orgia de insetos e pássaros a lambuzarem-se de orgásmicas substâncias florais, e impudicas indescências naturais, respirava-se a "estação"... Por nossas plagas, é, contudo, o verão que, expondo os corpos, parece ter a função dionisíaca que, ao norte, cabia à primavera...
4. As coisas da libido, do desejo, do propriamente erótico e corpóreo, telúrico, ctônico, bem, essas coisas saem de dentro da gente, são as células gritando de paixão e fogo, herança do carbono em que Yahweh soprou, doido, o fogo do espírito... Mas, cá entre nós, essas canções, essas transmutações de notas em magia, essa bruxaria acútica, como diria, falaciosamente, Barth, da "Palavra", elas, essas canções, "já estavam lá"?, ou um Vivaldi as tem de inventar, de, smando, gota a gota, encher seu Oceano?
5. Ah, mais do que isso, sem uma Sarah Chang, se um Nigel Kennedy, de que vale aquela partitura? Ah, senhores, senhoras, nada disso que nos contaram é verdade: são os homens, são as mulheres que, inventando, trazem a tona, dão à luz as fantasias da realidade. As Quiatro Estações não exsistiam em nenhum lugar: Vivaldi as pariu, numa tarde, num lugar, num dia, que, se perdidos, perdiam-se todos.
6. Um retorno à Natureza talvz fosse conveniente para nossa espécie, depois de séculos de delírio celeste...
7. Gira, gira, meu planetinha d'água e pedra, e, enquanto giras, vamos fazendo de contaque é nossa cabeça a construir as quatro estações da Terra...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário