terça-feira, 8 de dezembro de 2009

(2009/623) Quem disse mesmo?


1. "Entenderemos sob 'lugar da teologia' a posição inicial que lhe é destinada 'de dentro', decorrente de seu próprio assunto (objeto), a partir do qual lhe cumpre avançar em todas as disciplinas - as bíblicas, as históricas, as sistemáticas e as práticas. É a lei, pela qual ela se apresenta. Usando de linguagem militar: é a posição de sentinela que o teólogo necessariamente terá de ocupar e de manter sob quaisquer circunstâncias na universidade, sob pena de perder sua liberdade - mesmo que tal tarefa lhe venha a desagradar, ou que desagrade a quaisquer outras criaturas"...

2. Não parece algo escrito por eminentes teólogos brasileiros contemporâneos, no que se aliam, engajadamente, a eclesiásticos de ainda maior monta? Fincai o pé, soldados, marcha, soldado, cabeça de papel, se não marchar direito... Resisti, soldados da teologia, resisti na e contra a universidade... Invadi-a, sim!, posoto que as invasões, desrespeitosamente, é o melhor - o pior! - que sabe fazer a legião, a casta, teológica. Invadi-a, pois, tomai as cátedras de assalto! Mas, entrando, resisti, não dialogueis! Solapai, tropa, toda tergiversação, coronhada na cabeça, estocada no flanco, tiro na nuca. Não haveis de ceder um centímetro ao joguinho espúrio e estúpido das ciências...

3. Cem anos atrás, dizia-o Karl Barth, também na universidade. Agora, dizemo-lo nós, seus filhos, os assumidos de cá e de lá - teólogos de carteirinha - e os cripto-teólogos, disfarçados em cientistas da religião, que, malgrado o pomposo título, esperam, espreitam, a parousia.

4. Desgraça de teologia... Veja que ela é uma "deusa". O teólogo não pode constranger-se de seu estado desagradabilíssimo: desagradado ou não, ele tem de resistir, porque não é ele, teólogo, nem ela, teóloga, mas é a Teologia/Deus, agindo neles, por meio deles, contra e para eles, como ovos de vespa... E, se pela frente alguém faz cara feia, que se dane: o teólogo e a teóloga hão de pôr a teologia - "Deus" - na frente, sobre tudo e sobre todos, que é assim que se faz no Reino de Deus...

5. Miséria de telogia. Ela desdenha, com Barth, da modernidade: "o que vem a ser 'cultura' e 'ciência universal'?", ele pergunta. O que está por trás dessa afirmação/zombaria? Uma posição patrístico-medieval a leria assim: mandamos e desmandamos há dois mil anos, quem pensam que são esses pirralhos, mal saídos dos cueiros, metam-se no buraco de onde saíram, baixem a cabeça, ponham-se de joelhos... Uma leitura pós-moderna, de teólogos pós-modernos a serviço do Mesmo, do Velho e do Sempre, diriam: cultura é coisa como que bolha de sabão, vale aqui, vale ali, cada um tem a sua, e a nossa é a teologia. Logo depois, lecionariam missiologia, os cínicos... O que faz ambos jeitos o mesmo jeito é o desprezo com que olham a modernidade crítica e emancipada - a teologia é aristocrática, conquanto - mas talvez por isso! - faça de escravos seus todos os que lhe prestam serviço. Aristocrática, diz-se, é mais eficiente, teocrática...

6. Quanto a mim, vê se cala a boca, Barth! Sua teologia tem bolor e teias de aranha, de tão velha. A "cultura universal" com que sonhamos prevê abertura e pluralidade, consciência critica e autonomia, liberdade e diálogo. Nada disso, nenhuma dessas coisas, a teologia que chocas em seu ovo de naja e seu ninho de víbora tem nem pode dar, porque cuida ser a fala de um "Deus", sendo a neurose de uma espécie. Tão lúcida aos seus olhos, é cega, é mouca, é morta.

7. O pior não é o cheiro do corpo morto às costas da parelha ao lado: é barulho que seus ossos fazem nos ouvidos da gente, e essa mania de os teólogos quererem fazer procissão em nossas calçadas. Tudo isso, contudo, se entende... MEC, MEC, onde foste amarrar teu burro!?


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

PS. As citações: Karl Barth, Introdução à Telogia Evangélica, Sinodal, p. 12.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio