segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

(2020/001) Crença sem consciência de crença

1. Em tese, ser religioso não é necessariamente bom ou ruim. Isso significa que a religião, em si, não é nem boa nem ruim. A avaliação dependerá de uma série de fatores, nos limites do que está correto dizer que tudo depende de como se avaliam as coisas.

2. Avaliada desde a perspectiva da consciência do que é a religião em si, então sou forçado a dizer que a religião, necessariamente, constitui ou implica em deficiência cognitiva. O religioso - verdadeiramente religioso - é aquele que acha que a religião é o que a própria religião diz para ele que é. Nesse sentido, entram em cena conceitos como revelação, mundo após a morte, essas coisas "metafísicas" ou sobrenaturais que constituem, sem exceção, o conteúdo das religiões.

3. Nos termos epistemológicos propriamente modernos, a condição do sujeito que acredita que as coisas são como a religião diz que são e que avalia a própria religião nos termos em que ela mesma se apresenta experimenta uma existência tecnicamente alienada. Nesse sentido, religião é alienação.

4. Em termos modernos, considerando-se os valores cognitivos válidos para a experiência de autocompreensão, atrelados aos insumos cognitivos da Antropologia e das diversas ciências humanas, cá entre nós, o sujeito que acredita que a religião é o que a própria religião diz que é encontra-se totalmente alienado. Pode até ser uma boa pessoa, isso não tem nada a ver necessariamente com a discussão sobre a condição de alienação a que o religioso está vinculado. A questão é que ele acha que o que sente é produzido de um jeito, quando as ciências sabem que não é do jeito que ele acredita que é. Nós sabemos por que um religioso se emociona no culto. Já ele, acha que é por outra razão. Como eu disse, alienação.

5. Nesse sentido, não é necessário que a religião leve esse sujeito a cometer atrocidades éticas para que seu estado seja considerado negativo. Em termos epistemológicos, a alienação é um obstáculo à maturidade. Para usar o conceito de um teólogo - pois é! - trata-se de um indivíduo em estado infantil. Não é um adulto. Ele conversa com amigos imaginários. Nenhum problema em conversar com amigos imaginários... Desde que se saiba que essa conversa é isso: uma conversa com amigos imaginários...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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