1. O Sl 53 não tem nenhuma relação com o ateísmo contemporâneo, tão-pouco se refere a uma "humanidade" ou a uma "cristandade". Em termos histórico-sociais, trata-se da denúncia apresentada contra os benê-adam, os "filhos de Adão", grupo social constituído pelo rei de Jerusalém, acompanhado de todo o sistema de governo da cidade (aparato militar, religioso e burocrático). O insensato ou desajuizado do v. 1, aí, é o rei, o mesmo "tu" do v. 5 - o chefe da canalha...
2. A denúncia apresentada dá conta de que, em lugar de "apascentarem" o povo - vale aí a metáfora próximo-oriental do rei como "pastor" - o rei e seus oficiais devoram o povo. Esse povo, ele, sim, é chamado de "meu povo". É o "meu povo" que o rei devora...
3. A opressão que o rei exerce sobre o povo é contínua. Todo dia, o dia inteiro. Do v. 1 ao 4, essa é a crítica. No v. 5, o salmista (profeta?) remete a lembrança do ouvinte até o dia do cerco de Jerusalém (o rei, o obreiro da injustiça, será Ezequias?), quando os benê-adam, achando que iam morrer, apavoraram-se - sem razão, alega o salmista, porque Deus destruiu o exércio sitiador. Assim, o rei ficou envergonhado, já que Deus rejeitou o inimigo e poupou a cidade - e, com ela, também o seu próprio rei.
4. Aí está a questão. No v. 6, final, o salmista conclui com uma nota de esperança desesperançada. Ele sabe que de Sião, isto é, Jerusalém, vêm opressões. Ele, então, se expressa assim: "quem dera de Sião viessem as salvações de Israel...". É, quem dera! Mas não vêm. Vêm, ao contrário, as opressões - é o "pastor" quem as envia...
5. Essa esperança desesperançada faz-se seguir por uma consciência da solução: "quando Deus mudar a sorte d seu povo", isto é, quando a situação mudar, quando o povo, que está embaixo, oprimido, ficar por cima, como aquela esperança de Ana (1 Sm 2) e do Sl 113, que afirma que o Senhor ergue o pobre do monturo e o faz assentar-se com os príncipes da terra. Só nesse dia, Jacó celebrará.
6. O salmista sabe que Deus pode mudar a sorte do povo. Basta que ele queira. Por outro lado, não está muito seguro de que as coisas mudem - "quem dera!"... Triste situação: o convívio com a injutiça, com a leniência, com a covardia, com a opressão, às vezes, causa indignação e furor profético. Outras vezes, desesperança. Nos dois casos, reconhece-se que Deus pode fazer o que precisa ser feito. A diferença é que a desesperança está sobremodo desesperançada: os pobre, ah, os pobres, eles sempre estarão entre vós... conquanto Deus pudesse fazer algo a respeito... Talvez por isso haja quem prefira cantar que quem sabe faz a hora, porque a hora do "quem dera!" pode ser essa, agora...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. A denúncia apresentada dá conta de que, em lugar de "apascentarem" o povo - vale aí a metáfora próximo-oriental do rei como "pastor" - o rei e seus oficiais devoram o povo. Esse povo, ele, sim, é chamado de "meu povo". É o "meu povo" que o rei devora...
3. A opressão que o rei exerce sobre o povo é contínua. Todo dia, o dia inteiro. Do v. 1 ao 4, essa é a crítica. No v. 5, o salmista (profeta?) remete a lembrança do ouvinte até o dia do cerco de Jerusalém (o rei, o obreiro da injustiça, será Ezequias?), quando os benê-adam, achando que iam morrer, apavoraram-se - sem razão, alega o salmista, porque Deus destruiu o exércio sitiador. Assim, o rei ficou envergonhado, já que Deus rejeitou o inimigo e poupou a cidade - e, com ela, também o seu próprio rei.
4. Aí está a questão. No v. 6, final, o salmista conclui com uma nota de esperança desesperançada. Ele sabe que de Sião, isto é, Jerusalém, vêm opressões. Ele, então, se expressa assim: "quem dera de Sião viessem as salvações de Israel...". É, quem dera! Mas não vêm. Vêm, ao contrário, as opressões - é o "pastor" quem as envia...
5. Essa esperança desesperançada faz-se seguir por uma consciência da solução: "quando Deus mudar a sorte d seu povo", isto é, quando a situação mudar, quando o povo, que está embaixo, oprimido, ficar por cima, como aquela esperança de Ana (1 Sm 2) e do Sl 113, que afirma que o Senhor ergue o pobre do monturo e o faz assentar-se com os príncipes da terra. Só nesse dia, Jacó celebrará.
6. O salmista sabe que Deus pode mudar a sorte do povo. Basta que ele queira. Por outro lado, não está muito seguro de que as coisas mudem - "quem dera!"... Triste situação: o convívio com a injutiça, com a leniência, com a covardia, com a opressão, às vezes, causa indignação e furor profético. Outras vezes, desesperança. Nos dois casos, reconhece-se que Deus pode fazer o que precisa ser feito. A diferença é que a desesperança está sobremodo desesperançada: os pobre, ah, os pobres, eles sempre estarão entre vós... conquanto Deus pudesse fazer algo a respeito... Talvez por isso haja quem prefira cantar que quem sabe faz a hora, porque a hora do "quem dera!" pode ser essa, agora...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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