sábado, 21 de março de 2009

(2009/097) De goleiros e penalidades máximas


1. Estava pensando, agora, sobre minha atitude antes mesmo de ler o artigo de Eugenio Trías, Pensar a Religião - o símbolo e o sagrado, em Jacques Derrida e Gianni Vattimo, Religião - o seminário de Capri, p. 109-124: eu já "sabia" (quer dizer, "antecipava") o que ele ia dizer, que ia desancar o XIX, condenar todos os "heróis" da suspeita, sim, e da lucidez, viva!, enfiá-los na masmorra do sofisma e lá deixá-los à putrefação da memória interditada. Virou moda bater no XIX, efeito vingativo do "retorno da religião"...

2. Aí fiquei pensando que essa minha atitude tem certa consistência, certo padrão: a "ideologia" do articulista já me antecipa, e eu aposto na antecipação, o conteúdo de seus argumentos, de seu discurso, se ele será, digamos assim, a favor ou contra o uso de preservativos. Confesso: diante da Tradição, nunca espero nada de muito lúcido. Pelo contrário, fecho a guarda e protejo o queixo, além de virar um pouco o qadril para proteger-me dos golpes abaixo da cintura.

3. É mais ou menos como os goleiros diante de uma penalidade máxima. Às vezes, é mais negócio antecipar para que lado o batedor vai chutar e, antes de a direção da bola manifestar-se, saltar para o vazio - há excelentes chances de, lá, no vazio antecipado, estar a bola, no futuro propício... Às vezes, contudo, a bola entra é do outro lado, e a cena chega a ser bem constrangedora.

4. Pois bem, devo dizer que, até agora, não errei uma - todas as antecipações do "canto" que fiz estavam certas - a Tradição é de todo previsível. Diante do XIX ela só pode ter uma atitude: a pior possível... É bastante fácil ser goleiro na minha profissão...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

PS(1). "bom" batedor foi o Ênio R. Mueller (A teologia e seu estatuto teórico: contribuições para uma discussão atual na universidade brasileira, Estudos Teológicos, v. 47, n. 2, 2007, p. 88-103). Ele quase me "enganou", com sua "paradinha". Mas o leitor pode lá conferir no videotape (minha resenha), como, no meio do salto, ainda percebi que a bola era enganadora, e que faria uma curva - e, felizmente, bem a tempo de eu curvar o corpo e catar a redonda...

PS(2). o que mais podia ter surpreendido o leitor, mas não a mim, foi o chute de Tillich, e ele nem sabia que seria o último de sua vida (aqui).

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