segunda-feira, 20 de abril de 2009

(2009/197) Telejornalismo (?) e pós-modernidade



1. Quer visualizar, na prática, o abraço entre o telejornalismo (tele, sim, jornalismo, é de se pôr em dúvida) e a pós-modernidade? Basta sentar diante da TV e assistir aos "jornais" - cada vez mais assisto-lhes menos. Eis o que você poderá, eventualmente, perceber, caso não se trate de um delírio neurótico de minha cabeça:

2. Primeiro, você será treinado a passar, rapidamente, por diferentes emoções - da indiferença irrefletida, ao júbilo incontido e, daí, ao pranto da tristeza, ao rancor pela injustiça, e de volta, à mágoa, à ira, e de novo, à alegria, à frivolidade do mundo dos "artistas", ao fundo do poço do crime, às alturas da divulgação "científica", à imundície cotidiana da política, à cara-de-pau de "cansados", verá a pobreza crua, a riqueza ostensiva, os latifúndios e os barracos, o céu e o inferno, a prostiuição e a pompa da rainha, verá de tudo, e ao fim, não terá visto nada... Durante quarenta minutos, seu espírito será armado e desarmado, incessantemente, até que você tenha consumido todas as suas reservas emotivas.

3. Segundo, você assistirá àquilo a que a ideologia do jornal deseja que você assista, como naquele inesquecível dia em que caiu o Boeing 737-800 da Gol, e o Jornal Nacional ficou amostrando, durante toda a edição, aquela pilha de dinheiro dos "aloprados", sem uma única palavra sobre o acidente, com cuja "manobra" jornalística, a Globo provavelmente conseguiu um segundo turno das eleições presidenciais.

4. Terceiro, você assistirá a reportagens alguma coisa entre selecionadas e montadas, como quando a Globo, por exemplo, em casos de reportagens-denúncia, cita ostensivamente nomes de partidos da base do governo, quando são eles os envolvidos, e, quase nunca, muito raramente, quando se trata de políticos de partidos aliados à emissora (PSDB e DEM, por exemplo). Falo da Globo, por ser ela, dentre as TV abertas, a mais descaradamente anti-trabalhista e anti-popular, capaz de aliar-se às forças mais reacionárias e retrógradas da política nacional - o que não significa que as demais emissoras, ainda que em menor nível, não pratiquem as mesmas infâmias televisivas.

5. Com essa prática de assim tratar a "notícia", a informação, cria-se a ilusão de que a realidade é virtual, que ela equivale àquilo que dela se diz, independentemente de sua própria substância histórica. A verdade televisiva é um efeito esquizo-político, cada vez mais distante da realidade.

6. Nos últimos meses, todavia, tem-se, felizmente, se constituído uma rede de blogs e páginas na Internet que têm funcionado como uma verdadeira fonte de informações e contra-informações. Por meio dela, você pode informar-se em tempo real, checar as informações em segundos, inteirar-se da ideologia de manifestação de determinada notícia, referenciá-la em relação ao histórico dos envolvidos, averiguar a ficha corrida do informante-jornalista - enfim, você controla a notícia, em lugar de ser controlado por "ela". Viva a nova era da notícia! Viva a nova era da informação! E, certamente, não é a nenhum desses tipos de pós-modernidade fantasmática e midiática que dou vivas, mas ao retorno do controle da informação por parte da sociedade (cf. Ivan Lessa, Informatices, na página da BBC Brasil).

7. Está chegando o fim das grandes redes de notícias televisadas e radializadas, não interativas, potencialmente manipuladoras. Os jornais, corre à larga na Internet, têm já os dias contados. Nos EUA, já começou a falência de grandes jornais. Os próximos serão os telefornais da TV. Ou readquirem credibilidade, ou se transformarão no primeiro lixo midiático do século XXI - quer dizer, na prática, indo para o aterro sanitário, deixando de ser jogado dia a dia na casa de cada brasileiro e brasileira.

8. Banda larga, vinde rápido!


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

PS. depois de ter escrito o post acima, eis o que foi postado, hoje, na página do Nassif: "olha que jóia encontrei no Youtube. É o trabalho realizado pelos alunos de uma escola estadual em Jacarezinho, Paraná. Entendem perfeitamente como os recursos da edição são utilizados para a manipulação da informação. Gravaram o trabalho em vídeo e colocaram no Youtube. E são secundaristas da rede estadual, perfeitamente integrados na dinâmica digital e na guerrilha da Internet".


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