domingo, 14 de setembro de 2008

(2008/23) Provocando Jimmy


1. Jimmy, vou transcrevendo um parágrafo seu, e, à medida que o for citando, vou "provocando" você. O parágafo encontra-se em (2008/15) Sobre metáforas e teologias, § 6.

2. "Deixo cair no colo por um pouquinho de tempo meu martelinho nietzscheano e passo a contemplar a pluralidade de vozes que embalam uma nova sinfonia, agora não mais orquestrada pela força heterônoma da cristandade romana ou protestante". Bem, Jimmy, onde é que você encontra essa "pluralidade de vozes"? Não sendo ela, segundo você diz, orquestrada pela força heterônoma dos cristianismos, é-o por que forças? Ou ela, você acha, é "autônoma"? Se mesmo nas Universidades, nas Associações, ainda são os Cristianismos, na sua esmagadora maioria, que dão as cartas, riscam as lousas, traçam os mapas, onde você foi encontrar esse coro de "autonomia"? Você está seguro da "autonomia" dele?

3. "Não há mais uma grande narrativa. Há gritos, suspiros, dor, risos, de gente como eu". Hum... Está certo de que não? Em nenhuma igreja? Mesmo nas "alternativas"? A política mais engajada não elaborou suas metanarrativas, justamente porque pretendeu substituir a vigente, cristã, o que conseguiu, mas à custa de fazer(-se) religião, tanto quanto o Cristianismo? O problema são as metanarrativas ou o conteúdo delas? É possível viver sem metanarrativas? As comunidades cristãs alternativas superaram-nas? Autonomamente?

4. "E por eles me deixo inspirar, num diálogo que nasce das minhas metáforas com suas metáforas, dos meus murmúrios com seus murmúrios". "Minhas metáforas" - "as metáforas deles". Será, Jimmy, que "eles" lidam com sua(s próprias) metanarrativa(s) "metafórica(s)" conscientes de que se trata(m) de "metáfora(s)"? Mesmo a sua, você está ineludivelmente, iniludivelmente certo de tratar-se de "metáfora"? Mais - o que é, de fato, "metáfora"? Quero dizer, nesse "jogo" da religião entre desiguais? É possível manter uma comunidade cristã, nos moldes atuais, confessando a elas que, seja o nosso, seja o dela, todo discurso "religioso" é mera metáfora? A metáfora, nesse caso, é um conceito para dentro da comunidade ou para fora dela? Quem, de fato, é o interlocutor desse termo programático?

5. "É porque amo a Igreja, que até onde eu saiba, não é nenhuma grande Catedral, sendo composta por essas vozes simples, que amam, gemem e choram. Por amá-la tanto, sinto-me irremediavelmente atrelado a ela, e me junto aos murmúrios dos que oram diante do altar, que agora está vazio, pois os ídolos foram definitivamente colocados abaixo. Como já disse muito bem Tillich: 'o protesto é uma forma de comunhão'". Mais uma vez, você me quer fazer crer que "essas vozes simples" têm conciência de que oram diante de um "altar, que agora está vazio, pois os ídolos foram definitivamente colocados abaixo". Pergunta um: essa gente simples sabe disso? Pergunta dois: foram, mesmo, postos abaixo? A gente simples, a sua, a das teologias "libertárias", não vai sendo, ainda, levada pela mão do Bom Deus? Foi-lhes informado de que se trata, isso aí, de uma "metáfora"? Ou, antes, como "é para o bem", está bem?

6. Minha cabeça está cheia de dúvidas. Dúvidas sobre a História (Ginzburg, eu o lia ontem, dizia que a História constrói-se metodologicamente com metonímias, mas, jamais, com metáforas). Dúvidas sobre o presente - essas, excruciantes: o que é que estou fazendo? Dúvidas sobre o futuro. Lançar-me num projeto "pastoral" ser-me-ia dificílimo - não saberia dar um passo, só, quanto mais afiançando a caminhada de "gente simples". Eu estaria enganado, Jimmy, se cresse que, mesmo para aqueles que se consideram "libertários", descendentes dos velhos e dos novos "profetas", a caminhada comunitária teológico-pastoral só é possível no arrebanhamento mítico não consciente?, e que, nesse caso, não se trata de uma diferença de método, mas, apenas - e isso segundo os "profetas" - de ética? Mas, e concluo, será ético manter o método? Eu não sei. Tendo a dizer não, mas corroem-me as dúvidas, os escrúpulos. Oxalá o mundo não precise de mim para dar um passo.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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