1. Ainda O Fim da Modernidade. Referindo-se a posturas filosóficas européias de invocação do retorno às origens (num parágrafo em que se refere à ameaça nuclear de que, aqui e ali, mais ou menos, se tem medo, e à qual se reage de ene modos), Vattimo declara o seguinte:
1.1 "A fraqueza dessa posição consiste não apenas na ilusão (...) de que se possa retornar às origens, mas, sobretudo, o que é mais grave, na convicção de que das origens podia não vir o que de fato veio" (VATTIMO, O Fim da Modernidade, Martins Fontes, p. x).
2. E não? O fato de que as coisas se deram do modo como se deram, significa que, se acontecessem outra vez, se dariam exatamente da mesma maneira? Estou diante, ademais, de um fatalista? Vattimo não acredita, definitivamente, em História? O mundo, nós, estamos dentro de uma câmara fechada, e nossos comportamentos, pensamentos, sentimentos, são todos decididos por uma máqina, de modo que, se recomeçássemos, seríamos os mesmos, de modo que, se recomeçássemos, a História teria sido a mesma? A História é fatalidade pré-decidida, cntrolada... desde fora?
3. Não creio nisso. Não creio nem que o amanhã esteja pronto, nem que o ontem tenha sido pré-determinado em e por seu próprio passado. Para mim, o futuro vai-se fazendo desde o passado e o presente, mas sem que se possa dizer, antes que ele chegue, o que ele será. O passado e o presente vão afunilando possibilidades, alternativas, cenários, o que pode vir a ser o futuro imediato é cada vez mais um conjunto menor de cenários, de modo que qanto mais longe o futuro esteja, mais alternativas há, mas, ainda assim, ainda que daqui a um minuto, não há como dizer o que ele será - em termos absolutos. O futuro é aberto, aleatório, incerto.
4. Do mesmo modo, o passado. Se Prigogine estiver certo, se o universo é "histórico", e, com ele, nós - e creio nisso, tanto numa quanto noutra coisa, o passado é irrepetível e imutável (conquanto a nossa memória quanto a ele possa transformá-lo até o ponto da quase-realidade psicológica), então o que foi, foi. O futuro é absolutamente aberto. O passado, absolutamente fechado. Mas nem o passado nem o futuro são ações mecânicas de autômatos sob controle de um script. Passado e futuro são grandezas históricas que se constroem no risco e na função de incontáveis agentes, físicos, biológicos, sociológicos, noológicos.
5. O que veio das origens, veio. Nesse sentido, é mesmo surpreendente que não nos cheguemos a dar conta tão facilmente de que toda a desgraça do presente saiu das origens, de modo que a nostalgia das origens parece descuidar do fato de que foi por meio daquela origem, também, que, agora, estamos aqui... Todavia, também pode ser que essa nostalgia filosófica pelas origens apenas deixe transparecer aquele sentimento pessoal de remorso e de desejo de ter feito as coisas de modo diferente. Projetando essa angústia pessoal, na História, podemos nos deixar tomar pelo sentimento de que poderíamos recomeçar e fazer tudo diferente, corrigindo os erros.
6. Eventualmente seria possível. Se pudéssemos voltar e recomeçar... Acredito que poderíamos fazer tudo difernete, sim. Impossível que fizéssmos da mesma forma, porque nem nos lembramos de tudo, para o repetir. Mas, o mais grave, é que não poderíamos, sob nenhuma hipótese, controlarmos os acontecimentos. A ecologia da ação (Morin) trataria de pôr o trilho em curso aleatório outra vez, contendo, em sua corrida de rio planície abaixo, todo o bem e todo o mal que pudéssemos realizar. Seria outra História. Mas, acima de tudo, seria História, aleatória, aberta... Poderia ser tudo melhor... ou pior... ou "igual" (em termos de valor).
7. Vattimo raciocina como se eu, ele e você fôssemos mariontes. Talvez esse seja o inferno da pós-modernidade: deixar-se moldar... entregar o timão... tornar-se um autômato... Das origens, Vattimo, poderia ter vindo muitas outras coisas. Tudo de melhor. Tudo de pior. Veio o que veio. Mas isso não é fatalidade, homem! Isso é História!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
Parece que para Vattimo o mundo funciona como um PC que a cada boot tudo acontece do mesmo jeito, e quando não, formata-se a máquina para acontecer tudo, como sempre teria de acontecer. Isso não é estruturalismo?
Prefiro o Paulo Freire, que abomina o fatalismo...
Eu asempre fico com medo de não ter compreendido bem o sujeito, principalmente quando, à minha volta, pessoas dizem coisas sobre o sujeito completamente diferente das que eu vejo. É como Nietzsce, que dizem que desprezou a História - nunca leram Nietzsche, ou eu apenas acho que aprendi a ler?
Fico com medo e, então, releio tudo de novo. É uma pulsão. Em vez de ler meus preferidos, acabo tomando os não-amigos para ler, para ver se nao fiquei doido...
Postar um comentário