1. "Acabei" de descobrir István Mészarós. Se algum dia ouvira falar dele - não me parece ter sido o caso -, pequei em não tê-lo lido antes. Estupendo! Encontreio-o por meio de uma referência em um artigo de um blog - o TerraMagazine, creio. O teor do artigo sequer lembro, mas Meszárós passará a fazer parte de meus autores de cabeceira - certamente.
2. É cuirosa uma série de aproximações entre Meszárós e minhas leituras prediletas. Morin é um marxiano de fina estirpe - a rigor, alguém que vai além de Marx, mas sem recalcar o fundamental do pensamento marxiano. Georges Politzer é outro marxiano que tenho lido - muito interessante, escreveu em plena França ocupada pelos nazistas, e não conteve a marreta crítica com que destroçava, ponto a ponto, os discursos político-mítico-ideológicos da situação. Domenico Losurdo é outro que se poderia incluir na lista, mas ainda devo ler obras densas suas, para ter certeza. Algo me diz que sim. De Morin, sugeriria, nesse sentido, Para Sair do Século XX, onde apresenta suas razões quanto às críticas à concretização histórica do marxismo, sem, contudo, rechaçar as teses fundamentais do opensamento marxiano. De Politzer, li e recomendo A Filosofia e os Mitos, onde discute a idealização da filosofia, bem como a retórica mítica da ocupação nazista na Europa.
3. O primeiro livro de Meszárós que leio é A Teoria da Alienção em Marx. Mészarós diz de Marx o que tenho dito de Morin: "ele é um gênio" - e isso quando ainda tinha vinte e seis anos... Tenho me deliciado. Sem considerar o mérito do conteúdo, já que compararei seu modo de escrever e o meu, chamaran-me a atenção três particularidades que também as tenho, já comentadas tanto por amigos quanto por "desamigos". Primeiro, o uso intenso de aspas. Mészaros usa aspas. Muitas. E, até onde posso perceber, pela mesma razão que eu - ele usa os termos que critica, e, como não os considera na pretensa acepção, que critica, faz uso deles, pondo-os entre aspas, para que eu, leitor, saiba que ele se refere ao uso que critica, mas que não o endossa. Trata-se de uma maneira de comunicar-se bastante fácil de ser compreendida. O fato de eu ter sido criticado recentemente, e ter sido orientado a corrigir nesse sentido o artigo proposto para publicação, quer-me parecer revela uma certa dificuldade em se sair do comum, e uma ainda maior dificuldade em se perceber que as palavras não possuem sentido ontológico, mas, tão somente, aquele que se dá a elas, aqui e agora. Continuarei, pois, a usar as aspas.
4. Outra característica de Mészarós é o uso de travessão como se fossem vírgulas. Haroldo já comentou isso quanto a meus textos - penso que foi na análise de minha Tese de Doutorado. Não foi um comentário desfavorável. Foi uma observação, como se essa minha idiossincrasia fosse uma característica (apenas) minha. Bem, não é. Mészarós serve-se de interlocuções inseridas na oração por meio de travessões - como esses que acabo de usar -, da mesma forma como venho fazendo há algum tempo. Todavia, parece que estou longe da maestria com que Mészarós recorre ao instrumento. O uso que deles faço, mas isso é proposital, interrompe o fluxo do discurso, e, algumas vezes, mais do que o tolerável, eventualmente, o leitor deve recuperar o encadeamento do raciocínio suspenso antes do travessão. Mészarós exige bem menos do leitor.
5. A maior semelhança, contudo, que encontrei, até agora, é o fato de Mészarós caminhar analisando detidamente a(s) obra(s) a que faz referência, empregando, nessa análise, uma rotina muito parecida com a que gosto de usar. Primeiro, antecipa a tese do autor que quer criticar - e, como recupera a história do termo "alienação" antes de seu uso em Marx, há muito que criticar. Em seguida, cita o parágrafo onde está inserida a tese que será criticada. Incontinenti, segue-se a crítica de Mészarós. Ao cabo, o modo como se cogita da superação da insuficiência ou do equívoco da tese criticada. Muito interessante. Mészarós, assim, permite-me não apenas ter acesso à sua própria tese, mas a acompanhar, metodologicamente, sua reflexão crítica quanto à tese que pretende criticar e superar. Perfeito. Um modelo. Nos três casos, um exemplo para eu aprimorar minha própria técnica, que, adespeito de ser (quase) idêntica, percebe-se ainda muito imperfeita. Mészarós é mestre...
6. Penso que depois de ler A Teoria da Alienação em Marx estarei mais maduro. E, nesse caso, também por conta do conteúdo fenomenal do livro.
7. Marx, Marx, por que caminhos me levas?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. É cuirosa uma série de aproximações entre Meszárós e minhas leituras prediletas. Morin é um marxiano de fina estirpe - a rigor, alguém que vai além de Marx, mas sem recalcar o fundamental do pensamento marxiano. Georges Politzer é outro marxiano que tenho lido - muito interessante, escreveu em plena França ocupada pelos nazistas, e não conteve a marreta crítica com que destroçava, ponto a ponto, os discursos político-mítico-ideológicos da situação. Domenico Losurdo é outro que se poderia incluir na lista, mas ainda devo ler obras densas suas, para ter certeza. Algo me diz que sim. De Morin, sugeriria, nesse sentido, Para Sair do Século XX, onde apresenta suas razões quanto às críticas à concretização histórica do marxismo, sem, contudo, rechaçar as teses fundamentais do opensamento marxiano. De Politzer, li e recomendo A Filosofia e os Mitos, onde discute a idealização da filosofia, bem como a retórica mítica da ocupação nazista na Europa.
3. O primeiro livro de Meszárós que leio é A Teoria da Alienção em Marx. Mészarós diz de Marx o que tenho dito de Morin: "ele é um gênio" - e isso quando ainda tinha vinte e seis anos... Tenho me deliciado. Sem considerar o mérito do conteúdo, já que compararei seu modo de escrever e o meu, chamaran-me a atenção três particularidades que também as tenho, já comentadas tanto por amigos quanto por "desamigos". Primeiro, o uso intenso de aspas. Mészaros usa aspas. Muitas. E, até onde posso perceber, pela mesma razão que eu - ele usa os termos que critica, e, como não os considera na pretensa acepção, que critica, faz uso deles, pondo-os entre aspas, para que eu, leitor, saiba que ele se refere ao uso que critica, mas que não o endossa. Trata-se de uma maneira de comunicar-se bastante fácil de ser compreendida. O fato de eu ter sido criticado recentemente, e ter sido orientado a corrigir nesse sentido o artigo proposto para publicação, quer-me parecer revela uma certa dificuldade em se sair do comum, e uma ainda maior dificuldade em se perceber que as palavras não possuem sentido ontológico, mas, tão somente, aquele que se dá a elas, aqui e agora. Continuarei, pois, a usar as aspas.
4. Outra característica de Mészarós é o uso de travessão como se fossem vírgulas. Haroldo já comentou isso quanto a meus textos - penso que foi na análise de minha Tese de Doutorado. Não foi um comentário desfavorável. Foi uma observação, como se essa minha idiossincrasia fosse uma característica (apenas) minha. Bem, não é. Mészarós serve-se de interlocuções inseridas na oração por meio de travessões - como esses que acabo de usar -, da mesma forma como venho fazendo há algum tempo. Todavia, parece que estou longe da maestria com que Mészarós recorre ao instrumento. O uso que deles faço, mas isso é proposital, interrompe o fluxo do discurso, e, algumas vezes, mais do que o tolerável, eventualmente, o leitor deve recuperar o encadeamento do raciocínio suspenso antes do travessão. Mészarós exige bem menos do leitor.
5. A maior semelhança, contudo, que encontrei, até agora, é o fato de Mészarós caminhar analisando detidamente a(s) obra(s) a que faz referência, empregando, nessa análise, uma rotina muito parecida com a que gosto de usar. Primeiro, antecipa a tese do autor que quer criticar - e, como recupera a história do termo "alienação" antes de seu uso em Marx, há muito que criticar. Em seguida, cita o parágrafo onde está inserida a tese que será criticada. Incontinenti, segue-se a crítica de Mészarós. Ao cabo, o modo como se cogita da superação da insuficiência ou do equívoco da tese criticada. Muito interessante. Mészarós, assim, permite-me não apenas ter acesso à sua própria tese, mas a acompanhar, metodologicamente, sua reflexão crítica quanto à tese que pretende criticar e superar. Perfeito. Um modelo. Nos três casos, um exemplo para eu aprimorar minha própria técnica, que, adespeito de ser (quase) idêntica, percebe-se ainda muito imperfeita. Mészarós é mestre...
6. Penso que depois de ler A Teoria da Alienação em Marx estarei mais maduro. E, nesse caso, também por conta do conteúdo fenomenal do livro.
7. Marx, Marx, por que caminhos me levas?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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