1. Já se foi o tempo em que bastava a recitação do credo. Eram dias católicos. Bons dias. Erasmianos dias. Dias de missa e sacramento. Dias de reza e cruz. De persignação e genuflexão. De óstia e de aspersão, sino e insenso. Acabou.
2. Os nosso são dias evangélicos. Dias de ler a Bíblia. Dias de dizimar, senhores. Dias de cantar e virar os olhos. Dia de erguer mãos e orações, porque Deus é um pé de amoras...
3. No dia em que se mandou ler a Bíblia, e ler, aí, não é ouvir o padre ler, é ler tu mesmo, Jesus morreu. O Jesus da fé vive enquanto não se lê a Bíblia. Basta que se abra Mt 1,1 e se vá, devagarinho, devagarinho, pronto, cadê? Isso é tão verdadeiro que o oposto o ratifica: se abres tua Bíblia, e o Cristo da Fé está lá, não lês, folheias, tão somente...
4. Quanto esforço, não?, para mantê-lo. Haja "harmonia dos evangelhos". Mas Erasmo já cantara a pedra... confusão... E onde ela não se instala, é porque Roma, disfarçada de Wittenberg, incensa a nave...
5. Os protestantes, um pouco mais sagazes do que os "simples" evangélicos, perceberam há um século e meio a falácia do Cristo da Fé borboleteando sobre papel e página. Mas o ídolo é forte demais, e trataram de inventar uma moda cristológica - o Jesus historico...
6. Ora, ora, ora, senhores, além de ser absolutamente inútil a busca, se ela não fosse inútil, se fosse possível encontrar, mesmo, o Jesus histórico, ora, senhores, o que se há de fazer com um Jesus histórico? Apenas a uma consciência kantiana ( pós-kantiana), marxiana (e pós-marxiana), feuerbachiana (e pós-feuerbachiana) faz sentido um "Jesus histórico". Nos páramos da Teologia da Fé, não apenas não serve para nada, quanto é destrutivo... se não, já, outra mentira...
7. Queres um Jesus rabi? Encontras. Queres um Jesus quase-zelote? Encontras. Queres um Jesus próximo-essênio - fabrica-se um mosteiro qumranita para ele. Queres um Jesus gnóstico? Vai-se na Rua João, esquina com Epistolas Joaninas. Queres um Jesus taumaturgo? Lucas te um fresquinho. Queres um anjo? João! Os Evangelhos são uma feira jesuânica, cada um uma banquinha de limões - revolucionário, pacifista, curador, profeta, rabi...
8. E acabo de ler que meu amigo Fanuel não é conservador... Quero crer não seja, mesmo, posto que é ele mesmo quem o diz. Mas conservamos, ou não, essa hipnose jesuânica sobre nossas cabeças? Ou haverá doses de conservadorismo, assim como invetamos de aceitar interdições sim, interdições, não, de Levítico, sempre nós mesmos a marcar positivo e negativo sobre velhas prescrições culturais? Agora marcaremos positivo e negativo sobre velhas teologias? Será que chegamos ao ponto que classificar escalas de conservação, e de avaliar boas e más conservações? Ora, todo e qualquer que carrega o nome "cristão" não é, já, um conservador? E mais, todo o que, carregando esse nome, mira seja o da fé, seja o histórico, não é, já, mais que conservador, um idólatra?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
Oi, Osvaldo.
Este é sem dúvida o ponto nevrálgico da coisa.
Se na desconstrução dos "alicerces" teológicos da catequese não se tiver a coragem e o bom senso de se desconstruir a imagem do Cristo da fé, não se desconstruiu nada.
Foi difícil, trágico para mim, mas consegui, pelo menos tenho conseguido até aqui.
Interessante que , ligado ao título do post, Feuerbach disse que o Filho é o ápice da idolatria pois é a IMAGEM de Deus.
Bem, se alguém quer fazer Teologia crítica, científica, tem que enfrentar esta questão: ou se é conservador e assume-se, ou não se é e assume-se, sem tergiversar; ou se quebra todos os ídolos ou conserva-se todos. Não há negociações.
É pesado, muito pesado, mas é assim (pelo menos pra mim).
Robson Guerra
Sim, Robson. É verdade. É culpa de nossa consciência histórica, de nossa "exigência" histórica. Um crdo é um credo, e pronto. Como dente de leão, você assopra e ele se desfaz... A personagem histórica "Jesus" é, por isso mesmo, histórica, e não lhe cabe nenhuma das maravilhas, como a nenhum homem cabe. Logo, ou se fica com o credo, maravilhoso, mas não-histíorico, ou com o homem, histórico, mas não-maraviloso. O que é constrangedor é observar que ainda se imagina ser possível tornar "útil" um ou outro. O credo, eu entendo, é muito "útil". O Jesus-homem? Só se for para fazer com ele o que se faz com milhões - manipulá-lo... Não são teológica e pastoralmente muito úteis as pessoas?
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