terça-feira, 2 de dezembro de 2008

(2008/83) Quem é esse Übermensch e o que ele faz na minha varanda?


1. Haroldo, Haroldo, tremi, agora, ao reler seu post (2008/61 - Reflexões a caminho), quando cheguei ao parágrafo 6. Perguntei-me o que estaria fazendo, ali, depois de um belíssimo - esteticamente belíssimo - comentário a respeito "do tempo-lugar do Osvaldo", o Übermensch de Nietzsche? O que, exatamente, desde a memória de Haroldo, ao tecer comentários sobre minha (suposta) liberdade, minha, sim, autonomia, minha aparente nudez, emendou os fios, uma ponta, o Übermensch, outra ponta, pobre de mim? Nietzsche está morto, e o que se fez dele, quanto a isso, não o podemos mais ouvir (pode-se, contudo, ler Losurdo!) - mas você usa um termo que tem história: o que você quis dizer com ele, que, aí, fez-se seu?

2. O curioso foi observar que essa "correlação" - um termo teológico famoso! - situa-se no vértice de uma série de declarações/afunilamentos que você, Haroldo, fez, em face daquele lugar-tempo. Enumero-os: "É um lugar-tempo invejável esse do Osvaldo. É conquista, e é graça" (§ 1). "Para lá conduzem os caminhos da nua e crua busca heurística" (§ 2) - observei o "para lá", sintaticamente distanciando-o do escritor da frase, ao que, também pareceu-me curioso, agora, faz-se seguir a citação de Nietzsche, como a lembrar que essa neurose (no sentido de fixação) metodológica tem paternidade...

3. "Este caminho é difícil para a teologia. Eu sei" (§ 3). Não era para ser, já que a Teologia diz amar a Verdade. Está bem, mas o é, já que a teologia é um sistema de informação fechado, que, na prática, ama a sua verdade, como desde Judas já se sabe, como desde Paulo já se conhece, posto que considerava anátema aqueles que pregassem evangelho diferente... do seu. Essa dificuldade da Teologia tem explicações psicológicas e históricas justificáveis. Todavia, talvez ela, sua afirmação, apenas preparasse, na alma, o caminho para o parágrafo seguinte: "O caminho heurístico é difícil, pedregoso, talvez interditado, para a teologia" (§ 4). A presença desse "talvez" é como aquele Übermench lá embaixo - pode significar mais de uma coisa, mas, a rigor, ali, significa só uma - mas qual? É talvez, pensando na Teologia tal qual ela é, coisa de teólogos, e sabendo-se quem são os teólogos? Ou é talvez no sentido de que o conteúdo da Teologia é caro demais para ver-se dissolvido por métodos desrespeitosos?

4. Finalmente, aquela declaração sua: "A varanda dos descansos contraditórios em si é ponto de chegada do caminhante que insiste na autonomia. É vislumbre de liberdade. Mas desgosto de dizer que é o lugar do Übermensch nietzscheano" (§ 6). Bem, se aquela varanda é o lugar-tempo em que você me colocou, e, bem, se agora põe, nela, o Übermensch, bem, das duas uma - ou me pões na compnhia dele, ou, eita!, faz-me ele!

5. E, aí, lendo o que você diz dele, entre intentio lectoris e intentio auctoris, amarrando nele uma pedra e o afundando no Mar Gadamer, só me resta interpretar que o "louvor da autonomia" preparava uma denúncia, uma advertência, uma admoestação: está-se próximo demais de Nietzsche e, assim, próximo demais do que foi feito com ele, eventualmente, por meio, até, de intenções "originais". Alertas-me, sobre meu caminho?, é isso?

6. Deixou-me pensativo. Muito. Essa segunda leitura foi-me experiencialmente nervosa, porque me fez brigar comigo mesmo (sou muitos, talvez uma casta!) todo o tempo, como a dizer, não, ele não disse, disse, sim, não, não disse, não, claro que disse, segue as pistas, tá, mas mesmo assim, não disse não, você é quem sabe, mas que está escrito, está. Tá, mas o que isso significa?


OSVALDO LUIZ RIBEIRO


PS. Haroldo, não é, ainda, minha resposta ao parágrafo seis, que merece algo mais refletido, e, agora, estando no Seminário, e não em casa, nao tenho, à mão, meu amigo. Mais tarde, contudo...

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