1. De Vattimo, O Fim da Modernidade:
1.1 "Mas dir-se-ia, tudo isso é tipicamente moderno. De fato (...). É só a modernidade que (...) confere um alcance ontológico à história, significado determinante para nossa colocação no curso desta. Se assim é, porém, qualquer discurso sobre a pós-modernidade parece ser contráditório (...). No entanto, as coisas mudam se, como parece deva-se reconhecer, o pós-moderno se caracterizar não apenas como novidade em relação ao moderno, mas também como dissolução da categoria do novo, como experiência de 'fim da história', mais do que como apresentação de uma etapa diferente, mais evoluída ou mais retrógrada, não importa, da própria história" (GIANNI VATTIMO, O Fim da Modernidade - nnilismo e hermenêutica na cultura pós-oderna. Martins Fontes, p. viii-ix).
2 Haveria alguma coisa mais... cristã? É como se a solução que Vattimo enxergasse para o problema da modernidade fosse escatológica! Mas, como Vattimo não quer mais brincar de metafísica, a brincadeira agora é outra, seculariza-se a escatologia, como secularizou-se tanta coisa cristã (o estruturalismo não passa de calvinismo secularizado, por exemplo). Com essa escatologia-secularizada, com a descoberta de Vattimo de que o "céu" é aqui, (à semelhança da sartreana declaração de que o "inferno" são os outros, outro flagrante de secularização,) pode-se olhar à volta e optar-se por enxergar apenas Lázaro no seio de Abraão... Mas... e quanto ao rico?
3. Com esse gesto criativo - acabou a história, começou a escatologia light, pode-se dizer que essa nova etapa do Ocidente vattimoniano não é uma nova etapa, mas uma etapa em outra dimensão, uma outra história, a-histórica, mítica, de eternos retornos intermináveis, onde cabeça e cauda se amarram numa mordida ou num coito alucinado, dependendo do que entra onde... Com isso se pensa salvar o mundo. Da mesma forma cuidava-se que a escatologia era a marca do início da concretização da salvação do mundo: no momento em que Jesus surgir nas nuvens, arrebatam-se os salvos, vamos todos para as nuvens, com ele, para a Nova Jerusalém. Quanto aos que ficarem, bem, não contam, porque tudo é novo, a escatologia é esse remédio anti-depressivo, em que você não sofre com o inferno alheio, porque o seu céu é construído sobre ele, a despeito dele... Ah, um céu feliz, e um inferno ali do lado... algo mais cínico do que isso?
4. Pois bem, se a pós-modernidade de Vattimo é a secularizaão da escatologia cristã, a face filosófica do fim da história e início do céu (como Platão, Vattimo navega num oceano de mitologias mitigadas, conquanto cuide superá-las, superando a metafísica), e se a escatologia cristã, além de inaugurar o céu, inaugura, com ele, também, o inferno, resta perguntar onde está, na utopia pós-moderna de Vattimo, o inferno.
5. Se é correto ler a retórica de Vattimo como o exercício cristão-secularizado da tradição cristã-ocidental, tanto o céu quanto o inferno, materializados no ato da parusia, estão inaugurados na pós-modernidade. Também o estruturalismo assassinava a individualidade subjetiva humana, tanto quanto o fizera o calvinismo, de que é mera secularização. Logo, se o estruturalismo está marcado pelo vício e pelo pecado calvinista, de que é secularização, a escatologia pós-moderna de Vattimo, por hipótese, está inexoravelmente marcada pelo pecado e pelo vício da escatologia cristã, sua gêmea teológica. Logo, o inferno está aí, dentro da utopia.
6. Onde? Cérbero ruge...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 Haveria alguma coisa mais... cristã? É como se a solução que Vattimo enxergasse para o problema da modernidade fosse escatológica! Mas, como Vattimo não quer mais brincar de metafísica, a brincadeira agora é outra, seculariza-se a escatologia, como secularizou-se tanta coisa cristã (o estruturalismo não passa de calvinismo secularizado, por exemplo). Com essa escatologia-secularizada, com a descoberta de Vattimo de que o "céu" é aqui, (à semelhança da sartreana declaração de que o "inferno" são os outros, outro flagrante de secularização,) pode-se olhar à volta e optar-se por enxergar apenas Lázaro no seio de Abraão... Mas... e quanto ao rico?
3. Com esse gesto criativo - acabou a história, começou a escatologia light, pode-se dizer que essa nova etapa do Ocidente vattimoniano não é uma nova etapa, mas uma etapa em outra dimensão, uma outra história, a-histórica, mítica, de eternos retornos intermináveis, onde cabeça e cauda se amarram numa mordida ou num coito alucinado, dependendo do que entra onde... Com isso se pensa salvar o mundo. Da mesma forma cuidava-se que a escatologia era a marca do início da concretização da salvação do mundo: no momento em que Jesus surgir nas nuvens, arrebatam-se os salvos, vamos todos para as nuvens, com ele, para a Nova Jerusalém. Quanto aos que ficarem, bem, não contam, porque tudo é novo, a escatologia é esse remédio anti-depressivo, em que você não sofre com o inferno alheio, porque o seu céu é construído sobre ele, a despeito dele... Ah, um céu feliz, e um inferno ali do lado... algo mais cínico do que isso?
4. Pois bem, se a pós-modernidade de Vattimo é a secularizaão da escatologia cristã, a face filosófica do fim da história e início do céu (como Platão, Vattimo navega num oceano de mitologias mitigadas, conquanto cuide superá-las, superando a metafísica), e se a escatologia cristã, além de inaugurar o céu, inaugura, com ele, também, o inferno, resta perguntar onde está, na utopia pós-moderna de Vattimo, o inferno.
5. Se é correto ler a retórica de Vattimo como o exercício cristão-secularizado da tradição cristã-ocidental, tanto o céu quanto o inferno, materializados no ato da parusia, estão inaugurados na pós-modernidade. Também o estruturalismo assassinava a individualidade subjetiva humana, tanto quanto o fizera o calvinismo, de que é mera secularização. Logo, se o estruturalismo está marcado pelo vício e pelo pecado calvinista, de que é secularização, a escatologia pós-moderna de Vattimo, por hipótese, está inexoravelmente marcada pelo pecado e pelo vício da escatologia cristã, sua gêmea teológica. Logo, o inferno está aí, dentro da utopia.
6. Onde? Cérbero ruge...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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