1. “Meu mundo é um mundo onde não há descanso, e, contudo, ele é puro descanso.” Suprema contradição aristotélica. Terceiro excluído. No entanto, coincidentia opositorum: o espaço da autonomia! É um lugar-tempo invejável esse do Osvaldo. É conquista, e é graça.
2. Para lá conduzem os caminhos da nua e crua busca heurística, a mais profunda consciência do método, do caminho por meio do qual chega-se a saber o que se sabe, pergunta-se, ainda que no silêncio, com base em que o interlocutor pode dizer o diz. “As percepções mais valiosas são alcançadas por último; mas as percepções mais valiosas são os métodos” (Nietzsche, O Anticristo, [Cia das Letras, 2008] p.18).
3. Este caminho é difícil para a teologia. Eu sei. Insisto comigo mesmo, e com os outros, que há que se ter, cada vez mais, clareza dos caminhos para a construção do saber ‘teológico’. Ele É sabedoria. É poesia. É estética. É política. Mas é também ‘saber’.
4. O caminho heurístico é difícil, pedregoso, talvez interditado, para a teologia. A estética e a política são caminhos paralelos àquele. O homo simbolicus continuará a ser o que é: isso. Vivemos das construções simbólicas. Representamos. Imaginamos. Lançamos as redes das palavras, que constroem mundos. Porém, devemos dar-nos conta disso. Devemos sempre lembrar que nós lançamos as redes. Ter consciência desse processo é descoberta; é construir um saber, porque se desvenda os caminhos. É andar nu. E temos nossos problemas com a nudez.
5. Com a rede a lançar ou lançada iniciado está a inserção no universo do político. Perceber, catalogar, analisar os resultados desta inserção é construção de saber. Trata-se de investigar os caminhos por meio dos quais as palavras provocam o que provocam: o movimento das pessoas. Na construção desse saber a teologia deve(ria) ter o seu lugar. É o discurso sistematizado sobre um patrimônio não material, a economia dos bens simbólicos.
6. A varanda dos descansos contraditórios em si é ponto de chegada do caminhante que insiste na autonomia. É vislumbre de liberdade. Mas desgosto de dizer que é o lugar do Übermensch nietzscheano. Porque neste ponto não há como negar Gadamer em seu tópico sobre a ‘história dos efeitos’. Pois por maior, e necessária, que seja a crítica à teia simbólica ocidental, o darwinismo de Nietzsche permitiu, ou deu causa, que sua busca de autonomia pudesse ser cooptada pelo maior fenômeno político da Europa central: o nazismo. As releituras, neste caso, da intentio lectoris, permitiram soluções políticas desastrosas. Basta ler: “O fato de as raças fortes da Europa do Norte não terem rechaçado o Deus cristão certamente não honra o seu talento religioso, para não falar do gosto. Elas tinham de acabar com um produto tão decrépito e doentio da décadence.” (O Anticristo, p.24). A intentio auctoris fluiu na releitura, e no uso. A crítica do uso político da teia simbólica redundou em ações políticas que “tinham que acabar” não só com a teia, mas também com os fazedores originais daquela teia.
7. Almejo a varanda do contraditório do descanso. Porque ele é autonomia. É liberdade. "Um senhor livre de tudo e de todos..." Mas cuido, ainda demais, do político. E por isso ainda não sou, ainda, livre. Almejo. Vejo.
HAROLDO REIMER
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