1. Se há uma coisa de que desgosto é a relação "guru" "discípulo" que se delineia em alguns ambientes ditos "acadêmicos". Está bem, que seja uma patologia minha. Minha? Bem, não apenas "minha", que, ao menos, outro infinitamente melhor pensava assim também: "agrado-te, os meus discursos atraem-te, / Queres seguir-me e seguir o trilho dos meus passos? / Segue-te fielmente a ti mesmo. / E assim me seguirás... muito suavemente muito suavemente." (Nietzsche, A Gaia Ciência, Aforismo 7).
2. "Segue-te fielmente a ti mesmo". Faço isso. Sigo fielmente a mim mesmo. E tenho reiteradamente dito isso a meus alunos - segui-vos a vos mesmos, que nem somos boiada, nem sou alfa...
3. Não é que não aprendo com ninguém - não e é isso. Dentro de mim moram pedaços de Eliade e de Morin mais do que de quaisquer outros, mas pedaços de outros, também, como de Nietzsche, Ginzburg, Peirce... Muitos. Sou multidão. Sou casta... Refiro-me a apenas isso: a aprender como se faz, isto é, como eles se fizeram, como colheram gravetos e acenderam seu fogo roubado aos deuses.
4. Depois é pôr o pé na estrada, o outro, um, o outro, e seguir, temerosa, mas resolutamente. Não é fazer-se à semelhança deles - é inspirar-se neles. É recolher com as mãos a sua sabedoria, e construir com ela sua própria jangada, porque uma coisa é certa: nesse oceano da vida, altas são as ondas, forte a tempestade, e há que ser forte, seja o marujo, seja a capitânia...
"Imitadores - A: 'Como? Não queres imitadores?' B: 'Não quero que me imitem nisto ou naquilo; quero que cada um esclha pessoalmente o seu modelo, é o que eu faço.' A: 'Pois nesse caso!...'" (Aforismo 255).
"O Solitário. Detesto seguir alguém assim como detesto conduzir. / Obedecer? Não! E governar, nunca! / Quem não se mete medo não consegue metê-lo a ninguém. / E só aquele que o inspira pode comandar. / Já detesto guiar-me a mim próprio! / Gosto dos animais das florestas e dos mares, / De me perder durante um grande pedaço, / Acocorar-me a sonhar num deserto encantador, / E forçar-me a regressar de longe aos meus penates, / Atrair-me a mim próprio... para mim" (Aforismo 33).
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário