1. Há três anos escrevi uma crítica a um artigo de Frank Usarski(1). O artigo de Usarski me parecia equivocado, porque apresentava severas críticas como que ao "ramo clássico da Fenomenologia da Religião". Quando o li, considerei que cada uma das críticas era improcedente, se aplicada diretamente à Fenomenologia da Religião, e que o artigo seria muito bom, se e apenas se confessasse dirigir-se tão somente ao uso teológico, logo, inadequado, da Fenomenologia da Religião. Mandei a resenha para Frank, que me devolveu com uma resposta indignada, afirmando que meu artigo era confuso e uma vergonha - sem, contudo, tecer qualquer comentário que justificasse seu juízo.
2. Tomado de espanto (lembtro que eu tremia...), mandei meu artigo para minha amiga Celeste, mestra em e professora de Língua Portuguesa na Faculdade Batista do Rio de Janeiro, depois de anos no Colégio Militar, e, agora, doutoranda na UERJ. Ela me disse que o artigo era exageradamente irônico, mas que, absolutamente, não tinha nada de confuso. Incontinenti, apaguei algumas das ironias mais contundentes, deixei algumas, e publiquei em ouviroevento.
3. Hoje recebi um e-mail. Alguém lera minha critica, e se dispusera a me escrever. No entando, apontava, apenas, o grau excessivo de ironia que ele comporta, e, ao final, põe-se ao lado de Frank. Diz, por exemplo, que eu deveria ter apontado, como ele disse?, fundamentos...
4. Bem, qualquer um que leia, tecnicamente minha crítica, verá que tomo parágrafo a parágrafo e critico. Logo, a crítica que minha resenha deve sofrer é se ela lê adequadamente Frank: a) o que eu disse que Frank disse ele de fato disse? b) a crítica que eu faço a isso que Frank disse é pertinente? No entanto, meu missivista apenas repete o que eu mesmo dissera no topo do texto - meu texto é irônico, mesmo depois de alguma faxina.
5. Por que era - e é - irônico? Porque eu li cada uma das críticas de Frank, e o equívoco me parecia tão óbvio, que eu fui perdendo a paciência. Nas últimas críticas que lia, minha cabeça já repetia: "não é possível!". Um bom leitor deveria ir lá e verificar se entendi direito o texto de Frank, e se minhas críticas são pertinentes.
6. Acabei de ler o texto. Todo. Fiz alguns acertos. Constrangi-me com alguma ironia mais exagerada, eventualmente dispensável. Mas endosso - hoje - tudo que disse. O artigo de Frank não tem procedência, se aplicado nos termos em que ele mesmo se diz aplicar. Se, contudo, ele é aplicado ao uso indevido que a teologia faz da fenomenologia da religião, então ele é perfeito. Como está, não tem fundamento.
7. A questão que aqui me toca é: porque tendo para a ironia? Falta de domínio do assunto? Dificuldade de relação social? Pura maldade e instinto de implicância? Revanchismo de pobre, suburbano e morador da Baixada Fluminense?
8. Não sei. Sei que a ironia é uma marca minha. A impaciência acadêmica, também. Minha amiga, a doutora Mary Rute Esperandio, quando revisou meu artigo da PUC-PR, disse exatamente isso: que meu texto reverberava impaciência diante de obviedades que a teologia não consegue perceber, ou não quer perceber... Ela estava e está certa.
9. Ensaio uma explicação. Minha formação acadêmica é toda em Teologia. Não foi, até o mestrado, uma formação propriamente tecnicista. Não tive uma formação tecnicista, de adestramento, eu diria. Não aprendi a escrever artigos assépticos, tratando da coisa como quem olha para ela desde outro mundo, mas não pode emitir juízos, vê-se politicamnte obrigado a nem dirigir uma palavra sequer, de si, mas a permanecer estanque em seu espaço, ainda que cuspindo no cara ali do lado, o que se faz por meio de indiretas. O importante é não se expor, não deixar claro que se olha no olho, porque a ciência é asséptica, impessoal... Teologia é, ao contrário, sempre, muito conflitiva. Talvez ainda seja mais teólogo do que imagine...
10. Se tivessem me adestrado assim, talvez eu saberia dar tapas em ombros. Mas não aprendi. Nem nos de meu amigo Haroldo. Nem nos de Bouzon, meu orientador do doutorado. Se não nos deles, no de quem mais? Aprendi - com quem? - a ler um texto, e a devorá-lo, a dialogar com ele pedaço a pedaço, a criticar, a caçar os fundamentos, a comparar o que se diz com aquilo do que se diz e ver se "bate". Não aprendi a fazr essa "ciência" insossa, sem sangue. Aí, minhas tripas acabam se envolvendo. Acho que Frank ficou tão aborrecido de ver um desconhecido criticando seu artigo, coisa que os especialistas, colegas, não ousam fazer, se é que se lêem entre si, que, em vez de verificar a procedência das críticas, pôs-me a correr, com pontapés - que provoquei, eu sei...
11. Vou colher frutos, eu sei. Alguns, podres. Será necessário encontrar alguém realmente grande, para aturar-me. Não é qualquer "doutor" que me consegue suportar, pela impertinência. Tem de ser alguém que sabe dos seus limites, sabe dos meus, que põe a procedência à frente da vaidade, que está mais interessado no objeto que pesquisa do do que nos textos que escreve sobre os objetos que pesquisa. Eu poderai fazer como o cão de rua, pôr o rabo entre as pernas, fazer olhos de "sei meu lugar, pobre de mim", e "adequar-me". Mas prefiro arriscar. Não serei amado por todos. Sofrerei o tranco. E dói, não se enganem. Mas esse é o homem com quem Bel dorme, e gosto de fazer Bel saber que é esse ele que está com ela que está onde quer que ele mesmo esteja, porque esse é ele, e não uma casca.
12. Meu defeito é ser excessivamente irônico, excessivamnte independente, excessivamente autônomo, crítico. Dependo existencialmente de parceiros, de interlocutores, que saibam enxergar por sobre esse muro psicológico, porque, quem me conhece sabe, estou aberto existencialmente à constatação de meus erros. Mas a autoridade de ninguém me demove de minhas convicções. Eu só reconheço autoridade no jogo político. Em nenhum outro. Submeto-me, sim, à correção - mas por meio de argumentos.
13. Penso que não é o caso de minha crítica ao artigo de Frank. Voltei a ele, três anos depois, instado por uma segunda crítica. Nem Frank nem meu amigo missivsita me dão argumentos. Só emitem juízos. No que diz respeito a esse debate, ainda fico com minha crítica, a despeito de, aos olhos de Frank, ser confusão e vergonha. A questão é - para quem?
2. Tomado de espanto (lembtro que eu tremia...), mandei meu artigo para minha amiga Celeste, mestra em e professora de Língua Portuguesa na Faculdade Batista do Rio de Janeiro, depois de anos no Colégio Militar, e, agora, doutoranda na UERJ. Ela me disse que o artigo era exageradamente irônico, mas que, absolutamente, não tinha nada de confuso. Incontinenti, apaguei algumas das ironias mais contundentes, deixei algumas, e publiquei em ouviroevento.
3. Hoje recebi um e-mail. Alguém lera minha critica, e se dispusera a me escrever. No entando, apontava, apenas, o grau excessivo de ironia que ele comporta, e, ao final, põe-se ao lado de Frank. Diz, por exemplo, que eu deveria ter apontado, como ele disse?, fundamentos...
4. Bem, qualquer um que leia, tecnicamente minha crítica, verá que tomo parágrafo a parágrafo e critico. Logo, a crítica que minha resenha deve sofrer é se ela lê adequadamente Frank: a) o que eu disse que Frank disse ele de fato disse? b) a crítica que eu faço a isso que Frank disse é pertinente? No entanto, meu missivista apenas repete o que eu mesmo dissera no topo do texto - meu texto é irônico, mesmo depois de alguma faxina.
5. Por que era - e é - irônico? Porque eu li cada uma das críticas de Frank, e o equívoco me parecia tão óbvio, que eu fui perdendo a paciência. Nas últimas críticas que lia, minha cabeça já repetia: "não é possível!". Um bom leitor deveria ir lá e verificar se entendi direito o texto de Frank, e se minhas críticas são pertinentes.
6. Acabei de ler o texto. Todo. Fiz alguns acertos. Constrangi-me com alguma ironia mais exagerada, eventualmente dispensável. Mas endosso - hoje - tudo que disse. O artigo de Frank não tem procedência, se aplicado nos termos em que ele mesmo se diz aplicar. Se, contudo, ele é aplicado ao uso indevido que a teologia faz da fenomenologia da religião, então ele é perfeito. Como está, não tem fundamento.
7. A questão que aqui me toca é: porque tendo para a ironia? Falta de domínio do assunto? Dificuldade de relação social? Pura maldade e instinto de implicância? Revanchismo de pobre, suburbano e morador da Baixada Fluminense?
8. Não sei. Sei que a ironia é uma marca minha. A impaciência acadêmica, também. Minha amiga, a doutora Mary Rute Esperandio, quando revisou meu artigo da PUC-PR, disse exatamente isso: que meu texto reverberava impaciência diante de obviedades que a teologia não consegue perceber, ou não quer perceber... Ela estava e está certa.
9. Ensaio uma explicação. Minha formação acadêmica é toda em Teologia. Não foi, até o mestrado, uma formação propriamente tecnicista. Não tive uma formação tecnicista, de adestramento, eu diria. Não aprendi a escrever artigos assépticos, tratando da coisa como quem olha para ela desde outro mundo, mas não pode emitir juízos, vê-se politicamnte obrigado a nem dirigir uma palavra sequer, de si, mas a permanecer estanque em seu espaço, ainda que cuspindo no cara ali do lado, o que se faz por meio de indiretas. O importante é não se expor, não deixar claro que se olha no olho, porque a ciência é asséptica, impessoal... Teologia é, ao contrário, sempre, muito conflitiva. Talvez ainda seja mais teólogo do que imagine...
10. Se tivessem me adestrado assim, talvez eu saberia dar tapas em ombros. Mas não aprendi. Nem nos de meu amigo Haroldo. Nem nos de Bouzon, meu orientador do doutorado. Se não nos deles, no de quem mais? Aprendi - com quem? - a ler um texto, e a devorá-lo, a dialogar com ele pedaço a pedaço, a criticar, a caçar os fundamentos, a comparar o que se diz com aquilo do que se diz e ver se "bate". Não aprendi a fazr essa "ciência" insossa, sem sangue. Aí, minhas tripas acabam se envolvendo. Acho que Frank ficou tão aborrecido de ver um desconhecido criticando seu artigo, coisa que os especialistas, colegas, não ousam fazer, se é que se lêem entre si, que, em vez de verificar a procedência das críticas, pôs-me a correr, com pontapés - que provoquei, eu sei...
11. Vou colher frutos, eu sei. Alguns, podres. Será necessário encontrar alguém realmente grande, para aturar-me. Não é qualquer "doutor" que me consegue suportar, pela impertinência. Tem de ser alguém que sabe dos seus limites, sabe dos meus, que põe a procedência à frente da vaidade, que está mais interessado no objeto que pesquisa do do que nos textos que escreve sobre os objetos que pesquisa. Eu poderai fazer como o cão de rua, pôr o rabo entre as pernas, fazer olhos de "sei meu lugar, pobre de mim", e "adequar-me". Mas prefiro arriscar. Não serei amado por todos. Sofrerei o tranco. E dói, não se enganem. Mas esse é o homem com quem Bel dorme, e gosto de fazer Bel saber que é esse ele que está com ela que está onde quer que ele mesmo esteja, porque esse é ele, e não uma casca.
12. Meu defeito é ser excessivamente irônico, excessivamnte independente, excessivamente autônomo, crítico. Dependo existencialmente de parceiros, de interlocutores, que saibam enxergar por sobre esse muro psicológico, porque, quem me conhece sabe, estou aberto existencialmente à constatação de meus erros. Mas a autoridade de ninguém me demove de minhas convicções. Eu só reconheço autoridade no jogo político. Em nenhum outro. Submeto-me, sim, à correção - mas por meio de argumentos.
13. Penso que não é o caso de minha crítica ao artigo de Frank. Voltei a ele, três anos depois, instado por uma segunda crítica. Nem Frank nem meu amigo missivsita me dão argumentos. Só emitem juízos. No que diz respeito a esse debate, ainda fico com minha crítica, a despeito de, aos olhos de Frank, ser confusão e vergonha. A questão é - para quem?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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