1. Bem que eu suspeitava - sim, desde há muito, desde as primeiras vezes que li e ouvi discursos inflamados a respeito da "pós-modernidade" (confesso, e sem rubor, para o bem ou para o mal, o futuro dirá, que não me filio, nem no mínimo, a uma tal "pós-modernidade": para mim, pura retórica, logo, política...). Vejam o que acabei de ler, escrito por volta de 1933, por ninguém menos do que Ortega y Gasset:
1.1 "O homem moderno é em sua raiz revolucionário. E vice-versa, enquanto o homem seja revolucionário não é mais que homem moderno, não superou a modernidade" (Ortega y Gasset, Em Torno a Galileu - esquema das crises, Petrópolis: Vozes, 1989, p. 169-170).
2. Aí está. É meu caráter de absoluta intransigência diante da heteronomia imposta (a mim - porque cada um cuide de si [malgrado me doa a alma, até a tristeza e a náusea, o que se faz "evangelicamente", hoje, sem constrangimentos, na TV, essa patifaria religiosa, crime contra a humanidade]) que não me deixa suportar, minimamente, a defesa da "tradição" (com minúscula e maiúscula - com minúscula, porque ela é nada mais do que meio, e com maiúscula, porque ela é violência). Sinto cheiro desse discurso, pronto, minha alma fica aborrecida - sim, sim, reconheço, um aborrecimento burguês, que é o que me resta, mas um aborrecimento de querer sair de perto. Minha revolução é fazer-me eu mesmo, com os cacos que escolho, esse, aquele, aquele, não.
3. Entendo bem, agora, porque não suporto, em sentido técnico, o discurso de Vattimo e sua defesa da "tradição" ocidental-cristã; o discurso de Gadamer sobre a "tradição"; o discurso vattimaniano e gadameriano de uma boa leva de teólogos "encantados" com a possibilidade de manter tudo como está, sem, contudo, precisar chamar isso que aí está pelo nome que realmente tem - e isso desde que é o que é, e faz tempo...
4. Nesse sentido, sou profundamente marxista - intolerância, patológica intolerância, à demagogia a serviço da "tradição". Nesse sentido, sou revolucionário - não me adaptarei ao discurso do "meio", passarei por cima, contornarei, jogarei no lixo, porei uma pedra em cima, rirei dele, desprezarei, denunciarei, farei qualquer coisa - exceto uma: tolerá-lo, como se ele não fosse, afinal, a defesa do status. Ao menos a "direita" o defende sem esconder seu gosto. Uma "esquerda" (teológica) difusa e sem "rosto", contudo, faz o mesmo, rigorosamente o mesmo, mas com ares "modernos" - modernos, não, agora sei por que: pós-moderno, porque o moderno é, necessariamente, revolucionário, transformador, iconoclasta, ao passo que a teologia que quer posar de "de esquerda" é, no frigir dos ovos, "tradicional": manter tudo como está: tudo, aí, entenda-se - as palavras mágicas, como aquelas de quartel, as imagens encantatórias, os gestos diretivos, as liturgias extasiantes, as doutrinas "adaptadas", as personagens fundadoras e traditivas, as "posições", se bem que sem os nomes, mas, a rigor, as posições, o "lá" e o "cá".
5. Tudo isso, caso você consiga fazer pasar pelo raio x, não difere nada, absolutamente nada, do que foi há dois mil anos, há mil, há cem. Mesmíssima coisa. E todavia, quer-se que se pense ser outra coisa, a coisa boa e certa, corrigida das "maldades" do passado, porque nós, ah nós aprendemos a verdadeira face do amor e da cristandade. Sei...
6. Sou moderno pela segunda vez. A primeira, contra meu amigo, sim, amigo, Nietzsche, que desgosta da modernidade na sua concretização do casamento por amor. Eu só consigo pensar em casamento por essa razão, conquanto compreenda que Maria case pela segurança e João, pelas facilidades. Agora, sou moderno porque, diferentemente de uma teologia comprometida com a tradição, eu quero é superá-la, ir embora, sair da água, ir para a terra, desenvolver olhos, pernas, andar nas duas patas, pôr olhos à frente, desenvolver polegar, arder de solidão. E, solidão nos termos em que esse mesmo Ortega y Gasset sabe dela: "minha vida é intransferível, que cada qual vive por si só - ou, o que é o mesmo, que vida é solidão, radical solidão" (idem, p. 73 - na sequëncias, desdobramentos sobre a socialização necessária [pulsional]).
7. Tchau, pós-modernidade astuta - também sobre ti, principalmente sobre ti, pisarei, enquanto caminho para não sei aonde, para fazer não sei o que...
Osvaldo Luiz Ribeiro
1.1 "O homem moderno é em sua raiz revolucionário. E vice-versa, enquanto o homem seja revolucionário não é mais que homem moderno, não superou a modernidade" (Ortega y Gasset, Em Torno a Galileu - esquema das crises, Petrópolis: Vozes, 1989, p. 169-170).
2. Aí está. É meu caráter de absoluta intransigência diante da heteronomia imposta (a mim - porque cada um cuide de si [malgrado me doa a alma, até a tristeza e a náusea, o que se faz "evangelicamente", hoje, sem constrangimentos, na TV, essa patifaria religiosa, crime contra a humanidade]) que não me deixa suportar, minimamente, a defesa da "tradição" (com minúscula e maiúscula - com minúscula, porque ela é nada mais do que meio, e com maiúscula, porque ela é violência). Sinto cheiro desse discurso, pronto, minha alma fica aborrecida - sim, sim, reconheço, um aborrecimento burguês, que é o que me resta, mas um aborrecimento de querer sair de perto. Minha revolução é fazer-me eu mesmo, com os cacos que escolho, esse, aquele, aquele, não.
3. Entendo bem, agora, porque não suporto, em sentido técnico, o discurso de Vattimo e sua defesa da "tradição" ocidental-cristã; o discurso de Gadamer sobre a "tradição"; o discurso vattimaniano e gadameriano de uma boa leva de teólogos "encantados" com a possibilidade de manter tudo como está, sem, contudo, precisar chamar isso que aí está pelo nome que realmente tem - e isso desde que é o que é, e faz tempo...
4. Nesse sentido, sou profundamente marxista - intolerância, patológica intolerância, à demagogia a serviço da "tradição". Nesse sentido, sou revolucionário - não me adaptarei ao discurso do "meio", passarei por cima, contornarei, jogarei no lixo, porei uma pedra em cima, rirei dele, desprezarei, denunciarei, farei qualquer coisa - exceto uma: tolerá-lo, como se ele não fosse, afinal, a defesa do status. Ao menos a "direita" o defende sem esconder seu gosto. Uma "esquerda" (teológica) difusa e sem "rosto", contudo, faz o mesmo, rigorosamente o mesmo, mas com ares "modernos" - modernos, não, agora sei por que: pós-moderno, porque o moderno é, necessariamente, revolucionário, transformador, iconoclasta, ao passo que a teologia que quer posar de "de esquerda" é, no frigir dos ovos, "tradicional": manter tudo como está: tudo, aí, entenda-se - as palavras mágicas, como aquelas de quartel, as imagens encantatórias, os gestos diretivos, as liturgias extasiantes, as doutrinas "adaptadas", as personagens fundadoras e traditivas, as "posições", se bem que sem os nomes, mas, a rigor, as posições, o "lá" e o "cá".
5. Tudo isso, caso você consiga fazer pasar pelo raio x, não difere nada, absolutamente nada, do que foi há dois mil anos, há mil, há cem. Mesmíssima coisa. E todavia, quer-se que se pense ser outra coisa, a coisa boa e certa, corrigida das "maldades" do passado, porque nós, ah nós aprendemos a verdadeira face do amor e da cristandade. Sei...
6. Sou moderno pela segunda vez. A primeira, contra meu amigo, sim, amigo, Nietzsche, que desgosta da modernidade na sua concretização do casamento por amor. Eu só consigo pensar em casamento por essa razão, conquanto compreenda que Maria case pela segurança e João, pelas facilidades. Agora, sou moderno porque, diferentemente de uma teologia comprometida com a tradição, eu quero é superá-la, ir embora, sair da água, ir para a terra, desenvolver olhos, pernas, andar nas duas patas, pôr olhos à frente, desenvolver polegar, arder de solidão. E, solidão nos termos em que esse mesmo Ortega y Gasset sabe dela: "minha vida é intransferível, que cada qual vive por si só - ou, o que é o mesmo, que vida é solidão, radical solidão" (idem, p. 73 - na sequëncias, desdobramentos sobre a socialização necessária [pulsional]).
7. Tchau, pós-modernidade astuta - também sobre ti, principalmente sobre ti, pisarei, enquanto caminho para não sei aonde, para fazer não sei o que...
Osvaldo Luiz Ribeiro
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