sexta-feira, 12 de junho de 2009

(2009/346) A Teologia e o blog da PETROBRAS


1. O título deste post é ambíguo. E não é. Há quatro "agentes" envolvidos no que quero escrever. O blog da PETROBRAS, os "editorialistas" da maedia vociferante, a Teologia "confessional" do fidei depositum e um projeto de Teologia científico-humanista, em trabalho de parto, mas prestes, a qualquer momento, a ser abortado. Vamos lá.

2. Histórico do blog da PETROBRAS. Até as arestas dos cacos de telha de monturos de obra sabem que a CPI da PETROBRAS, armada pelo demo-tucanato vendedor-da-Vale e quase-vendedor-da-Petrobras (e a gente devia ter impedido a venda da Vale também - quer dizer, venda não, que aquilo não foi venda, foi "entreguismo" cínico e criminoso), tem inconfessáveis, todavia notórios, interesses econômicos e político-partidários. Há mais aí, em torno da CPI, do que aquelas caras teatrais-profissionais da "oposição" dizem aos seus assessores midiáticos. Há o pré-sal - precisamos, rápido, de um novo Monteiro Lobato! -, há os interesses das grandes "produtoras" (?) de Petróleo, internacionais, multinacionais, aquelas mesmas que, agora, estão sentadas sobre as jazidas do Iraque, onde estavam, antes de sua nacionalização...

3. O Governo sabe, o Estado sabe, a base governista sabe, a oposição sabe, a maedia sabe, nós sabemos: mas não estamos todos do mesmo lado, não. Não mesmo! Melhor do que tudo: a PETROBRAS sabe. E sabe de duas coisas: primeiro, que essa CPI serve a dois propósitos: minar a própria PETROBRAS e, segundo, preparar o circo para 2010 (só há de se decidir quem é o palhaço e quem é o malabarista, se a maedia, se o demo-tucanato).

4. A PETROBRAS resolveu reagir. E que reação! Abriu um blog - Petrobras Fatos e Dados. Por meio dele, passou a fazer duas cosias: a) antecipar as perguntas que os "jornalistas" da maedia encaminhavam à Empresa, e b) apresentar antecipadamente à maedia as respostas da Empresa àquelas perguntas. A razão é simples, tão clara quanto as águas de Bonito: os "repórteres", generalizando, e excetuando-se aqueles que podem, de fato, usar o nome de "repórter", pinçavam uma ou outra declaração da Empresa, mas, na prática, escreviam o que queriam escrever e o teriam escrito mesmo sem as perguntas, porque não se trata de "reportagem" nem de "entrevista", mas de "matéria" político-ideológico programática.

5. Com seu gesto, a PETROBRAS passou a dar informações diretamente aos "leitores", na prática, ao povo brasileiro, que ganhava, de um lado, um canal de comunicação com, de longe, a maior empresa do Brasil - em todos os sentidos -, e, de outro, subsídio para perceber, no ato da burla, a manipulação "jornalística" da "pauta" dos jornalões nacionais. O leitor podia ler as perguntas dos jornalões, as respostas da Empresa e, confrontando-as, perceber o grau de "edição", digo, "manipulação", da matéria publicada.

6. Ah, a maedia estrebuchou. Jornalistas "profissionais" subiram nas tamancas. Uma de suas associações, tomada de profética indignação, veio a público, reclamar, para, imediatamente, ser posta em seu lugar pela própria ABI e pela OAB, que declararam absolutamente pertinente, justa e ética a posição da PETROBRAS. Por último, os "editorialistas", a "voz" dos jornalões, em coro ensaiado, veio a público, resmungar. A PETROBRAS deu espaço para a reclamação - isso, em direito, chama-se juris esperniandi...

7. Na prática, os "editorialistas" alegam que a "imprensa" é a voz da notícia. Sem a sua "edição", o público perde... Sim, e não. A imprensa é maedia - é meio. Deveria ser. Mas virou fim. Trabalha para si mesma, para seu ventre e bolso. Não é para o país que trabalha (mais - se algum dia o fez). Não é para a nação. Não é, sequer, para o povo. É para si, para sua conta bancária. Para isso, alia-se - desde sempre - ao que de mais reacionário há no cenário político e econômico-financeiro brasileiro. PFL/DEM, e, agora, PSDB, enfronham-se até a obscenidade no jogo midiático. A "direita" e "extrema-direita", a falsa esquerda, o cinismo político-marqueteiro está fulo da vida, porque vai-se revelando desnecessário, mais do que supérfluo, prejudicial, nocivo, maniplador, entreguista - traidor da Pátria - esse "serviço" espúrio.

8. Na prática, transformam a intermediação em fim. Na prática, transformam aqueles para quem deviam trabalhar, a quem deviam servir, em massa útil. Não é apenas o fato de ser contestada pela PETROBRAS, mas de, com sso, a PETROBRAS pôr em ameaça a disfunção funcional da maedia - a própria empresa pode pôr-se em comunicação com o povo, dispensando - ai, que medo! - as fortunas que despeja com propaganda... nos jornalões. E, o que aqui me interessa: deixar claro que uma maedia que perde a função, que manipula a informação, não é apenas inútil, é criminosa.

9. Pois bem, extraio desse "caso" um elemnto, e apenas esse, deixo claro, para, com ele, refletir sobre a disputa que se começa a travar - e que se há de tornar mais acirrada - entre a Teologia confessional e uma Teologia (verdadeiramente) cintífico-humanista - no MEC. Vamos a um breve histórico.

10. Desde a Reforma - culpa da Reforma, certamente, ainda que ela mesma jamais o quisera -, que o Ocidente re-iniciou (depois da "morte" medieval e do Renascimnto daí decorrente) um processo de despertamnto das rotinas crítico-racionais de conhecimento. Platão começou a ser, lentamente, aposentado. Aristóteles passaria a ser "namorado" cada vez mais eroticamente pela sociedade ocidental, fato que levou a Igreja à tentativa de um castramento aristotélico, dito, improcedentemente, "teologia aristotélica tomasiana", quando fora castração mesmo... Nem um tijolo do edifício medieval esboroou-se com o "aristoteismo tomasiano", porque, a rigor, no que era definitivamente nevrálgico, nada, na sua base, foi alterado (mais ou menos como a "moda" da Teologia como metáfora, que ronda os currais teológicos...).

11. Debalde, contudo. A sociedade ocidental experimentou inexorável impulso emancipador, crítico, revolucionário, racional, ético, a começar pelas disputas entre Teologia Bíblica e Teologia Sistemática, que vai levar à separação definitiva de ambas em 1787 (marco didático). Hoje, Teologia Sistemática nada tem a ver com Exegese e Teologia Bíblica - trata-se de um fóssil patrístico-medieval, platônico, uma assombração, um zumbi conciliar. Mas ela se considera a novela das oito - porque é ela, ainda, a sustentar a política eclesiástica evangélico-protestante.

12. Paralelamente a isso, na Inglaterra, elaboram-se os projetos político-liberais e científico-empíricos - adeus, Platão! Na França, um ainda insuficiente e equivocado cartesiaismo (idealismo platônico não-eclesiástico) ensaia uma libertação do autoritarismo de Roma e de Wittenberg. Mais tarde, os dois movimentos hão de se encontrar. O "canal" que o peritirá será a Revolução Francesa, que, como marco didático, marca o início da emergência do sistema democrático-replubicano de governo, no Ocidente. Na seqüência, surge o Romantismo que, em diálogo-confronto com o Iluminismo (cartesianismo/empirismo/racionalismo), dá nascimento ao sistema heurístico moderno - Ciências da Natureza, Ciências Exatas e Ciências Humanas.

13. A Teologia ficou isolada. Enquanto tudo o mais assumiu uma plataforma não-metafísica (isto é, não mitológica), não-ontológica (isto é, não nomativa), ela, não. Deus permaneceu firme nos portais da Teologia. Ela, teocrática, platônica e normativa, jamais admitiu abrir mão de seu reinado. Ela, coitada, foi sacerdote do conhecimento (Ml 2,7) por tanto tempo, que, pobre dela, ainda acha que é de sua boca que sai qualquer coisa a que se possa chamar de "conhecimento". Sai mito, e olhe lá, porque, no que ela fala, hoje, nem mais aquela densidade psicológico-política, profunda, do mito, se pode perceber. É meramente uma arranjo conciliar-doutrinário, de caráter político-platônico, embolorado e dispensável, descolado da realidade - e até da realidade da própria Igreja. Construção oca. Vergalhões enferrujados, imprestáveis para arrimo do que quer que seja, e que somente estão de pé à custa de muita retórica e prestidigitação intra-muros: o mundo todo sabe que ela ruiu, mas ela faz que não...

14. No fundo, o problema da Teologia confessional (e tanto faz, agora, se seja no MEC ou não) é o mesmo do jornalismo midiático - assenhoreou-se do serviço, e tornou-o e a si mesma fim. Não é como intermediária que ela se firma, mas como topos. Ela, o axis mundi... A sociedade desdobra-se a partir dela - é o que ela acha. Pensar que qualquer um possa denunciar o anacronismo de seus fundamentos... impossível! Por que todo o esforço - hercúleo e impertinente (ainda que legitimamente provinciano - é seu "consolo") - para desviar-se do paradigma epistemológico científico-humanista? Para não cair na mão dos "homens", como se, tal qual é, estivesse na mão de "Deus"? Mas "Deus" aí não é mais do que uma pálida cortina para a normatização política da tradição... Isso ela o sabe, mas não o pode admitir.

15. Penso que a Teologia sabe - é a única coisa que ela "sabe", afinal - que, no jogo científico-humanista não há como ela manter-se "adminsitrando" o "saber" teológico, que não é "saber", mas mito e racionalização. É como o anjo acima - de longe, é uma coisa, mas quando você olha de perto... Por isso: mantenham os homens longe! É justamente isso que ela não quer, abrir mão de ser a gestora, ela mesma, daquilo com o que ela se apresenta em praça pública cmo "gestora" das coisas de Deus. Como o jornalista corporativo indignado diante do blog da PETROBRAS, a Teologia confessional se agarra à retórica confessional-medieval para impedir que seu "fazer" corporativo resulte, afinal, "democratizado". No MEC, qualquer um há de meter o dedo na Teologia. E ela, quero dizer, eles e elas, eles, o teólogos, elas, as teólogas, o querem?


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

PS. Para uma opinião sobre a CPI da PETROBRAS alguma coisa próxima e alguma coisa distante da minha, cf. "O Jogo do Pré-sal na CPI".

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio