1. É muito instrutivo observar como o velho assume formas novas, transparece ser o novo, mas é, de qualquer modo, ainda o velho. Algumas vezes o velho se rompe mais drasticamente, e a transformação desenvolve-se em outra direção. Por exemplo - quando os homens deixaram de ser coletores-caçadores para fixarem-se ao solo, possibilitados a isso pela agricultura, o novo era a fixação a terra, já que, antes, eram peregrinos, nômades e seminômades. No entanto, esse "novo" é, em última análise, um desdobramento da necessidade natural humana de comer - seja colhendo e caçando, seja, agora, plantando e... colhendo. Assim, há rupturas mais drásticas para a manutenção de velhas necessidades. Mas, na maior parte das vezes, a transformação é superficial.
2. Veja o caso das grandes correntes filosóficas dos séculos XIX e XX. O Romantismo é, de certa forma, um aperfeiçoamento do ceticismo, presente, já, na história humana, desde antes da era cristã. O Existencialismo pode ser interpretado como uma radicalização secularizada do pelagianismo e do arminisnismo de longa data. O Estruturalismo não vai além de um Calvinismo sociologizado.
3. Não estou falando das repetições banais e reacionárias - um Barth que repete a tradição conservadora/sistemática dos séculos XVI e XVII, recebendo as águas dos movimentos de resistência à emancipação cultural dos séculos XVIII e XIX. Barth já nasce velho. Bultmann experimenta uma síntese de sacramento e homilética - a pregação é o único sacramento. Essas teologias parecem ser coisa nova, mas, afinal, são bem antigas. Falo das transformações que, mais radicais ou menos radicais, vão rompendo mais ou menos abruptamente com o velho, e trazendo/criando o novo, como as lavas de vulcões - o velho traz o novo...
4. Disso penso poder aprender que o novo que se está para inventar está, de algum modo, dentro do velho. Se o novo que vem constituir-se de atualizações de necessidades humanas verdadeiramente profundas e naturais, não haverá necessariamente muita semelhança entre o velho e o novo. Se, contudo, o novo constituir-se de apenas purpurina e vídeo-maquiagem, os nomes que se inventarem para ele poderão ser muito extravagantes e sensacionalistas, mas ainda será a velha canoa de atravessar o córrego de todos os dias. Porque as necessidades profundas dos seres humanos atualizam-se em conformidade com o tempo, mas as tradições tendem à mumificação estéril.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
3. Não estou falando das repetições banais e reacionárias - um Barth que repete a tradição conservadora/sistemática dos séculos XVI e XVII, recebendo as águas dos movimentos de resistência à emancipação cultural dos séculos XVIII e XIX. Barth já nasce velho. Bultmann experimenta uma síntese de sacramento e homilética - a pregação é o único sacramento. Essas teologias parecem ser coisa nova, mas, afinal, são bem antigas. Falo das transformações que, mais radicais ou menos radicais, vão rompendo mais ou menos abruptamente com o velho, e trazendo/criando o novo, como as lavas de vulcões - o velho traz o novo...
4. Disso penso poder aprender que o novo que se está para inventar está, de algum modo, dentro do velho. Se o novo que vem constituir-se de atualizações de necessidades humanas verdadeiramente profundas e naturais, não haverá necessariamente muita semelhança entre o velho e o novo. Se, contudo, o novo constituir-se de apenas purpurina e vídeo-maquiagem, os nomes que se inventarem para ele poderão ser muito extravagantes e sensacionalistas, mas ainda será a velha canoa de atravessar o córrego de todos os dias. Porque as necessidades profundas dos seres humanos atualizam-se em conformidade com o tempo, mas as tradições tendem à mumificação estéril.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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