1. Ando meio sumido. Tarefas demais têm absorvido praticamente a totalidade do meu tempo. São tarefas que exigem a escrita, a concentração. E são temas diversos. Aí, quando dou por mim, Osvaldo já 'andou' dezenas de postagens. Por isso, trato agora de aproveitar uns minutos na 'janela' entre uma aula e outra para escrever umas linhas e, assim, continuar caminhando neste blog.
2. Hoje foi uma experiência boa na aula de hermenêutica aqui na pós em ciências da religião. O tema que propus foi um passo gigantesco em termos cronológicos e históricos. Queria cobrir o período do Humanismo até o Romantismo. Claro que aí há tantas questões históricas, minúcias, detalhes. Porém, a mim me interessava marcar bem a tese de fundo: os humanistas levantaram corajosamente o questionamento à autoridade por trás dos textos, fontes ou documentos. Emblemático aí são Lorenzo Valla com sua afirmação de que o documento da doação de terras à igreja por Constantino estaria eivado de erros e falsidades. Também Erasmo com sua edição crítica do Novo Testamento em grego contribuiu para colocar em xeque a autoridade por trás do texto oficial da cristandade medieval, que era sabidamente a Vulgata, claro, em latim. Lutero e outros também foram por estas sendas, corajosamente. Isso não se poder. Claro, o que veio depois foi a readequação de relações habituais.
3. O que retrojetou os avanços humanistas rumo à medievalidade foram as reações tanto romano, via Concílio de Trento, quanto a ortodoxia protestante, que não soube responder de outra forma do que com a fidelidade ao dogma. Nas hostes judaicas, o recrudescimento tambem foi similar; o caso Spinoza versus sinagoga mostra bem a questão.
4. O idealismo e racionalismo kantiano ajudaram a situar a racionalidade no plano das discussões. Mas foram os românticos que redescobriram essa veia subjetiva da criação e da recriação, também no processo interpretativo. Neste sentido, Schleiermacher com sua tese da congenialidade ou dos conhecimentos histórico-gramaticais constitui um marco fundamental, embora em termos teológicos muitas das suas posições estão alinhadas com as decisões dogmáticas tradicionais.
5. Schleiermacher e, depois dele, Dilthey ajudaram a formular um postulado fundamental no campo da teoria hermenêutica: a intentio auctoris.
6. Assim, o largo passo do Humanismo até o Romantismo é este: do questionamento da autoridade por trás do texto rumo à descoberta da intenção do autor. Com isso os românticos situaram o autor em termos históricos, perguntando por sua linguagem, seu contexto, suas intencionalidades, suas sensibilidades, etc. Com isso a autoridade por trás do texto, como garantidor de suas verdades e como fundamento de estruturas sociais baseadas em autoridade perderam sua sustentação. A discussão foi trazida ao chão da história. Dos céus o olhar baixou para a terra.
7. Para quem lida, neste campo, com interpretação de textos de quilates distintos, é importante perceber esta dimensão do condicionamento histórico de determinados postulados hermenêuticos. Assim, por exemplo, as teses sobre a inerrância, autoridade e infalibilidade do texto bíblico, que ainda têm tanta recepção no mundo evangélico atual, emergem num momento em que o protestantismo se autocatapulta rumo à medievalidade. A situacionalidade pode ser entendida, compreendida, mas não deveria ser eternizada sob qualquer manto dogmático.
HAROLDO REIMER
2. Hoje foi uma experiência boa na aula de hermenêutica aqui na pós em ciências da religião. O tema que propus foi um passo gigantesco em termos cronológicos e históricos. Queria cobrir o período do Humanismo até o Romantismo. Claro que aí há tantas questões históricas, minúcias, detalhes. Porém, a mim me interessava marcar bem a tese de fundo: os humanistas levantaram corajosamente o questionamento à autoridade por trás dos textos, fontes ou documentos. Emblemático aí são Lorenzo Valla com sua afirmação de que o documento da doação de terras à igreja por Constantino estaria eivado de erros e falsidades. Também Erasmo com sua edição crítica do Novo Testamento em grego contribuiu para colocar em xeque a autoridade por trás do texto oficial da cristandade medieval, que era sabidamente a Vulgata, claro, em latim. Lutero e outros também foram por estas sendas, corajosamente. Isso não se poder. Claro, o que veio depois foi a readequação de relações habituais.
3. O que retrojetou os avanços humanistas rumo à medievalidade foram as reações tanto romano, via Concílio de Trento, quanto a ortodoxia protestante, que não soube responder de outra forma do que com a fidelidade ao dogma. Nas hostes judaicas, o recrudescimento tambem foi similar; o caso Spinoza versus sinagoga mostra bem a questão.
4. O idealismo e racionalismo kantiano ajudaram a situar a racionalidade no plano das discussões. Mas foram os românticos que redescobriram essa veia subjetiva da criação e da recriação, também no processo interpretativo. Neste sentido, Schleiermacher com sua tese da congenialidade ou dos conhecimentos histórico-gramaticais constitui um marco fundamental, embora em termos teológicos muitas das suas posições estão alinhadas com as decisões dogmáticas tradicionais.
5. Schleiermacher e, depois dele, Dilthey ajudaram a formular um postulado fundamental no campo da teoria hermenêutica: a intentio auctoris.
6. Assim, o largo passo do Humanismo até o Romantismo é este: do questionamento da autoridade por trás do texto rumo à descoberta da intenção do autor. Com isso os românticos situaram o autor em termos históricos, perguntando por sua linguagem, seu contexto, suas intencionalidades, suas sensibilidades, etc. Com isso a autoridade por trás do texto, como garantidor de suas verdades e como fundamento de estruturas sociais baseadas em autoridade perderam sua sustentação. A discussão foi trazida ao chão da história. Dos céus o olhar baixou para a terra.
7. Para quem lida, neste campo, com interpretação de textos de quilates distintos, é importante perceber esta dimensão do condicionamento histórico de determinados postulados hermenêuticos. Assim, por exemplo, as teses sobre a inerrância, autoridade e infalibilidade do texto bíblico, que ainda têm tanta recepção no mundo evangélico atual, emergem num momento em que o protestantismo se autocatapulta rumo à medievalidade. A situacionalidade pode ser entendida, compreendida, mas não deveria ser eternizada sob qualquer manto dogmático.
HAROLDO REIMER
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