domingo, 31 de maio de 2009

(2009/315) Teologia em universidade pública (II)


1. Osvaldo. Sua reação é pronta e oportuna. Hoje deixei de ir à igreja, mesmo sendo dia de Pentecostes e, na minha Igreja, estar sendo lançada a segunda versão da Campanha de Missão, em nível nacional. Tive que tomar uma decisão. Como amanhã meu dia de trabalho começa às 7h10min e só termina às 22h, e tendo que terminar, neste 31 de maio, pelo menos 5 tarefas pendentes até hoje, estou aqui, em casa, trabalhando e conectado. De fato, sempre de novo a gente se admira quanta coisas que a internet possibilita sem sair de casa. O efeito colateral é que pode haver (há?) uma tendência a suprimir os espaços de diálogo e de crítica que ainda são, s.m.j., o espaço formador de consciência crítica. Peroratio, neste sentido, é diferente.

2. Não foi minha intenção afirmar que deve haver distinção entre teologia em universidade públlica e privada. Em se tratando de formulação de uma teologia a partir de seu método não poderia haver distinção quanto aos espaços nos quais é realizada. É diferente no caso da Antropologia, exemplo por você citado. Antropologia tem parâmetros curriculares nacionais, devendo ser obedecidos pelo menos em patamar mínimo em todos os cursos, em todos os espaços, sendo lícito variações locais a partir do mínimo pactuado na área. O que quis dizer é que, nos limites do pacto relacional republicano Estado e Organizações religiosas no Brasil, uma universidade privada, ainda que profana ou secular, poderia organizar seu curso de Teologia segundo interesses e demandas próprios. Mas, em se tratando de universidade pública, está-se necessariamente em outro nível, pois aí é defeso estabelecer conteúdos mínimos a partir do Estado-Mec, pois se trataria de transgressão de limites constitucionalmente estabelecidos e pactuados. Portanto, em espaço de universidade pública, Teologia deveria ser necessariamente construída a partir de seu método, estando os resultados sujeitos à crítica e experiência de sua falibilidade. Com isso, em princípio, estaria sendo feita a ruptura do esquema platônico-medieval do modo de fazer teologia.

3. Vejo, porém, que este, infelizmente, pode não ser o único caminho possível para a Teologia estar na universidade pública. A concordata entre Estado e Igreja, a exemplo do que acontece na Alemanha, poderia ser uma saída possível. No acordo entre os dois entes, estipula-se regras republicanas de mútua cooperação para o 'bem comum'. No Brasil, isso poderia resultar de um acordo entre os manejadores ou mantenedores dos cursos de Teologia, via suas organizações religiosas respectivas. Neste caso, a teologia na universidade pública teria o rosto de um acordo de cavalheiros quanto a conteúdos mínimos (algo como parâmetros curriculares nacionais). Com isso, o método poderia não ser (ou talvez, não tenda a ser) o ponto fundamental do debate. Mas, eventualmente, a questão do método poderia ser 'efeito colateral' processo.

4. Assim, não defendo de modo algum diferença entre teologia em espaço universitário privado ou público. Disse, e digo, simplesmente, que alocar um curso de teologia em universidade pública exigiria um debate mais profundo, mais sério e mais longo sobre a questão do método em teologia. É seria um passo distinto do que sua alocação dentro das regras atuais em qualquer universidade privada.

5. Há conversas de que Darci Ribeiro teria tido um projeto para alocar um curso de teologia na UnB quando de sua fundação. Seria interessante tomar esse 'rastro' e por um modo indiciário reconstruir tal história ou estória.


HAROLDO REIMER

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