1. Seja lido: "A pós-modernidade, independente do fato de ser entendida como crise da modernidade ou sua negação, trouxe de volta ao cenário da história as práticas religiosas" (Antonio Manzatto, "A Teologia na Universidade", Revista Eletrônica, disponível aqui).
2. Da conclusão do artigo desde onde extraiu-se a citação, faz-se constar: "na universidade, sobretudo na universidade católica, existe espaço e lugar para a elaboração teológica que respeite ao mesmo tempo a racionalidade científica, as exigências epistemológicas que lhe são próprias e a fidelidade à sua profissão de fé". Bem, diante dessa afirmação, não tenho dúvidas em classificar o esforço como político. A teologia pode, conquanto sua condição de racionalização da fé, movimentar-se na Universidade, ainda que a regra epistemológica, aí, seja científIca (para o que, necessariamente, a fé é, metodologicamente, imprestável).
3. Retorno, no entanto, à citação de entrada. "A pós-modernidade (...) trouxe de volta (...) as práticas religiosas". O quê? "As práticas religiosas" haviam desaparecido "do cenário da história"? Nossa! E eu nem vi...
4. Ora, não há qualquer possibilidade de a essa afirmação haver uma correspondência na realidade, na história. Em nenhum sentido real, histórico e cultural, "as práticas religiosas" desapareceram do cenário da história com e durante o advento da Modernidade. É falso o pressuposto. Durante a vigência da Modernidade, não apenas mantiveram-se as práticas antigas, mas até inventaram-se novas - umbanda e kardecismo, por exemplo, criados em plena vigência "juvenil" da Modernidade, aliás, até, em plena incipiência do "diálogo" positivasta entre a França e a Universidade brasileira!
5. Nessa mesma Modernidade, coincidindo com a criação da umbanda e do kardecismo, os cristianismos evangélicos (estadunidenses) inundaram o Brasil, sob a tutela de missionários maçônicos!, mais uma vez negando a tese - equivocada - de que a Modernidade suprimiu as práticas religiosas, o que se deveria ter em conta como certo, uma vez que a "pós-modernidade" as teria, então, trazido de volta...
6. Fiquemos na citação, então, e em sua função político-retórica. No fundo, o termo "pós-modernidade", aí, funciona como um interdito retórico. Serve como um condão, uma operação mágica, para superar a plataforma epistemológica da Modernidade - a crítica epistemológica - e postular a "normalidade", a "naturalidade" da teologia, porque, afinal, não estamos mais na Modernidade, e o que lá se aprendeu não era nada senão uma constirpação dos instintos, uma alergia ao mofo do medievo, mas, agora, com os dissipadores de mofo, podemos voltar àqueles dias em que a lógica era uma mercadoria política, escrita em madrepérola...
7. Não, não é verdade que a Modernidade acabou com as práticas religiosas. A Modernidade tão-somente as colocou em seu nicho ecológico próprio - mito e rito, estética e política. O que se quer com a subversão da Modernidade e a introdução de um limbo caótico pós-moderno é criar uma tal dissolução das normas de reflexão que qualquer coisa tenha validade, inclusive a teologia, e que ela possa, então, sentar-se, sem vergonha, à mesa das ciências, tendo, primeiro, transformado as ciências num espectro subjetivista e idiossincrático anacrônico e fóssil, "moderno", em face da pós-modernidade.
8. É lamentável. Profundamente lamentável. Não se reflete criticamente a condição da própria teologia. Buscam-se modos de a legitimar, nem que, para isso, a realidade seja deturpada, e os critérios de reflexão crítica, dissolvidos. O "negócio" aí é dar uma sobrevida à "teologia política", à "teologia como fé gerida pela norma", o negócio aí é ser paciente, muito paciente, que, mais cedo ou mais tarde, a "onda" universitária, moderna, crítica, passa, e a teologia, aquela mesma do barroco, do gótico, do vermelho e do dourado, assume, de novo, o poder. A teologia prática da Igreja trabalha, hoje, a política arte da paciência - a arte da aranha...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Da conclusão do artigo desde onde extraiu-se a citação, faz-se constar: "na universidade, sobretudo na universidade católica, existe espaço e lugar para a elaboração teológica que respeite ao mesmo tempo a racionalidade científica, as exigências epistemológicas que lhe são próprias e a fidelidade à sua profissão de fé". Bem, diante dessa afirmação, não tenho dúvidas em classificar o esforço como político. A teologia pode, conquanto sua condição de racionalização da fé, movimentar-se na Universidade, ainda que a regra epistemológica, aí, seja científIca (para o que, necessariamente, a fé é, metodologicamente, imprestável).
3. Retorno, no entanto, à citação de entrada. "A pós-modernidade (...) trouxe de volta (...) as práticas religiosas". O quê? "As práticas religiosas" haviam desaparecido "do cenário da história"? Nossa! E eu nem vi...
4. Ora, não há qualquer possibilidade de a essa afirmação haver uma correspondência na realidade, na história. Em nenhum sentido real, histórico e cultural, "as práticas religiosas" desapareceram do cenário da história com e durante o advento da Modernidade. É falso o pressuposto. Durante a vigência da Modernidade, não apenas mantiveram-se as práticas antigas, mas até inventaram-se novas - umbanda e kardecismo, por exemplo, criados em plena vigência "juvenil" da Modernidade, aliás, até, em plena incipiência do "diálogo" positivasta entre a França e a Universidade brasileira!
5. Nessa mesma Modernidade, coincidindo com a criação da umbanda e do kardecismo, os cristianismos evangélicos (estadunidenses) inundaram o Brasil, sob a tutela de missionários maçônicos!, mais uma vez negando a tese - equivocada - de que a Modernidade suprimiu as práticas religiosas, o que se deveria ter em conta como certo, uma vez que a "pós-modernidade" as teria, então, trazido de volta...
6. Fiquemos na citação, então, e em sua função político-retórica. No fundo, o termo "pós-modernidade", aí, funciona como um interdito retórico. Serve como um condão, uma operação mágica, para superar a plataforma epistemológica da Modernidade - a crítica epistemológica - e postular a "normalidade", a "naturalidade" da teologia, porque, afinal, não estamos mais na Modernidade, e o que lá se aprendeu não era nada senão uma constirpação dos instintos, uma alergia ao mofo do medievo, mas, agora, com os dissipadores de mofo, podemos voltar àqueles dias em que a lógica era uma mercadoria política, escrita em madrepérola...
7. Não, não é verdade que a Modernidade acabou com as práticas religiosas. A Modernidade tão-somente as colocou em seu nicho ecológico próprio - mito e rito, estética e política. O que se quer com a subversão da Modernidade e a introdução de um limbo caótico pós-moderno é criar uma tal dissolução das normas de reflexão que qualquer coisa tenha validade, inclusive a teologia, e que ela possa, então, sentar-se, sem vergonha, à mesa das ciências, tendo, primeiro, transformado as ciências num espectro subjetivista e idiossincrático anacrônico e fóssil, "moderno", em face da pós-modernidade.
8. É lamentável. Profundamente lamentável. Não se reflete criticamente a condição da própria teologia. Buscam-se modos de a legitimar, nem que, para isso, a realidade seja deturpada, e os critérios de reflexão crítica, dissolvidos. O "negócio" aí é dar uma sobrevida à "teologia política", à "teologia como fé gerida pela norma", o negócio aí é ser paciente, muito paciente, que, mais cedo ou mais tarde, a "onda" universitária, moderna, crítica, passa, e a teologia, aquela mesma do barroco, do gótico, do vermelho e do dourado, assume, de novo, o poder. A teologia prática da Igreja trabalha, hoje, a política arte da paciência - a arte da aranha...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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